O Nascimento de Cristo, na tradição religiosa ocidental, encerra uma contagem de datas e inaugura outra. Obviamente que estou me deixando levar por uma reflexão nada científica, pois caso fosse científica, questionaria a exatidão desta data em que se comemora o nascimento de Cristo. Mas almejo algo diferente com este texto, algo que podemos aprender com a religião cristã.
A conversão ao cristianismo se dá na seguinte perspectiva: deixar para trás a vida que se viveu e começar uma vida nova, ou seja, a conversão é uma divisão entre o antes e o depois. O passado deve ser esquecido, uma borracha deve ser utilizada para apagar os erros de outrora, pois um caminho novo se abre à frente do novo cristão. A suposta data de seu nascimento também é um divisor de águas: entre o Antigo e o Novo Testamento, entre o que os cristãos chamam de Lei e a Graça, entre a distância de Deus e Emanoel Deus conosco.
Dentro da reflexão aqui proposta, acrescento ainda outra reflexão que ruma no mesmo sentido. Não sei se coincidência ou não, mas o Natal está a uma semana da virada de ano. Uma outra festa que de fundo têm a mesma proposta: deixar para trás o ano que passou e se voltar para o ano que vem, desejando que o último aqui dito seja melhor do que o primeiro. A mesma lógica permanece, deixar para trás as coisas velhas, gastas, sujas e entrar numa nova jornada, num novo momento.
O que nos impede de viver o novo senão o fato de estarmos presos ao passado? Muitos de nós não conseguem se livrar do passado que insiste em nos assombrar. Muitas vezes, todos os ritos não são o suficiente para exorcizar o passado, lavar a alma, pois o passado não pode ser exorcizado tal como um demônio, pois nosso passado nada mais é do que uma parte importante de nossa vida. Precisamos resolver o passado para poder viver o presente e esperar o futuro.
Se ano que passou não foi bom, deve ser posto para balanço, se a vida até aqui não tem sido boa, deve ser posta para balanço. O divã não serve para fazer esquecer o passado ou comemorar a vinda do futuro, serve para resolver o passado e dar condições de fazer da vida continuidade do passado, podendo lembrá-lo sem dor e sofrimento, não sendo ele impedimento da felicidade que está logo ali, aqui.
Por último, o tempo nos mostra muitas coisas, basta observarmos bem. Em todas as datas devemos refletir sobre nossa própria história e parar para resolver o que está errado, escrever outra vez, fazer diferente, pois sempre a nossa frente, teremos inúmeras possibilidades, inúmeras oportunidades, muitos caminhos.
Feliz Natal e Boas Festas.
Aqui encontram-se ensaios filosóficos, políticos, artísticos, crônicas, poesias, artigos de Psicologia e reflexões de minha autoria. Visam contribuir com a compreensão da existência humana.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
domingo, 20 de dezembro de 2009
Compulsão ao Consumo
As vezes observo as crianças brincando com seus brinquedos novos, ganhos em épocas natalinas. Agarram-nos apertadamente por algumas horas, depois deixam jogados pelo chão. Interessante esse movimento infantil, como se quisessem preencher com seus objetos a própria alma. Esse é apenas um primeiro passo ao consumo, de tantos outros passos que se seguirão na medida da inserção dessas crianças ao capitalismo de consumo que nos diz desde os primeiros passos o caminho a seguir.
O impulso ao consumo é de fato uma realidade contemporânea, algo já previsto por Baudrillard, sociólogo francês. O pensador que escreveu Sociedade de Consumo nos diz que os homens estariam no futuro apenas em contato com seus objetos de consumo. Diminuímos as relações com as pessoas, aumentamos nossas relações com os objetos. Na verdade, as pessoas também se tornam objetos de consumo – nos consumimos, uns aos outros – e isso ocorre nas mais diversas formas das relações humanas. Quando o outro se torna também objeto de consumo, algo que tem um preço e existe para minha satisfação, algo de errado está no ar.
A compulsão a ter de consumir de qualquer forma, a ter de ter as coisas a qualquer custo, gera uma forma patológica de encarar as relações. Passamos a perseguir nossos objetos, a achar que a felicidade estará na aquisição do novo carro esportivo, no efeito fantástico do novo creme de pele, ou do novo condicionador. A indústria da felicidade está à disposição, inventando qualquer coisa que venda.
E onde ficamos nisso tudo? Ficamos assim: ou buscamos consumir tudo o que a mídia nos oferece, nos frustrando no exato momento que chegamos dos centros comerciais cheios de sacolas, como crianças, mas continuamos a perseguir outros objetos achando que na próxima compra estará a felicidade; ou estaremos do outro lado, daqueles que nunca poderão comprar e, por isso, se frustrarão por nunca poderem ter.
