quarta-feira, 28 de julho de 2010

Perdas

Pairou na atmosfera um ar de impossibilidade

Ar que respiro e pesa sobre mim

Suportá-lo significa lidar com o peso do não realizado

do não vivido tal como havia idealizado

do sonho perdido e não mais encontrado.



Quem sou eu que respira o ar pesado da existência

que sofre a dor da perda do nunca alcançado

do amor que nunca veio, do coração vazio que se via cheio

ao ver no outro o que eu mesmo emprestava para defini-lo

o que eu queria que fosse, o que eu queria ver, o que eu queria ser



Eu aqui que agora experimento o mundo

que sou atravessado por tudo o que não sou eu

percebo que meu sofrimento é outro

não mais com os ideais e amores sonhados

mas com a vida que me convida e o caminho que me desafia



Quem sou eu que desisti de vôos tão altos

que encontro nos passos dados no caminho

mais sentido do que a chegada almejada por tantos

que aprendi que a vida se faz de ação

mais do que de sonhos, mais do que de ilusão.



Eu que amo e já não sonho com amor

que procuro coerência política sem almejar revoluções

que clamo num deserto sem a pretensão de ser ouvido

que faço escolhas sem almejar ser escolhido

que escrevo poesia sem querer ser entendido.

Basta a vida, a minha vida...

É tudo que tenho