sábado, 22 de maio de 2010

UM POUCO DE DOR NO DIVÃ

Mensurar a dor é algo difícil, encontrar alívio é, muitas vezes, uma busca em vão. A psicoterapia consiste em tentar compreender a dor do outro e torná-la, ao menos, menor. A possibilidade da cura está no fato de que também o terapeuta é humano e experimenta dores como as dos seus pacientes. Existe algo no terapeuta que escapa toda sua técnica, seus estudos, sua experiência, como clínico da alma. Algo que não pode ser mensurado, aliás, quase tudo na terapia não pode ser mensurada. Não é uma questão médica em que você toma um remédio e a dor passa. A dor na alma, em muitos casos, dificilmente passa. Aí entra o terapeuta, ou melhor, o humano por trás dele, a paixão pelo outro, a disponibilidade para por em prática algo repetido por alguns professores nas universidades: “Se colocar no lugar do outro”, fazer da dor do paciente, sua dor, ao menos por um instante. Esse é o diferencial para cura.
Obviamente que não pode haver hipocrisia nesta reflexão, pois a dor do paciente é só dele, o que podemos fazer é nos simpatizarmos por esse sujeito de alma adoecida, esse ser que está fragmentado em nossa frente, aos pedaços, tentando juntar os cacos espalhados pelo chão. Acolhê-lo com respeito, ajudá-lo sem fazer dele objeto de pena, aceitar sua situação como podendo ser sua um dia.
A dor que aperta o peito de muitos de nós, em muitos e diferentes momentos, tem encontro certo no divã. Nele tem que haver cura, ou, ao menos, alívio. Nele a vida deve ganhar sentido e força para superar esses momentos de fraqueza. Somos homens e mulheres de dores e, por isso, podemos cuidar de dores. Em outras palavras, é a humanidade de um terapeuta que o torna capaz de proporcionar cura, não sua técnica. De forma alguma descarto a técnica terapêutica, apenas acrescento o fato de que a cura está para além dela. Portanto, um bom terapeuta é aquele que domina muito bem uma técnica, mas associa essa técnica a sua humanidade.
Por fim, essa perspectiva humana do terapeuta, no momento da cura da alma do paciente, fica com um pouco dela para si, ou seja, o paciente deixa no divã um pouco de sua dor a cada encontro terapêutico. O terapeuta absorve essa dor, mastiga e digere. E o que o faz fazer isso não é apenas sua técnica, mas, sobretudo, sua humanidade. Assim, terapeutas bons de técnica, mas destituídos de traços humanos expostos acima, se tornam indiferentes. Enquanto que terapeutas que fazem valer sua humanidade, sentem a dor do outro e aprendem a lidar com ela.

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