A felicidade não está em nada disso! Estamos perdendo algo essencial, a vida. Há Mario Quintana, a felicidade está na sua poesia, que sabias palavras. Não nessa loucura vendida, na beleza que deve ser atingida, na riqueza, não que não devemos ter dinheiro, mas, sobretudo, devemos saber usa-lo e não nos tornarmos escravos. Rir com um bom amigo, curtir um filho, receber um abraço, um carinho. Fazer uma aventura, arriscar uma flertada, comer uma pizza com a namorada, ficar nervoso no primeiro encontro, no primeiro dia do trabalho desejado, com o primeiro filho. Existem tantas coisas que a vida nos dá que não podem ser consumidas e que não acabam rápido. Quando você se rende ao consumo, sente a vida ser consumida, acabar e perde de viver. Perde a vida.
O impulso ao consumo é de fato uma realidade contemporânea, algo já previsto por Baudrillard, sociólogo francês. O pensador que escreveu Sociedade de Consumo nos diz que os homens estariam no futuro apenas em contato com seus objetos de consumo. Diminuímos as relações com as pessoas, aumentamos nossas relações com os objetos. Na verdade, as pessoas também se tornam objetos de consumo – nos consumimos, uns aos outros – e isso ocorre nas mais diversas formas das relações humanas. Quando o outro se torna também objeto de consumo, algo que tem um preço e existe para minha satisfação, algo de errado está no ar.
A compulsão a ter de consumir de qualquer forma, a ter de ter as coisas a qualquer custo, gera uma forma patológica de encarar as relações. Passamos a perseguir nossos objetos, a achar que a felicidade estará na aquisição do novo carro esportivo, no efeito fantástico do novo creme de pele, ou do novo condicionador. A indústria da felicidade está à disposição, inventando qualquer coisa que venda.
E onde ficamos nisso tudo? Ficamos assim: ou buscamos consumir tudo o que a mídia nos oferece, nos frustrando no exato momento que chegamos dos centros comerciais cheios de sacolas, como crianças, mas continuamos a perseguir outros objetos achando que na próxima compra estará a felicidade; ou estaremos do outro lado, daqueles que nunca poderão comprar e, por isso, se frustrarão por nunca poderem ter.
A felicidade não está em nada disso! Estamos perdendo algo essencial, a vida. Há Mario Quintana, a felicidade está na sua poesia, que sabias palavras. Não nessa loucura vendida, na beleza que deve ser atingida, na riqueza, não que não devemos ter dinheiro, mas, sobretudo, devemos saber usa-lo e não nos tornarmos escravos. Rir com um bom amigo, curtir um filho, receber um abraço, um carinho. Fazer uma aventura, arriscar uma flertada, comer uma pizza com a namorada, ficar nervoso no primeiro encontro, no primeiro dia do trabalho desejado, com o primeiro filho. Existem tantas coisas que a vida nos dá que não podem ser consumidas e que não acabam rápido. Quando você se rende ao consumo, sente a vida ser consumida, acabar e perde de viver. Perde a vida.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Feridas na Alma
A palavra Alma tem sido utilizada para se referir ao que chamamos de mundo interior, ou seja, o conjunto de sentimentos, emoções, vivencias, significações e pensamentos que pertencem a cada indivíduo. Mas nem sempre alma teve esse significado. Já significou, em momentos historicamente distantes, coração, vida, sangue e, em idiomas como hebraico e o grego, o sentido da palavra alma se aproximou do sentido da palavra espírito, que significava sopro de vida, vento, anjos e demônios...
Husserl, filósofo e matemático alemão, mudou a leitura que a Psicologia tinha da alma, pois afirmava a existência de um elo entre a alma e o mundo em sua volta. Husserl chamou esse elo de intencionalidade da consciência. Não nos deteremos aos dados técnicos que aqui nada interessam, nos deteremos a compreensão de como a alma passou a ser entendida na Psicologia depois de Husserl, principalmente a Psicologia Fenomenológica-Existencialista, para poder entender o processo que ocasiona o que aqui chamamos de feridas na alma.
A partir da reflexões de Husserl, algumas ilusões mantidas pela filosofia idealista e pela religião começaram a ruir, pois a alma não pôde mais ser considerada como existindo desde sempre, contendo em si tudo o que necessita, como se estivesse completamente separada do mundo a sua volta. A primeira grande verdade que aparece é que as coisas com as quais estabelecemos relação nos afetam. Há um canal, pelo qual, fazemos parte do mundo a nossa volta e o mundo passa a fazer parte de nossa interioridade.
