sábado, 10 de outubro de 2009

E quando não atingimos nossas metas?

Inicialmente, cabe uma reflexão sobre a construção das metas as quais perseguimos durante nossas vidas. Vislumbro um primeiro fator fundamental, o outro. Quando digo o outro, refiro-me a um conceito bastante amplo, pois o outro aparece em nossa vida pela primeira vez no momento em que, quando ainda crianças, passamos a perceber que a mãe não é extensão de nosso corpo, mas um outro corpo. Agravasse mais no momento em que a cultura nos diz que devemos amá-la para merecer sua atenção, seu cuidado, seu carinho. Nesse momento a um deslocamento do desejo próprio da criança para a mãe e assim nasce a perspectiva do outro como fundamental para realização pessoal. Agravamento ainda maior ocorre na falta da mãe, pois o deslocamento do desejo não encontra um objeto e desde sedo há frustração.
Obviamente que esse primeiro grande outro se mostra de tal forma e tão imponente que condiciona nosso desejo e expectativa a ele. Levando em consideração que esse outro nunca nos satisfaz inteiramente, que sempre almejamos mais dele do que ele pode nos dar, essa relação está fadada ao fracasso. A mãe não é o único outro em nossa vida, como não é a única mulher na vida de um homem. Mas as expectativas deixadas por essa relação mãe-filho serão perseguidas durante toda a vida. A mãe não é apenas uma mulher dentre tantas, é a expressão cultural do nosso condicionamento para a aceitação do mundo. Em termos mais claros, desde pequenos o mundo nos dá metas a seguir e quase nunca estas metas significam satisfação e felicidade, significam sim, obrigação para com os outros. Obrigação tão enraizada que nos culpamos quando não correspondemos e exigimos dos outros o cumprimento delas, quando nós mesmos estamos por abandoná-las. Obrigação para com os filhos, por mais problemas que possam dar, para com os maridos, para com os patrões, para com o Estado, a Igreja...
Quando adultos passamos a pensar melhor na vida, exatamente por vislumbrar o fato de que ela pode acabar a qualquer momento. E nesse momento percebemos nosso movimento em prol de nossas metas. Tendo cumprido-as ou não, o fato é que começa a parecer absurdo cumprir metas cuja satisfação não é o resultado. Tanto aqueles que atingem suas metas, quanto aqueles que não conseguem atingir, frustram-se consigo mesmos: ou por não atingirem, julgando-se incapazes, ou por atingirem e não encontrarem real satisfação, tendo a sensação de terem se empenhado por nada. Todos se frustram por perceber terem sido enganados num projeto que não refletiram bem tal engajamento que ocupou boa parte de suas vidas.
A primeira coisa a ser pensada num momento em que estamos na contramão de nossas expectativas está numa reflexão aprofundada sobre o sentido de nossa existência. Conforme Nietzsche: “Quem encontra um porque? Encontra um como?” A questão fundamental está na escolha dessas metas: se elas foram feitas com esclarecimento suficiente para saber onde nos levaria, ou foram acontecendo? Quanto maior auto-conhecimento tivermos, mais capacidade de definir nossas metas. Não tão altas que não possam ser atingidas, não tão baixas que não nos desafie. Nossa expectativa também deve ser trabalhada para que caso não venhamos a atingir as metas pretendidas, não nos frustremos de tal forma que nada mais tentemos na vida. Por fim, pessoas que se conhecem melhor, podem até não realizar grandes feitos para o mundo, mas vivem melhor. Basta pesar o mais importante: você ou os outros. Poderíamos dizer em outros termos: você ou suas metas, pois se estiverem em contradição com você, não são suas.

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