O Nascimento de Cristo, na tradição religiosa ocidental, encerra uma contagem de datas e inaugura outra. Obviamente que estou me deixando levar por uma reflexão nada científica, pois caso fosse científica, questionaria a exatidão desta data em que se comemora o nascimento de Cristo. Mas almejo algo diferente com este texto, algo que podemos aprender com a religião cristã.
A conversão ao cristianismo se dá na seguinte perspectiva: deixar para trás a vida que se viveu e começar uma vida nova, ou seja, a conversão é uma divisão entre o antes e o depois. O passado deve ser esquecido, uma borracha deve ser utilizada para apagar os erros de outrora, pois um caminho novo se abre à frente do novo cristão. A suposta data de seu nascimento também é um divisor de águas: entre o Antigo e o Novo Testamento, entre o que os cristãos chamam de Lei e a Graça, entre a distância de Deus e Emanoel Deus conosco.
Dentro da reflexão aqui proposta, acrescento ainda outra reflexão que ruma no mesmo sentido. Não sei se coincidência ou não, mas o Natal está a uma semana da virada de ano. Uma outra festa que de fundo têm a mesma proposta: deixar para trás o ano que passou e se voltar para o ano que vem, desejando que o último aqui dito seja melhor do que o primeiro. A mesma lógica permanece, deixar para trás as coisas velhas, gastas, sujas e entrar numa nova jornada, num novo momento.
O que nos impede de viver o novo senão o fato de estarmos presos ao passado? Muitos de nós não conseguem se livrar do passado que insiste em nos assombrar. Muitas vezes, todos os ritos não são o suficiente para exorcizar o passado, lavar a alma, pois o passado não pode ser exorcizado tal como um demônio, pois nosso passado nada mais é do que uma parte importante de nossa vida. Precisamos resolver o passado para poder viver o presente e esperar o futuro.
Se ano que passou não foi bom, deve ser posto para balanço, se a vida até aqui não tem sido boa, deve ser posta para balanço. O divã não serve para fazer esquecer o passado ou comemorar a vinda do futuro, serve para resolver o passado e dar condições de fazer da vida continuidade do passado, podendo lembrá-lo sem dor e sofrimento, não sendo ele impedimento da felicidade que está logo ali, aqui.
Por último, o tempo nos mostra muitas coisas, basta observarmos bem. Em todas as datas devemos refletir sobre nossa própria história e parar para resolver o que está errado, escrever outra vez, fazer diferente, pois sempre a nossa frente, teremos inúmeras possibilidades, inúmeras oportunidades, muitos caminhos.
Feliz Natal e Boas Festas.
Aqui encontram-se ensaios filosóficos, políticos, artísticos, crônicas, poesias, artigos de Psicologia e reflexões de minha autoria. Visam contribuir com a compreensão da existência humana.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
domingo, 20 de dezembro de 2009
Compulsão ao Consumo
As vezes observo as crianças brincando com seus brinquedos novos, ganhos em épocas natalinas. Agarram-nos apertadamente por algumas horas, depois deixam jogados pelo chão. Interessante esse movimento infantil, como se quisessem preencher com seus objetos a própria alma. Esse é apenas um primeiro passo ao consumo, de tantos outros passos que se seguirão na medida da inserção dessas crianças ao capitalismo de consumo que nos diz desde os primeiros passos o caminho a seguir.
O impulso ao consumo é de fato uma realidade contemporânea, algo já previsto por Baudrillard, sociólogo francês. O pensador que escreveu Sociedade de Consumo nos diz que os homens estariam no futuro apenas em contato com seus objetos de consumo. Diminuímos as relações com as pessoas, aumentamos nossas relações com os objetos. Na verdade, as pessoas também se tornam objetos de consumo – nos consumimos, uns aos outros – e isso ocorre nas mais diversas formas das relações humanas. Quando o outro se torna também objeto de consumo, algo que tem um preço e existe para minha satisfação, algo de errado está no ar.
