sábado, 6 de fevereiro de 2010

O Tempo

Com certeza você já deve ter ouvido dizer que o tempo cura todas as feridas. De fato o efeito do tempo sobre nossas marcas e feridas é de amenizá-las, porém, muitas vezes o tempo apenas torna mais suportável a dor que sentimos. Interessante lembrar uma música de um brilhante cantor brasileiro chamado Lenine, intitulada Paciência: “A vida não para... mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma... mesmo quando a mente pede um pouco mais de calma...”. De fato, muitas vezes a vida segue o rumo determinado pelo tempo e pelo movimento dos corpos, ignorando o estado da alma.
As implicações do tempo nessa construção inter-objetiva, cujo resultado é o que denominamos alma, que toma forma a partir da faísca do embati instinto-objeto, soma cada passagem do tempo e define condutas e comportamentos. Nesse sentido, cabe dizer que não há uma subjetividade que não se alimenta da objetividade do mundo.
O tempo só é possível de ser percebido pelo deslocamento da matéria, portanto, somente o movimento possibilita a percepção do tempo, que por sua vez, fixa no homem as transformações do mundo. Assim, os sujeitos vão construindo suas formas particulares de movimentação e definindo por insistência na mesma forma de ação, o que na psicologia chamaríamos de personalidade.
O deslocamento dos objetos causa a impressão de passado, presente e futuro. O futuro refere-se ao destino do objeto, o passado refere-se ao local de onde o objeto partiu, enquanto que o presente é o movimento, a ação. Fixa-se em nós a experiência do movimento e com ela a percepção do tempo. Por alguma razão, mesmo depois da objetividade do mundo ser transformada diante dos homens, ou mesmo pelos homens, a memória retém tais experiências em evidência. Muitas vezes, algumas experiências que deveriam ficar no passado, nos marcam com tanta profundidade que insistem em ressurgir em todo o instante do presente. O futuro é sempre o que está por vir. O homem, por conta de todas as experiências vividas, pode, por força do habito, contribuir com seu deslocamento para o futuro, porém, o futuro será para sempre incerto, apesar de acertarmos muitas vezes.
Por isso, concebemos duas formas de temporalidade: objetiva e subjetiva. A forma objetiva do tempo permanece num movimento continuo e linear; a forma subjetiva do tempo, própria do homem, caminha misturando passado, presente e futuro. O homem pode trazer para o presente seu passado, imaginar seu futuro e ignorar seu presente. Cabe saber lidar com essas dimensões de temporalidade para que a existência se torne articulada e concordante com a melhor forma de movimento no mundo.

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