Na Renascença a crença que perdurava era a da existência de um Eu Substancial, ou seja, uma alma dentro de nós desde sempre pronta. Descartes compactuava com essa ideia ao afirmar “penso logo existo”, deixando claro que antes da existência no mundo já existe um Eu que pensa o mundo. A Fenomenologia de Husserl, e principalmente a leitura de Husserl feita por Sartre, mostram uma nova compreensão da interioridade humana, daquilo que chamamos alma. Sartre passou a perceber que “a existência precede a essência”, ou seja, primeiro existimos, depois encontramos quem realmente somos. E o que encontramos? O conjunto de nossas experiências, o sentido particular que damos a própria existência. Não nascemos prontos, nos construímos a cada momento da vida, por isso, se refazer e se reinventar é possível.
O mais importante está no que dizemos a nós mesmos diante das experiências da vida. No sentido que damos a existência compomos um pouco mais de nossa essência. Nos tornamos mais nós mesmos em cada escolha autêntica que fazemos, nas reflexões a cerca dos passos que damos, no rumo que tomamos, no quanto estamos dispostos a conhecer a respeito de nossas reais vontades, desejos, limites, sentimentos. Eis o melhor e muitas vezes ignorado sentido da Psicoterapia Existencialista: o auto-conhecimento. Mais do que desabafar, aliviar uma dor, esvaziar a consciência culpada, encontrar um nome para um sofrimento psíquico ou mesmo aprender a se auto-afirmar. O que propomos de fato é um olhar mais atento para dentro. Não um olhar condenativo, mas um olhar curioso e gentil.
Não podemos escolher sempre as experiências que a vida, muitas vezes, sem nossa permissão, nos faz engolir, mesmo que o gosto amargo da dor seja evidente. Mas podemos dar o sentido que for melhor, mesmo as experiências angustiantes que passamos. O segredo é não se perder de si mesmo, se tornando para os outros algo que você não quer ser, um papel que lhe foi incumbindo. Antes de ser mãe você é mulher, antes de provedor você é homem, antes de trabalhador você é humano, antes de inválido para a sociedade o seu valor está no que você é para você mesmo, antes de estudante você é criança ou adolescente. O mais importante em você não está no pai que você é, na mãe que você é, no estudante, no trabalhador, no professor, mas no homem que você se tornou, na mulher, na criança, enfim, na pessoa que traz consigo as experiências de uma vida. Não ignore o que há de mais precioso, não perca-se de você mesmo nas experiências da vida, mas descubra-se nelas.
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