Assim, torna-se inevitável que as coisas com as quais estabelecemos relação, ora ou outra, nos afete, nos fira. São as coisas que experimentamos e não fazem bem, as palavras ásperas que ouvimos e nos calamos diante delas, o dia-a-dia dos conflitos inevitáveis dos relacionamentos que nas palavras do poeta encontram o sentido do que almejo expressar: “... como rios secando e as pedras cortando” (Gonzaguinha), referindo-se ao embate entre dois mundos interiores na tentativa de uma relação amorosa que, para poder ser bem sucedida, tem de encontrar a forma mais adequada para que um possa entrar no mundo do outro e deixar que outro entre no seu mundo. Mas, mesmo que a forma mais adequada seja atingida, sempre esbarraremos em farpas. Merleau-ponty, filósofo francês, diz que a relação que estabelecemos com o mundo pode ser comparada ao lábio superior tocando no lábio inferior, deixando um pouco de sua carne e recebendo um pouco da carne do outro lábio. Assim, vivemos deixando um pouco de nossa carne no mundo que resolvemos habitar e colhemos um pouco da carne do mundo habitado. O desafio clínico é encontrar o caminho mais adequado para cada sujeito nas suas relações com o mundo e com os outros.
Husserl, filósofo e matemático alemão, mudou a leitura que a Psicologia tinha da alma, pois afirmava a existência de um elo entre a alma e o mundo em sua volta. Husserl chamou esse elo de intencionalidade da consciência. Não nos deteremos aos dados técnicos que aqui nada interessam, nos deteremos a compreensão de como a alma passou a ser entendida na Psicologia depois de Husserl, principalmente a Psicologia Fenomenológica-Existencialista, para poder entender o processo que ocasiona o que aqui chamamos de feridas na alma.
A partir da reflexões de Husserl, algumas ilusões mantidas pela filosofia idealista e pela religião começaram a ruir, pois a alma não pôde mais ser considerada como existindo desde sempre, contendo em si tudo o que necessita, como se estivesse completamente separada do mundo a sua volta. A primeira grande verdade que aparece é que as coisas com as quais estabelecemos relação nos afetam. Há um canal, pelo qual, fazemos parte do mundo a nossa volta e o mundo passa a fazer parte de nossa interioridade.
Assim, torna-se inevitável que as coisas com as quais estabelecemos relação, ora ou outra, nos afete, nos fira. São as coisas que experimentamos e não fazem bem, as palavras ásperas que ouvimos e nos calamos diante delas, o dia-a-dia dos conflitos inevitáveis dos relacionamentos que nas palavras do poeta encontram o sentido do que almejo expressar: “... como rios secando e as pedras cortando” (Gonzaguinha), referindo-se ao embate entre dois mundos interiores na tentativa de uma relação amorosa que, para poder ser bem sucedida, tem de encontrar a forma mais adequada para que um possa entrar no mundo do outro e deixar que outro entre no seu mundo. Mas, mesmo que a forma mais adequada seja atingida, sempre esbarraremos em farpas. Merleau-ponty, filósofo francês, diz que a relação que estabelecemos com o mundo pode ser comparada ao lábio superior tocando no lábio inferior, deixando um pouco de sua carne e recebendo um pouco da carne do outro lábio. Assim, vivemos deixando um pouco de nossa carne no mundo que resolvemos habitar e colhemos um pouco da carne do mundo habitado. O desafio clínico é encontrar o caminho mais adequado para cada sujeito nas suas relações com o mundo e com os outros.
E se a Vida se Repetir Eternamente
O termo Eterno Retorno desenvolvido por Nietzsche, considera a repetição constante da vida uma condição eterna, ou seja, todas as coisas retornam eternamente. Assim, viveremos a mesma vida, com toda a dor e felicidade, eternamente. Tudo o que existiu, existirá outra vez, a história se repetirá, as múltiplas formas de organização da matéria se repetirão, pois as forças são eternamente ativas. A vida, para Nietzsche, se constitui como vontade de potência e são essas energias potencializadas que se repetem eternamente, pois a eternidade é a condição do ciclo da ação das forças.
Dessa forma, Nietzsche concluiu que o Eterno Retorno só pode ser compreendido como um circulo eterno de manifestação de forças, sem jamais chegar a um momento de repouso, sem jamais chegar a um equilíbrio, mas seus movimentos são de igual grandeza para cada tempo. Assim, todos os instantes da vida retornarão, cada dor, cada alegria, cada tristeza, cada prazer, enfim, todos os momentos.
A partir dessa compreensão, Nietzsche lança a reflexão que se deve fazer diante da perspectiva de se viver o Eterno Retorno, pois diante dele se percebe as forças ativas e reativas que dão origem a moral.
