quarta-feira, 4 de março de 2009

Vida e Teoria de Adam Smith

A VIDA DE ADAM SMITH

A data do nascimento do filósofo e economista escocês Adam Smith é inserta. Segundo John Era, um de seus mais conceituados biógrafos, Smith nasceu em 5 de Junho de 1723. Hoje sabemos que a suposta data de nascimento é a data de batismo de Adam Smith, continuando inserta a data de seu nascimento. Sobre sua infância, pouco se sabe. A morte pré-matura do pai, poucos meses antes do seu nascimento estreitou os laços de afeto entre Smith e sua mãe, que perduraram até o fim de suas vidas (a mãe de Adam Smith morreu dois anos antes da morte de Smith, em 1788).
Após concluir seus estudos secundários em Kirkcaldy, foi admitido na Universidade de Glasgow, realizando estudos dos clássicos gregos, matemática, teologia e filosofia. O professor protestante Francis Hutcheson, uma das maiores expressões da Filosofia do Direito Natural, exerceu grande influência sobre Smith nesse período em que estudou na Universidade de Glasgow. Antes de concluir seus estudos em Glasgow, recebeu uma bolsa para estudar em Balliol College, Oxford. Aceitou o convite, porém, além de obter maior compreensão dos clássicos da literatura, sua experiência em Oxford, pouco contribuiu para seu pensamento, por conta do dogmatismo religioso presente na instituição.
Adam Smith, depois de concluir seus estudos, voltou à Kirkcaldy para iniciar sua vida no magistério, oferecendo cursos de inverno, de literatura inglesa. Sua reputação o levou ao cargo de professor de Lógica de Glasgow. Em 1752 Smith torna-se professor de Filosofia Moral de Glasgow, cargo que permaneceu sem interrupções até 1764.
Sua inserção na elite intelectual escocesa foi imediata. Dessas novas relações, surgiram importantíssimas amizades, dentre elas, destacamos a amizade de David Hume. Hume e Smith discutiram conceitos de filosofia e política, também trocaram cartas quando distantes até a morte de Hume em 1776. O empirismo de Hume influencia Smith a ponto de abandonar suas influências iniciais da Filosofia do Direito Natural de seu antigo professor Francis Hutcheson.
Em 1759 Smith publica Teoria dos Sentimentos Morais, fazendo parte de um ambicioso projeto que cominara no seu mais famoso livro A Riqueza das Nações (Inquérito sobre a Natureza e a Causa das Riquezas das Nações). Resultados das suas aulas de Filosofia Moral lecionadas na Universidade de Glasgow. Porém, um convite para ser tutor do jovem Duque de Buccleugh, faz com Smith deixe o cargo de professor de filosofia para ir à França. Na sua viagem acabou conhecendo Voltaire e reencontrou Hume em Paris. Na França Smith estudou com bastante entusiasmo os princípios do racionalismo liberal francês, que o influencia na produção de sua obra considerada a mais expressiva, A Riqueza das Nações.
Ao retornar para Kirkcaldy, passou cerca de seis anos inteiramente comprometido com a produção de A Riqueza das Nações. A obra, apesar de mudar o mundo acadêmico dos séculos XVIII, XIX e XX, não foi aceita com entusiasmo, por ter princípios do racionalismo francês na época das investidas de Napoleão. Adam Smith morreu aos 67 anos, em 17 de Julho de 1790, não vivendo para ver os efeitos surpreendentes de seu pensamento sobre o mundo pós A Riqueza das Nações. No último dia 17 de Julho, fez 218 anos da data da morte de Adam Smith. Hoje nos propomos a discutir a formação de seu pensamento e suas influências sobre o mundo pós Smith.

INFLUÊNCIAS SOBRE SMITH

Enquanto professor de Filosofia Moral da Universidade de Glasgow, Smith publicou Teoria dos Sentimentos Morais. O livro exalta a moral cristã, como a excelência da virtude. Para Smith, as relações humanas davam-se pela simpática dos sentimentos que, por meio da experiência, aprendemos a considerar importante, relacionando-os com os mesmos sentimentos encontrados nos outros. Dessa forma, simpatizamos com os outros a partir de uma relação de conveniência. Sendo que, somente a virtude cristã escapa a relação egoísta da conveniência para a relação altruísta do amor pelo outro sem a relação com o sentimento de quem ama consigo. Assim, percebemos na obra de Adam Smith as influências religiosas da Filosofia do Direito Natural do professor protestante Francis Hutcheson, como também dos anos de estudo em Glasgow e Oxford.
Porém, foi David Hume que exerceu grande influência sobre seu pensamento. Podemos ver claramente a influência de Hume nas suas duas grandes obras: Teoria dos Sentimentos Morais e A Riqueza das Nações. A primeira evidencia-se numa discussão filosófica sobre a construção dos sentimentos morais, sendo que estes surgem a partir da experiência. Para Smith, um homem que tem seu pai ainda vivo não se sensibilizará tanto com a morte do pai de alguém, quanto um homem que já presenciou a morte de seu pai. Nesse sentido, Smith mostra que os sentimentos morais surgem a partir da experiência. A segunda obra mostra de forma mais abrangente o empirismo de Hume. Para Adam Smith, todas as relações econômicas são relações de conveniência: “Não é da bondade do homem do atalho, do cervejeiro ou do padeiro que podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração em que eles têm o seu próprio interesse” (A Riqueza das Nações). Smith considerou os homens como resultado da experiência, mas precisamente da divisão do trabalho “Os homens de diferentes profissões, quando atingem a maturidade, não são, em muitos casos, tanto a causa como o efeito da divisão do trabalho” (A Riqueza das Nações). Assim, os homens tornam-se sujeitos nas relações determinadas pelas condições econômicas, evidenciando assim a relação da sua teoria com o empirismo de Hume.
Durante o período que Smith passou na França, intensificou seus estudos sobre o racionalismo francês iluminista de Descartes. A presença do cartesianismo francês ficou evidente já no primeiro capítulo de A Riqueza das Nações, pois Smith considera o princípio da razão e fala como essenciais para a propensão à troca, desenvolvida de forma lenta e gradual, possibilitadora da prática capitalista. Quando Adam Smith entende que a propensão à torça é resultado de princípios naturais como o raciocínio e a fala, ele considera o homem a partir de uma razão inata, portanto, sua relação com o cartesianismo mostra-se estreita. Mas ao considerar o homem nessa perspectiva, torna o desenvolvimento do capitalismo como sendo natural. O homem, por conta de elementos intrínsecos, torna o capitalismo parte de sua natureza.
Segundo o professor de economia Alcides Goularti Filho da UNESC (Universidade do Extremo Sul Catarinense), existe princípios de causalidade newtoniana na obra A Riqueza das Nações. Desde o título (do original: Inquérito sobre a Natureza e a Causa das Riquezas das Nações) até a divisão do trabalho, podemos perceber uma relação com a física newtoniana. A utilização desses conceitos deu dimensão científica requerida na época para discutir economia.

SMITH E O MUNDO CONTEMPORÂNIO

É impossível avaliar de forma precisa as contribuições do pensamento smithiano para o mundo que seguiu depois de suas obras. Suas contribuições iniciam quando Smith, por conta do racionalismo cartesiano e das influências da física natural de Newton, insere no bojo da academia a economia política como uma dimensão da ciência. Podemos concluir que foi Smith o pai da Economia Política. Assim, toda discussão posterior sobre economia, mesmo aquelas contrárias ao seu pensamento, encontraram espaço na academia por conta da perspicácia de Smith ao usar métodos considerados científicos para época com finalidade de estudar economia.
A propensão à troca como conseqüência de princípios naturais, possibilitou o embasamento teórico necessário para eliminar as críticas ao modelo liberal da economia mercantilista, acelerando o desenvolvimento do capital livre, necessário para mais tarde desenvolver o capitalismo como um processo considerado natural. Foi essa perspectiva da naturalização do capitalismo, tornando-o parte da condição natural e, portanto, seu desenvolvimento também passou a ser considerado como natural, que proporcionou maior aceitação do modelo liberal da economia capitalista. Dessa forma, pode-se pensar o capitalismo como sendo auto-regulador e um sistema sem contradições. Porém, na medida em que se estruturou, nos séculos posteriores, o capitalismo, ficou evidente sua contradição, gerando críticas ao pensamento smithiano. Marx, contrapôs Smith com evidências históricas das contradições da sociedade capitalista, que gera, por conta do acumulo de capital, exploração, pobreza, etc.
A teoria liberal de um Estado mínimo, sem interferência direta e consistente na economia foi possível de ser pensada após A Riqueza das Nações, pois a idéia da auto-regulação da economia descarta o controle do Estado. Podemos perceber a força do pensamento smithiano nas políticas de privatizações que ocorreram no Brasil nos últimos governos. As leis de oferta e procura, mais valia, lucro, são algumas das conseqüências do pensamento de Adam Smith no mundo contemporâneo, porém, não é certo dizer que Adam Smith pregava tais tendências do. Pois pensava que o capitalismo seria naturalmente regulado por conta dos princípios da natureza humana que o tornam possível.
Por fim, podemos citar o também professor de economia da UNESC, Sandro Eduardo Grisa, que demonstra a percepção de seu amadurecimento intelectual na leitura dos clássicos, dentre eles destaca a obra A Riqueza das Nações: “A leitura dos clássicos é como um olhar no espelho, neles eu vejo minha própria evolução intelectual”. Podemos dizer que a leitura de sua obra de economia é indispensável para compreensão do capitalismo, seja para afirmá-lo ou criticá-lo. Mesmo com todas as contradições, Adam Smith ainda não foi inteiramente superado e sua obra continua sendo referência para o estudo da economia política.

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