quarta-feira, 23 de junho de 2010

O Peso do Mundo

Existe uma tendência feminina de chamar para si o peso e a responsabilidade, não apenas das suas práticas, mas, sobretudo, das práticas dos outros. Nisso, o feminismo ainda não pôde dar respostas, pois o feminismo é um movimento político e não faz introspeções, não avalia as implicações internas da cultura na vida das mulheres. O feminismo é um basta a tudo o que a mulher sofre, mas o sofrimento só é superado na luta.

Do ponto de vista psicológico, existem motivos que fazem com que a mulher permita ser usada como coluna que sustenta a fragilidade masculina não assumida e a fragmentação da estrutura familiar. A mulher carrega o peso do mundo e, por fim, sem merecer, se pune e se considera ela mesma um peso no mundo.

Não são poucas as mulheres que no divã dividem com o terapeuta o peso da responsabilidade que lhes é outorgada injustamente. A mulher conseguiu a independência financeira por trabalhar fora de casa e, ao mesmo tempo, teve que lidar com a dupla jornada de trabalho: o trabalho fora de casa e o trabalho com a casa e os filhos. Ela pôde escolher o parceiro pela segunda vez, rompendo com o casamento quando não lhe agrada e em consequência teve que cuidar dos filhos, cabendo ao homem a pensão, não a responsabilidade e o cuidado.

Apesar de toda a insegurança que tem, faz escolhas e decide coisas que os homens se negam a fazer. Deixa de olhar para si e passa a olhar para os cuidados da casa, dos filhos, da profissão, do marido, do ex-marido, do atual namorado, da mãe e de seu pai. Cuidar! Essa é a palavra que a define. Cuidar de todos menos dela mesma.

O processo terapêutico visa devolver a mulher sua dignidade, sua tranquilidade, seu amor próprio, sua felicidade. Parece que, com raras exceções, a mulher encontra no divã o canal aberto para despejar todo o peso que carrega sem poder. Deveríamos construir mais canais de despejo das amarguras do mundo que habita o universo feminino. Acima de tudo, deveríamos aprender a dividir com ela o peso das responsabilidades.

Freud acertou ao ver a mulher desenvolvendo quadros de histeria. Como não seria assim? A mulher, de alguma forma tem que encontrar uma válvula de escape para suas incapacidades de lidar com o peso que lhe obrigam a carregar.