Pairou na atmosfera um ar de impossibilidade
Ar que respiro e pesa sobre mim
Suportá-lo significa lidar com o peso do não realizado
do não vivido tal como havia idealizado
do sonho perdido e não mais encontrado.
Quem sou eu que respira o ar pesado da existência
que sofre a dor da perda do nunca alcançado
do amor que nunca veio, do coração vazio que se via cheio
ao ver no outro o que eu mesmo emprestava para defini-lo
o que eu queria que fosse, o que eu queria ver, o que eu queria ser
Eu aqui que agora experimento o mundo
que sou atravessado por tudo o que não sou eu
percebo que meu sofrimento é outro
não mais com os ideais e amores sonhados
mas com a vida que me convida e o caminho que me desafia
Quem sou eu que desisti de vôos tão altos
que encontro nos passos dados no caminho
mais sentido do que a chegada almejada por tantos
que aprendi que a vida se faz de ação
mais do que de sonhos, mais do que de ilusão.
Eu que amo e já não sonho com amor
que procuro coerência política sem almejar revoluções
que clamo num deserto sem a pretensão de ser ouvido
que faço escolhas sem almejar ser escolhido
que escrevo poesia sem querer ser entendido.
Basta a vida, a minha vida...
É tudo que tenho