Nem todos nós temos a capacidade de conviver com a solidão da forma como o filósofo alemão Nietzsche convivia. Adorava passar longos momentos sozinho. Uma frase dele nos traz sua compreensão e a importância que dava a solidão: “Não me tires da solidão se não fores me oferecer boa companhia”. A verdade é que estamos na contramão do ditado popular que diz: “antes só que mal acompanhado”. Parece que preferimos uma má companhia à solidão. É verdade que há um lado solitário dentro de todos nós, que hora ou outra se manifesta, mas a solidão constante muitas vezes nos angustia. Mesmo Nietzsche que era apaixonado pela solidão, entendia que seus escritos iriam ser compartilhados no futuro e isso o alimentava.
O grande dilema do mundo moderno é a solidão daqueles que estão acompanhados, ou seja, a solidão não como ausência de companhia, mas como sentimento implacável mesmo quando desfrutamos a companhia de outras pessoas. Os grandes centros demonstram tal tendência: sujeitos rodeados de pessoas, porém, solitários. A tecnologia dá sua contribuição com, por exemplo, a Internet, que conecta as pessoas de todo o mundo e as deixa solitárias nas suas casas, apartamentos e escritórios.
A tendência dos relacionamentos demonstra a dificuldade de querer ver o outro e se deixar ver pelo outro. Preferimos manter sempre uma certa distância nos relacionamentos, pensando assim evitar o sofrimento. A consequência mais imediata é realmente evitar o sofrimento, oriundo de um relacionamento mal sucedido, mas, em longo prazo, a distância que mantemos das pessoas nos leva à solidão.
Todos nós, em algum momento da vida, já experimentamos a sensação de estarmos sozinhos, a sensação de desamparo quando precisamos de apoio, de ter um abraço ao dormir e perceber que abraçamos o travesseiro ou o próprio corpo. A solidão nos persegue nas noites em claro, nos ônibus em que com o olhar perdido na janela, não olhamos para lugar algum, nos passos lentos e cambaleantes que damos com a cabeça inclinada olhando os pés se moverem, na solidão do retorno à casa depois de um dia exaustivo de trabalho, na saudade de alguém que já se foi, no vazio de sentido da vida diante de uma tragédia que arrancou de nós um bem muito precioso.
A solidão está sempre entre um desejo ainda não atingido e a saudade de um momento que já se foi. O desejo ainda não atingido é o que almejamos, nossa busca. Achamos que a realização desse desejo tornará possível a saída da solidão, mas na verdade os desejos realizados são substituídos por outros, num movimento insaciável que nunca se contenta, mas nos projeta para o futuro, nos desconectando do presente e do passado. Assim, nem vivemos o presente, nem recordamos o passado. A saudade do que se foi nos faz experimentar a solidão de querer reviver o que não pode mais ser vivido, pois o tempo já o consumou. Assim, ficamos presos no passado que já não existe.
O segredo está em aceitar a solidão não como algo ruim, mas como possibilidade de conhecer o que quase não conhecemos, nós mesmos. A solidão nos permite olhar para dentro e encontrar boa companhia. Mas, muitas vezes, o que falta é um pouco de amor próprio para atentamente observar tudo em nós que nas relações vemos nos outros e fazemos deles algo fundamental, mas do que nós mesmos. Dessa forma, a solidão não é somente sofrimento, mas oportunidade de encontro com nosso próprio ser.