Nós adultos, cheios de amarras, tais como um polvo que se enrola com seus próprios tentáculos, tentando compreender a distância que temos de nossas emoções. As costuras que nos impedem de vivenciar livremente nossas emoções estão postas no tecido de nossa existência. Qual a razão dessa forma tão tosca e rude que temos ao lidar com as coisas do universo emocional? O que sabemos de fato é que vamos perdendo a espontaneidade na exata medida em que crescemos, pois ao crescer somos inseridos num mundo de contenção necessária para lidar com situações rígidas e bem estruturadas da nossa sociedade. Penso que por essa razão a arte se torna fundamental, como resgate simulado das emoções perdidas.
Como definir a importância da arte em nossa vida. Ela possibilita um simulacro de emoções que já não são vivenciadas, mas são experimentadas por uma platéia que sabe que a emoção não é sua e sim emprestada. A catarse na arte é o momento mágico do extravaso, do riso ou do choro. E ela só existe e só é permitida na arte, exatamente porque a vida não pode se ocupar dessa desestruturação da forma.
A arte é o retorno a espontaneidade, ou ao menos o chamado para ela. Se é um chamado, não é um caminho para o futuro e sim um resgate do passado, pois esse livre curso da emoção é facilmente encontrado na criança, na sua catarse ferquente e sem a censura do adulto.
Talvez nessa reflexão se encaixe a razão que leva as mais bárbaras violências contra a criança: da agressão física a psicológica. Tal violência só pode ser uma forma de punir a perda total da espontaneidade e a certeza de uma vida sem emoção como é a de um psicopata.
Por fim, as crianças nos fazem resgatar a infantilidade que nos resgata a própria vida, ou ao menos, o que há de essencial nela: para além da razão, a emoção.
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