A compulsão a ter de consumir de qualquer forma, a ter de ter as coisas a qualquer custo, gera uma forma patológica de encarar as relações. Passamos a perseguir nossos objetos, a achar que a felicidade estará na aquisição do novo carro esportivo, no efeito fantástico do novo creme de pele, ou do novo condicionador. A indústria da felicidade está à disposição, inventando qualquer coisa que venda.
E onde ficamos nisso tudo? Ficamos assim: ou buscamos consumir tudo o que a mídia nos oferece, nos frustrando no exato momento que chegamos dos centros comerciais cheios de sacolas, como crianças, mas continuamos a perseguir outros objetos achando que na próxima compra estará a felicidade; ou estaremos do outro lado, daqueles que nunca poderão comprar e, por isso, se frustrarão por nunca poderem ter.
A felicidade não está em nada disso! Estamos perdendo algo essencial, a vida. Há Mario Quintana, a felicidade está na sua poesia, que sabias palavras. Não nessa loucura vendida, na beleza que deve ser atingida, na riqueza, não que não devemos ter dinheiro, mas, sobretudo, devemos saber usa-lo e não nos tornarmos escravos. Rir com um bom amigo, curtir um filho, receber um abraço, um carinho. Fazer uma aventura, arriscar uma flertada, comer uma pizza com a namorada, ficar nervoso no primeiro encontro, no primeiro dia do trabalho desejado, com o primeiro filho. Existem tantas coisas que a vida nos dá que não podem ser consumidas e que não acabam rápido. Quando você se rende ao consumo, sente a vida ser consumida, acabar e perde de viver. Perde a vida.
O impulso ao consumo é de fato uma realidade contemporânea, algo já previsto por Baudrillard, sociólogo francês. O pensador que escreveu Sociedade de Consumo nos diz que os homens estariam no futuro apenas em contato com seus objetos de consumo. Diminuímos as relações com as pessoas, aumentamos nossas relações com os objetos. Na verdade, as pessoas também se tornam objetos de consumo – nos consumimos, uns aos outros – e isso ocorre nas mais diversas formas das relações humanas. Quando o outro se torna também objeto de consumo, algo que tem um preço e existe para minha satisfação, algo de errado está no ar.
A compulsão a ter de consumir de qualquer forma, a ter de ter as coisas a qualquer custo, gera uma forma patológica de encarar as relações. Passamos a perseguir nossos objetos, a achar que a felicidade estará na aquisição do novo carro esportivo, no efeito fantástico do novo creme de pele, ou do novo condicionador. A indústria da felicidade está à disposição, inventando qualquer coisa que venda.
E onde ficamos nisso tudo? Ficamos assim: ou buscamos consumir tudo o que a mídia nos oferece, nos frustrando no exato momento que chegamos dos centros comerciais cheios de sacolas, como crianças, mas continuamos a perseguir outros objetos achando que na próxima compra estará a felicidade; ou estaremos do outro lado, daqueles que nunca poderão comprar e, por isso, se frustrarão por nunca poderem ter.
A felicidade não está em nada disso! Estamos perdendo algo essencial, a vida. Há Mario Quintana, a felicidade está na sua poesia, que sabias palavras. Não nessa loucura vendida, na beleza que deve ser atingida, na riqueza, não que não devemos ter dinheiro, mas, sobretudo, devemos saber usa-lo e não nos tornarmos escravos. Rir com um bom amigo, curtir um filho, receber um abraço, um carinho. Fazer uma aventura, arriscar uma flertada, comer uma pizza com a namorada, ficar nervoso no primeiro encontro, no primeiro dia do trabalho desejado, com o primeiro filho. Existem tantas coisas que a vida nos dá que não podem ser consumidas e que não acabam rápido. Quando você se rende ao consumo, sente a vida ser consumida, acabar e perde de viver. Perde a vida.
Assinar:
Postagens (Atom)