domingo, 20 de dezembro de 2009

Compulsão ao Consumo

As vezes observo as crianças brincando com seus brinquedos novos, ganhos em épocas natalinas. Agarram-nos apertadamente por algumas horas, depois deixam jogados pelo chão. Interessante esse movimento infantil, como se quisessem preencher com seus objetos a própria alma. Esse é apenas um primeiro passo ao consumo, de tantos outros passos que se seguirão na medida da inserção dessas crianças ao capitalismo de consumo que nos diz desde os primeiros passos o caminho a seguir.
O impulso ao consumo é de fato uma realidade contemporânea, algo já previsto por Baudrillard, sociólogo francês. O pensador que escreveu Sociedade de Consumo nos diz que os homens estariam no futuro apenas em contato com seus objetos de consumo. Diminuímos as relações com as pessoas, aumentamos nossas relações com os objetos. Na verdade, as pessoas também se tornam objetos de consumo – nos consumimos, uns aos outros – e isso ocorre nas mais diversas formas das relações humanas. Quando o outro se torna também objeto de consumo, algo que tem um preço e existe para minha satisfação, algo de errado está no ar.
A compulsão a ter de consumir de qualquer forma, a ter de ter as coisas a qualquer custo, gera uma forma patológica de encarar as relações. Passamos a perseguir nossos objetos, a achar que a felicidade estará na aquisição do novo carro esportivo, no efeito fantástico do novo creme de pele, ou do novo condicionador. A indústria da felicidade está à disposição, inventando qualquer coisa que venda.
E onde ficamos nisso tudo? Ficamos assim: ou buscamos consumir tudo o que a mídia nos oferece, nos frustrando no exato momento que chegamos dos centros comerciais cheios de sacolas, como crianças, mas continuamos a perseguir outros objetos achando que na próxima compra estará a felicidade; ou estaremos do outro lado, daqueles que nunca poderão comprar e, por isso, se frustrarão por nunca poderem ter.
A felicidade não está em nada disso! Estamos perdendo algo essencial, a vida. Há Mario Quintana, a felicidade está na sua poesia, que sabias palavras. Não nessa loucura vendida, na beleza que deve ser atingida, na riqueza, não que não devemos ter dinheiro, mas, sobretudo, devemos saber usa-lo e não nos tornarmos escravos. Rir com um bom amigo, curtir um filho, receber um abraço, um carinho. Fazer uma aventura, arriscar uma flertada, comer uma pizza com a namorada, ficar nervoso no primeiro encontro, no primeiro dia do trabalho desejado, com o primeiro filho. Existem tantas coisas que a vida nos dá que não podem ser consumidas e que não acabam rápido. Quando você se rende ao consumo, sente a vida ser consumida, acabar e perde de viver. Perde a vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário