terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Vídeo Debate no Encerramento do Ponto de Cultura

No dia 07 de dezembro de 2010, no encerramento das atividades do Ponto de Cultura "Escolinha de Cinema", projeto mantido pela ABADEUS, ocorreu a exibição dos documentários: Heriberto Hülse, 50 Anos e Cristo Redentor: sua história contada por sua gente. na ocasião foram entregues os certificados para as crianças e adolescentes que participaram do projeto, além da composição de uma mesa de debates por moradores do bairro Cristo Redentor e professores e alunos da Escola de Educação Básica Heriberto Hülse, com finalidade de comentarem e responderem as perguntas dos participantes a respeito dos documentários e a participação dos mesmos neles.

O documentário feito sobre o bairro Cristo Redentor foi produzido pelas crianças e adolescentes do bairro, sob supervisão e direção do Jornalista Antônio Roseng e Psicólogo Ismael Ferreira.

O documentário feito sobre a Escola de Educação Básica Heriberto Hülse foi produzido por professores e alunos da própria escola.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Encerramento das Atividades UNESC-ABADEUS-COOPERDUS

No dia 07 de Dezembro de 2010, foram finalizadas as atividades que a UNESC, juntamente com a ABADEUS realizaram na COOPERDUS. As atividades realizadas pela UNESC foram no sentido de ampliar a discussão sobre economia solidária, além de apoio na reelaboração do estatuto da COOPERDUS e auxilio jurídico e contábil.

Coube a ABADEUS realizar um trabalho para fortalecer o grupo em prol de seus objetivos enquanto cooperadas e resolver os conflitos existentes no grupo e melhorar sua forma de relação com clientes e demais envolvidos.

O fechamento das atividades contou com a presença do professor Mario da UNESC, que trabalha com catadores a mais de 10 anos, buscando organizar a categoria em forma de cooperativa, além da equipe técnica da UNESC e ABADEUS.


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O que a Vida Traz

De todos os sentimentos do mundo
De todas as possibilidades da vida
De todos os encontros e desencontros
Dos amores experimentados, cada qual a seu modo
Da mais profunda dor que emerge do abismo da alma
Da maior felicidade percebida na trajetória da vida
Dos amigos encontrados e perdidos
Das faíscas dos sorrisos que vi passar e que não os tornei significativos
Dos sonhos que só fiz sonhar e não os vi realizar
Do medo paralisante que me fez tremer e parar
Do tempo da indecisão, perdido dentro de mim, nos labirintos confusos de meu ser
Das crianças que não vi crescer e a elas não me dediquei
Dos filhos que não vieram e nem os vi partir
Do mundo que gira e traz possibilidades e possibilidades, e eu preso em algumas não vejo tantas outras
De tudo, só resta a certeza de que na vida as coisas escapam dentre nossos dedos sem percebermos
Pois não são nossas, não nos pertencem, a vida as empresta e as tira
As vezes com suavidade, as vezes com voracidade
As vezes, das coisas que a vida tira, algo insiste em ficar
Outras, ficam e não saem, custam nosso sangue, mas não deixamos ir.
E tudo começa num olhar que insiste em ficar
Que pode partir sem sofre, mas também, sem amar.

domingo, 7 de novembro de 2010

Escolha e Angustia

Uma verdade fundamental na existência: não podemos fugir das escolhas que temos de fazer na vida. Quando tentamos fugir, permitimos que outras pessoas, ou mesmo situações escolham por nós. Muitas vezes fazemos isso com o intuito de não nos responsabilizarmos por essas escolhas, uma vez que não fomos nós que escolhemos. Mero engano, mesmo quando permitimos outros escolherem por nós, as escolhas não deixarão de ser nossas e não deixarão de implicar e gerar consequências, pois tudo o que diz respeito a nossa vida é responsabilidade nossa.
A questão que se coloca é que decidir, escolher, tomar decisões é sempre angustiante, pois nos exige ter de se haver com o que fazemos. A vida é uma questão de escolha, mas preferimos acreditar que não precisamos enfrentar nossas ações. Acaba sendo mais fácil responsabilizar os outros, as coisas que nos acometem, as situações, Deus ou o diabo. Em todas as situações precisamos escolher, mesmo em situações em que as possibilidades de escolhas são reduzidas. A redução das possibilidades das escolhas por conta da contingência do mundo é algo que precisamos enfrentar, aprender a lidar, pois nem sempre, ou melhor, quase nunca, poderemos escolher o que queremos.
O maior problema está na restrição das escolhas que nós mesmos fazemos, ou seja, muitas vezes não nos julgamos capazes de uma coisa ou outra, por avaliarmos que não temos capacidade para tal. Entram questões psicológicas como nosso descrédito construído ao longo de nossa vida, nossa teimosia que nos faz insistir no que está dando errado, nosso orgulho que nos proíbe de admitir o erro, nossa falta de autoconfiança. São tantos os fatores que aqui não caberiam, mas com esses já podemos pensar outros. A questão é que traçamos destinos e restringimos as possibilidades, não nos permitindo aventurar por outros terrenos desconhecidos. Seguimos um padrão de escolhas que vão se seguindo e viram uma forma de ser, de fazer e de viver. Muitas vezes não conseguimos nos desprender dessa forma de lidar com as coisas com as quais nos relacionamos.
Portanto, o divã tem como finalidade viabilizar a sequência de nossas escolhas e, sobretudo, para onde elas nos levam, para construir outras formas e caminhos que não apenas esses que estamos acostumados, para não dizer, aprisionados. A vida se torna restrita, muitas vezes, não pelas restrições sociais que não podemos alterar, pois, como disse antes, são da ordem da contingência. Mas por conta de condições psicológicas das quais não conseguimos nos livrar. Essas condições psicológicas nos reduz a repetição das vivências passadas, fazendo com que venhamos a cair nos mesmos dilemas e não enxergar o futuro em aberto como possibilidade real de se encontrar o novo e distinto do que temos.

domingo, 24 de outubro de 2010

Dor

A cabeça dói, o coração não se contem
Ela parece que vai estourar
Ele parece estar sofrendo o golpe de uma faca
Torna-se difícil até mesmo respirar
Falta ar, falta, faca.
Pra sobreviver ele endureceu
Pra poder continuar batendo com uma faca encravada
Fixa, firme e imponente no seu propósito
De ferir meu coração
Que mal pode se mexer, mal pode bater.
Dói dor profunda, dor que não se explica
E vai amargando o doce da alma
Tirando o sorriso, o animo, a alegria, a beleza...
Deixando o espaço vazio, a falta, a faca.
Mas não vou morrer, sinto isso!
Devo, digo devo por ser da ordem do dever e não do desejo
Devo então reunir forças para puxar a faca
Tirá-la de vez.
Mas tenho medo da dor mais profunda
Do sangue coagulado vertendo
Da dor saindo e seu eco soando indo, indo, indo, pra longe
Depois basta.
O tempo se encarrega de tudo.

domingo, 10 de outubro de 2010

ENTRE LÁGRIMAS E RISOS

Ensaio de Vieira sobre o nascimento da comédia grega e suas implicações na política brasileira contemporânea


Risos de Demócrito & Lágrimas de Heráclito

Num texto escrito pelo Padre Antônio Vieira, fruto de uma investigação para resolver um problema proposto pelos cardeais da academia romana, no ano de 1674, foi discutido o seguinte argumento: o mundo é mais digno de lágrimas ou de risos, e qual dos dois filósofos foi mais prudente, Heráclito que chorava sempre, ou Demócrito que ria sempre? Para este problema coube ao Padre Antônio Vieira defender Demócrito e seus risos, enquanto o Padre Jerônimo Caetano, também da companhia de Jesus, defendeu Heráclito e suas lágrimas.
Assim, coube, tanto a Antônio Vieira como a Jerônimo Caetano, defender os opostos, sobre os quais se instaurou a problemática. Ambos apresentaram suas conclusões, defendendo as posturas dos filósofos em questão, e argumentado sobre um pano de fundo: o mundo é mais digno de risos ou de lágrimas. Nesse sentido, a proposta deste ensaio é discutir, inicialmente, as conclusões intrigantes e provocantes de Antônio Vieira para, mais tarde, relacioná-las com o nascimento da comédia e da política na Grécia e suas repercussões na modernidade.
Inicialmente, Antônio Vieira classifica as possíveis expressões de choro: choro com lágrimas, choro sem lágrimas e choro com risos. Sendo que chorar com lágrimas é chorar com dor moderada, chorar sem lágrimas é chorar com grande dor, chorar com risos é chorar com dor suma e excessiva.
Assim, compreende Vieira, a dor excessiva faz rir enquanto a dor moderada leva às lágrimas. Parece contraditório, mas a recíproca é verdadeira: a alegria excessiva faz chorar, portanto, a tristeza excessiva, pode fazer rir. “Pois, se a excessiva alegria é causa do pranto, a excessiva tristeza, por que não será causa do riso?” (VIEIRA, 1679, p p 31, 32. v. XII). Sendo assim, o riso de Demócrito significava ironia do pranto, pois ria ironicamente, sendo seu riso nascido de seu pranto e de uma tristeza.
Os olhos não dão conta de desafogar a alma, por isso, recorre o homem a outros mecanismos, como as mãos. Sendo comum ao chorar, bater as mãos. Ora, se as mãos são utilizadas ao chorar por que a boca não seria? Heráclito chora com os olhos, Demócrito com a boca. Entre risos e lágrimas, cabe uma outra compreensão: Heráclito chorava da miséria humana, Demócrito ria da ignorância. Mas, a ignorância é a expressão da miséria, portanto, ria Demócrito também da miséria humana.
A relação da miséria com a dor é estreita, por isso, foi necessário separar a miséria do que lhe é próprio, a dor. O fizeram com louvor no nascimento da comédia. Tiraram sua base real, pois, na comedia, não se ri da miséria, mas de um faz de conta, de uma ficção que representa a miséria, mas não é diretamente miséria. Na comédia, não se veem miseráveis e suas misérias que, na vida real, provocam tristezas. Mas então o que se vê? Representações, simulações das misérias reais, e, por serem simulações, provocam risos.
Nesse sentido, Heráclito ao chorar torna-se capaz de persuadir mais fortemente, pois lágrimas sensibilizam, enquanto risos provocam zombarias e indiferença. Portanto, Heráclito desperta sentimentos tais como esperança, enquanto Demócrito desperta sentimentos outros como apatia. “Com muito mais causa Demócrito, porque ria sempre, se fazia ridículo, e, zombando do juízo dos outros, expunha o seu a zombaria”. (VIEIRA, 1679, p 36).
Diante dessas reflexões, faz o Padre Antônio Vieira uma indagação: “Que esperança, que lugar pode ter neste mundo o riso, se todo mundo chora e ensina a chorar?” (VIEIRA, 1679, p 37). Qual o lugar do riso, qual reflexão pode ser feita a partir dessa expressão? De que forma o riso pode ser levado a sério? Ao partir da reflexão de que a excessiva alegria leva ao choro, abre-se espaço para compreender como verdade o oposto: a excessiva tristeza leva ao riso. Nesse sentido, diz Vieira: “Aqueles mesmos que mais se riem por fora mais choram por dentro”. (VIEIRA, 1679, p 38). Assim, Demócrito com seu riso demonstra tristeza excessiva, que ultrapassa as lágrimas e o cessar das lágrimas, desembocando no riso.


A Organização da Polis e da Comédia Grega

No século VIII a.C., o comércio faz ressurgir a polis grega terminando com o isolamento das aldeias e oportunizando uma nova forma de organização da vida. O espaço mais cobiçado passa a ser a Ágora (praça pública), local em que todos os homens, cidadãos, discutiam os rumos da vida na cidade. A política nada mais é do que a ação do homem na cidade, portanto, o termo ultrapassa a compreensão obtida na atualidade que entende o termo dentro da ação do homem público frente as demandas da sociedade. A política grega era feita por todos os homens nas suas ações diárias, porém, discutidas somente por homens livres, portadores de títulos de cidadãos.
Nesse momento o caos da mitologia dá lugar à ordem do kosmos (mundo), estabelecido pelo logos (palavra). Portanto, o uso da razão (lógica) é que passou a direcionar a vida grega e não mais a crença em deuses e mitos. Assim, a filosofia se desenvolveu na medida em que se desenvolveu a democracia grega (talvez a filosofia tenha desenvolvido a democracia grega), pois nela o homem pôde se propor a discutir a cidade, a religião, a moral e a vida.
Os homens passaram a discutir os rumos da vida. A partir desse momento os eventos sociais ganharam significativa importância. Os dramas humanos passaram a ter a necessidade de encontrar espaço na cidade, porém, sem o poder dos mitos de outrora. Nesse sentido, tornam-se espetáculos para arte, ganham um lugar específico na vida dos gregos: o anfiteatro. Nele se dramatiza a vida e a vida cessa de ser dramatizada no fim do espetáculo. Cabe na vida a lógica da organização da polis pela palavra (logos). Na arte couberam os devaneios, impulsos, paixões...
Ora, então as lágrimas de Heráclito, ou os risos de Demócrito, escapam o cessar do espetáculo, continuam nas ruas e, por isso, incomodam. A única forma de conviver com tais disposições dá-se na negação da relação com a realidade. Fingir que são expressões perdidas, desvinculadas e desconexas da vida. Somente assim pode-se conviver com tais feridas que não cicatrizam e sangram sem cessar. Nessa reflexão pode-se ver o nascimento da comédia na polis grega, como uma necessidade imposta pela condição humana.
A defesa do Padre Antônio Vieira sobre a superação dos risos de Demócrito em relação às lágrimas de Heráclito mostra o quanto a dramatização voltada para o humor, muitas vezes, supera em dor a dramatização que leva às lágrimas. Portanto, a comédia tornou-se o mecanismo através do qual sentia sua dor com o endurecimento necessário para continuar a vida na polis lógica e racional que, não admite emoções tais como a mitologia admitia.
Nessa perspectiva, a comédia grega é a simulação da dor mais intensa vivenciada na arquibancada do anfiteatro. Rir da organização da polis no anfiteatro é rir numa dosagem mais suportável que Demócrito, pois este ria da própria realidade. Assim, o espaço e o tempo restrito da comédia na polis não permitia o desvanecer dos cidadãos, tal como Demócrito que ria sempre e em todo lugar.
Para o Padre Antônio Vieira, a comédia tirou a miséria da vida real e a transportou para o palco. Ora, a miséria real não deve provocar risos, os homens não podem rir da desgraça humana, tal como ela é, mas podem rir se não for propriamente a desgraça, mas a simulação da desgraça. Nesse sentido, a comédia permite o riso por não se tratar das dimensões reais dos problemas e dramas humanos, mas do personagem que, não necessariamente o sofre. Se não o sofre torna-se permitido rir. Porém, no fundo estamos rindo da mesma desgraça, somente mudamos sua roupagem.


Reflexões sobre Política no Brasil

Segundo Antônio Vieira, os risos de Demócrito denunciam a falta de perspectiva que temos com as soluções propostas pelos lideres políticos. Rir significa perder a esperança, não acreditar na mudança. Nesse sentido, a inserção, desde a Grécia Antiga, do riso desmedido e escancarado de Demócrito denuncia a impossibilidade de ver uma perspectiva solucionadora para a vida social. Tal riso invade primeiramente a própria vida na polis por Demócrito, mas encontra seu apogeu no teatro grego. O próprio Aristóteles dedica uma obra para discorrer sobre a Comédia, depois de mostrar a catarse da tragédia. O livro é anunciado pelo próprio Aristóteles ao discorrer de forma inicial e superficial sobre a tragédia, porém, não se sabe da conclusão e nem do paradeiro do mesmo. O filme O nome da Rosa do diretor Jean Jacques Annaud, baseado no livro de Umberto Eco se propõe a discutir a existência do texto de Aristóteles.
Voltando a questão proposta para Antônio Vieira e Jerônimo Caetano, podemos adapta-la ao contexto vigente, especificamente ao processo eleitoral brasileiro de 2010. A questão persiste: “O mundo é mais digno de lágrimas ou de risos?” Contextualizando-a: “A política brasileira é mais digna de lágrimas ou de risos?”
Se remetermos as duas últimas décadas da história política do país ao anfiteatro grego, teríamos que tipo de dramaturgia: tragédia ou comédia? Entendendo que somente na arte podemos nos dar ao choro ou riso, o anfiteatro torna-se o local único para experimentarmos e expressarmos tais emoções, apesar de que aqui não passa de um simulacro.
Nós brasileiros diante desse “espetáculo” político contemporâneo seriamos tomados por um choro emocionado que expressa a felicidade diante de práticas com as quais nos identificamos e nos sentimos amparados em nossas misérias sociais? Ou o choro denunciaria a infelicidade decorrente de uma política omissa e corrupta, cuja reação expressa um sentimento consciente de revolta que ainda nos arrasta à ação? Ou ainda riríamos debilmente, como consequência de um processo alienatório que nos castra a percepção real dos acontecimentos e nos priva da ação? Ou então o riso seria nosso último recurso que denuncia a total impotência humana frente aos acontecimentos políticos, diante dos quais cabe como única expressão o riso, como dor mais profunda. O qual muitas vezes é causa e consequência da comédia realizada pelos próprios candidatos em suas campanhas, expressando que até eles mesmos tem na essência dos seus discursos o mesmo riso de descrédito de Demócrito.
Nesse sentido, o riso nos leva a uma omissão irônica, onde a prática se restringe ao deboche e não a mudança concreta. Por outro lado, o choro nos traz a consciência e a esperança que nos remete a mudança. Portanto, choremos a política brasileira, certos de que nosso choro nos trará a consciência necessária para mudarmos o curso do nosso país.
Estamos mais perto dos risos de Demócrito ou do choro de Heráclito? Quando um comediante é eleito com votação recorde o que podemos esperar, o que podemos concluir? Tiririca nos faz rir e nosso riso custará nossa esperança. Ele escapa do palco para a vida, para a polis moderna e sobre ele lançamos nossa dor mais profunda, nosso riso, que é no fundo, conforme o Padre Antônio Vieira, chorar com a boca. Pois, se podemos chorar de felicidade, podemos também rir de tristeza.

ENTRE LÁGRIMAS E RISOS

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Somos nossa História

Quando olhamos as pessoas a partir de suas histórias particulares, compreendemos as razões que as levam as mais variadas condutas. .Alguns comportamentos podem ser considerados exagerados, mas, vistos a partir de um conjunto sucessivo de fatos que se desenrolaram na vida de uma pessoa, podem ser perfeitamente compreensíveis.
Algumas vezes nos deparamos com situações inusitadas, falas aparentemente descontextualizadas, expressões indesejadas. Não entendemos, pois tais atitudes não correspondem com as expectativas sociais das ocasiões em questão.
Entre num culto evangélico e tente entender o que está ocorrendo ali; participe de um encontro num terreiro e avalie se puder o que acontece ali; visite um hospital psiquiátrico e observe o comportamento de um usuário do serviço. Se recortarmos as situações e a observarmos isoladamente, não encontramos as pessoas, encontramos reduções de momentos específicos vividos por um indivíduo. A pessoa num culto evangélico tem uma razão particular para estar ali, construída a cada passo que deu na vida, um após o outro, e só chegou ao passo atual, por conta de todos os outros passos. Assim acontece com os freqüentadores do culto afro e do sujeito adoecido num hospital. Somos esse acumulo de vivencias que, a cada uma que se soma a outra, por mais trivial que seja, nos leva a um sentido mais particular, pois é percebida a partir de leituras anteriores a ela, para depois, podermos lê-la.
Por essa razão, devemos aprender a ver as pessoas, não a partir de recortes de situações que nunca representam o que elas são na totalidade, mas devemos olhar para elas com um pouco mais de atenção, devemos olhar para suas histórias, para o conjunto de fatos que as tornam únicas e tentar entendê-las a partir da maior quantidade de informações possíveis.
Nossa proposta terapêutica consiste neste olhar, nesta forma de observar a vida sem querer dar a ela um sentido, mas perceber o sentido que emerge da vida que é vivida por alguém. Dessa forma, o sentido dado por cada um é sempre particular e único. Assim, o empenho do terapeuta é muito mais intenso, pois não pode se colocar a partir de uma formula única para compreender o sujeito a sua frente. O Divã é um lugar para pessoas únicas. O terapeuta deve se esforçar para ver a singularidade de cada um.
O sujeito no Divã é percebido e observado por outro sujeito, o terapeuta. Porém, esse último sujeito se anula ao máximo para poder ver emergir o sujeito a sua frente. Não podemos buscar introjetar nesse sujeito um outro sujeito, mas dessa relação, um pouco do terapeuta é sempre capitado pelo paciente, sendo a recíproca também verdadeira. É isso que nos torna melhores terapeutas.
A loucura é a ausência da sucessão dos fatos na vida de uma pessoa. As aparições de imagens podem ser para uma pessoa com vivência religiosa espíritos de pessoas mortas desejando contato, ou demônios a serem combatidos, ou mesmo anjos ou Deus. Mas, se tratando de desestrutura de pensamento, falta de sentido na vida, essas imagens são recortes sem sentido e, por isso, loucura. A loucura passa pela ausência de sentido numa história de vida.
A clínica propõe reorganizar a história e vida de uma pessoa e viabilizar um sentido pelo qual valha a pena continuar existindo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Curso de Cidadania para Profissionais da Área de Limpeza

Na data de 16 de Agosto de 2010, a ABADEUS formou a primeira turma do Segundo Semestre, no curso de capacitação de agentes de limpeza. O curso foi dividido em dois módulos: sendo que um módulo contém a parte técnica e o segundo módulo sobre cidadania, contendo as discussões sobre personalidade, sociedade, política, trabalho e renda e ética profissional.


Fiquei responsável pela parte de cidadania.


Mais uma atividade realizada pela ABADEUS em parceria com a Prefeitura Municipal de Criciúma.




quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Vivência Terapêutica









Realizei na EEB Lindolfo Collor a Vivência Terapêutica "O Humano por trás do Educador", nos dias 28 e 29 de Julho de 2010. A vivência foi dividida em dois momentos: um primeiro para trabalhar de forma mais introspectiva e um segundo para trabalhar o grupo e o Projeto de Educação do grupo.











No final fomos agraciados pela comemoração do aniversário da educadora Edenir Barbosa.

Meus votos para que a deireção e a equipe pedagógica, juntamente com os professores construam um grande projeto de educação pública.

terça-feira, 10 de agosto de 2010



O Projeto Ponto de Cultura da ABADEUS, o qual participo, teve a visita da RBS que realizou uma bela entrevista sobre a Escolinha de Cinema, que faz parte das ações do Ponto de Cultura. O objetivo do projeto é viabilizar o acesso a Cultura.


Para essa finalidade temos muitas ações a realizar, dentre elas destacamos a Escolinha de Cinema, que visa oportunizar por meio de oficinas a compreensão de todas as etapas da produção cinematográfica, para crianças e adolescentes. Por meio deste trabalho as crianças e adolescentes poderão contar suas histórias por meio de documentários e desenhos, fazendo um resgate das suas histórias, das histórias de seus bairros e de suas vidas.



quarta-feira, 28 de julho de 2010

Perdas

Pairou na atmosfera um ar de impossibilidade

Ar que respiro e pesa sobre mim

Suportá-lo significa lidar com o peso do não realizado

do não vivido tal como havia idealizado

do sonho perdido e não mais encontrado.



Quem sou eu que respira o ar pesado da existência

que sofre a dor da perda do nunca alcançado

do amor que nunca veio, do coração vazio que se via cheio

ao ver no outro o que eu mesmo emprestava para defini-lo

o que eu queria que fosse, o que eu queria ver, o que eu queria ser



Eu aqui que agora experimento o mundo

que sou atravessado por tudo o que não sou eu

percebo que meu sofrimento é outro

não mais com os ideais e amores sonhados

mas com a vida que me convida e o caminho que me desafia



Quem sou eu que desisti de vôos tão altos

que encontro nos passos dados no caminho

mais sentido do que a chegada almejada por tantos

que aprendi que a vida se faz de ação

mais do que de sonhos, mais do que de ilusão.



Eu que amo e já não sonho com amor

que procuro coerência política sem almejar revoluções

que clamo num deserto sem a pretensão de ser ouvido

que faço escolhas sem almejar ser escolhido

que escrevo poesia sem querer ser entendido.

Basta a vida, a minha vida...

É tudo que tenho

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Vivência Terapêutica no Colégio Hermann Spethmann

Nos dias 19 e 20 de Julho de 2010, aconteceu na Semana Pedagógica do Colégio Hermann Spethmann a Vivência Terapêutica “O Humano por trás do Educador”, tendo como foco proporcionar um momento de reflexão sobre a vida e o ofício do educador.
A vivência foi dividida em dois momentos: sendo o primeiro relacionado a vida pessoal do educador e o segundo relacionado ao grupo de educadores.



Toda temática fora desenvolvida com finalidade de possibilitar um momento de troca, de escuta e de intervenção terapêutica, bem como de aprendizado e fortalecimento no âmbito da vida individual e das relações do grupo de educadores.

O objetivo da vivência realizada foi refletir junto com os educadores o limite da doação para realização do ofício de educar, sem perder a integridade emocional e o fortalecimento dos sujeitos que sustentam essa difícil tarefa, por meio de atividades como palestras e vivências a partir da teoria existencialista de Sartre. De forma mais abrangente, a discussão sobre o projeto em comum do grupo de professores do CHS foi discutido no segundo momento.



Um grande abraço à direção, coordenação pedagógica, professores e demais funcionários do CHS.











terça-feira, 6 de julho de 2010

Espontaneidade da Emoção na Criança

Nós adultos, cheios de amarras, tais como um polvo que se enrola com seus próprios tentáculos, tentando compreender a distância que temos de nossas emoções. As costuras que nos impedem de vivenciar livremente nossas emoções estão postas no tecido de nossa existência. Qual a razão dessa forma tão tosca e rude que temos ao lidar com as coisas do universo emocional? O que sabemos de fato é que vamos perdendo a espontaneidade na exata medida em que crescemos, pois ao crescer somos inseridos num mundo de contenção necessária para lidar com situações rígidas e bem estruturadas da nossa sociedade. Penso que por essa razão a arte se torna fundamental, como resgate simulado das emoções perdidas.
Como definir a importância da arte em nossa vida. Ela possibilita um simulacro de emoções que já não são vivenciadas, mas são experimentadas por uma platéia que sabe que a emoção não é sua e sim emprestada. A catarse na arte é o momento mágico do extravaso, do riso ou do choro. E ela só existe e só é permitida na arte, exatamente porque a vida não pode se ocupar dessa desestruturação da forma.
A arte é o retorno a espontaneidade, ou ao menos o chamado para ela. Se é um chamado, não é um caminho para o futuro e sim um resgate do passado, pois esse livre curso da emoção é facilmente encontrado na criança, na sua catarse ferquente e sem a censura do adulto.
Talvez nessa reflexão se encaixe a razão que leva as mais bárbaras violências contra a criança: da agressão física a psicológica. Tal violência só pode ser uma forma de punir a perda total da espontaneidade e a certeza de uma vida sem emoção como é a de um psicopata.
Por fim, as crianças nos fazem resgatar a infantilidade que nos resgata a própria vida, ou ao menos, o que há de essencial nela: para além da razão, a emoção.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O Peso do Mundo

Existe uma tendência feminina de chamar para si o peso e a responsabilidade, não apenas das suas práticas, mas, sobretudo, das práticas dos outros. Nisso, o feminismo ainda não pôde dar respostas, pois o feminismo é um movimento político e não faz introspeções, não avalia as implicações internas da cultura na vida das mulheres. O feminismo é um basta a tudo o que a mulher sofre, mas o sofrimento só é superado na luta.

Do ponto de vista psicológico, existem motivos que fazem com que a mulher permita ser usada como coluna que sustenta a fragilidade masculina não assumida e a fragmentação da estrutura familiar. A mulher carrega o peso do mundo e, por fim, sem merecer, se pune e se considera ela mesma um peso no mundo.

Não são poucas as mulheres que no divã dividem com o terapeuta o peso da responsabilidade que lhes é outorgada injustamente. A mulher conseguiu a independência financeira por trabalhar fora de casa e, ao mesmo tempo, teve que lidar com a dupla jornada de trabalho: o trabalho fora de casa e o trabalho com a casa e os filhos. Ela pôde escolher o parceiro pela segunda vez, rompendo com o casamento quando não lhe agrada e em consequência teve que cuidar dos filhos, cabendo ao homem a pensão, não a responsabilidade e o cuidado.

Apesar de toda a insegurança que tem, faz escolhas e decide coisas que os homens se negam a fazer. Deixa de olhar para si e passa a olhar para os cuidados da casa, dos filhos, da profissão, do marido, do ex-marido, do atual namorado, da mãe e de seu pai. Cuidar! Essa é a palavra que a define. Cuidar de todos menos dela mesma.

O processo terapêutico visa devolver a mulher sua dignidade, sua tranquilidade, seu amor próprio, sua felicidade. Parece que, com raras exceções, a mulher encontra no divã o canal aberto para despejar todo o peso que carrega sem poder. Deveríamos construir mais canais de despejo das amarguras do mundo que habita o universo feminino. Acima de tudo, deveríamos aprender a dividir com ela o peso das responsabilidades.

Freud acertou ao ver a mulher desenvolvendo quadros de histeria. Como não seria assim? A mulher, de alguma forma tem que encontrar uma válvula de escape para suas incapacidades de lidar com o peso que lhe obrigam a carregar.