O que Nietzsche nos mostra com o pensar na perspectiva do Eterno Retorno é que cada momento deve ser vivido com toda a intensidade a fim de que esse momento se torne eterno. Amar de tal forma esse momento, desejá-lo de tal forma que o desejo deve querer viver outra vez esse instante. Assim, desejar viver outra vez um momento é afirmar a vida e não desejar viver outra vez o momento é negá-la. Podemos odiar ou amar a vida ao penarmos na sua repetição constante. Imaginá-la repetindo-se pode nos causar horror ou alegria e esses sentimentos vão nos posicionar como fortes ou impotentes diante da vida.
Para muitos tal reflexão é angustiante e inaceitável, porém, ao pensarmos na vida de Nietzsche, perceberemos a estreita relação com sua filosofia. Perdeu o pai cedo, teve uma saúde debilitada e por fim enlouqueceu ainda na maturidade, loucura da qual nunca se recuperou, levando-o ao óbito. Dizem que sua loucura foi resultado de uma DST, outros dizem que foi um problema fisiológico, enquanto outros diziam que foi sua própria filosofia. Mas, o importante não é definir o motivo e sim perceber que Nietzsche amava a vida com todas as sua inquietações, instabilidades e sofrimentos. É dele a frase: “Porque, note-se bem: foi precisamente nos anos da minha mais débil vitalidade que eu cessei de ser pessimista” (Nietzsche, Ecce Homo).
Assim, podemos tirar proveito dessa reflexão de Nietzsche, pensando se de fato amamos nossa vida. A resposta é: somente amamos o que superamos, nunca os traumas. Talvez haja muito para ser resolvido em cada um de nós, a questão é se queremos resolver ou não.
Dessa forma, Nietzsche concluiu que o Eterno Retorno só pode ser compreendido como um circulo eterno de manifestação de forças, sem jamais chegar a um momento de repouso, sem jamais chegar a um equilíbrio, mas seus movimentos são de igual grandeza para cada tempo. Assim, todos os instantes da vida retornarão, cada dor, cada alegria, cada tristeza, cada prazer, enfim, todos os momentos.
A partir dessa compreensão, Nietzsche lança a reflexão que se deve fazer diante da perspectiva de se viver o Eterno Retorno, pois diante dele se percebe as forças ativas e reativas que dão origem a moral.
O que Nietzsche nos mostra com o pensar na perspectiva do Eterno Retorno é que cada momento deve ser vivido com toda a intensidade a fim de que esse momento se torne eterno. Amar de tal forma esse momento, desejá-lo de tal forma que o desejo deve querer viver outra vez esse instante. Assim, desejar viver outra vez um momento é afirmar a vida e não desejar viver outra vez o momento é negá-la. Podemos odiar ou amar a vida ao penarmos na sua repetição constante. Imaginá-la repetindo-se pode nos causar horror ou alegria e esses sentimentos vão nos posicionar como fortes ou impotentes diante da vida.
Para muitos tal reflexão é angustiante e inaceitável, porém, ao pensarmos na vida de Nietzsche, perceberemos a estreita relação com sua filosofia. Perdeu o pai cedo, teve uma saúde debilitada e por fim enlouqueceu ainda na maturidade, loucura da qual nunca se recuperou, levando-o ao óbito. Dizem que sua loucura foi resultado de uma DST, outros dizem que foi um problema fisiológico, enquanto outros diziam que foi sua própria filosofia. Mas, o importante não é definir o motivo e sim perceber que Nietzsche amava a vida com todas as sua inquietações, instabilidades e sofrimentos. É dele a frase: “Porque, note-se bem: foi precisamente nos anos da minha mais débil vitalidade que eu cessei de ser pessimista” (Nietzsche, Ecce Homo).
Assim, podemos tirar proveito dessa reflexão de Nietzsche, pensando se de fato amamos nossa vida. A resposta é: somente amamos o que superamos, nunca os traumas. Talvez haja muito para ser resolvido em cada um de nós, a questão é se queremos resolver ou não.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Em Busca de Nós Mesmos
Na Renascença a crença que perdurava era a da existência de um Eu Substancial, ou seja, uma alma dentro de nós desde sempre pronta. Descartes compactuava com essa ideia ao afirmar “penso logo existo”, deixando claro que antes da existência no mundo já existe um Eu que pensa o mundo. A Fenomenologia de Husserl, e principalmente a leitura de Husserl feita por Sartre, mostram uma nova compreensão da interioridade humana, daquilo que chamamos alma. Sartre passou a perceber que “a existência precede a essência”, ou seja, primeiro existimos, depois encontramos quem realmente somos. E o que encontramos? O conjunto de nossas experiências, o sentido particular que damos a própria existência. Não nascemos prontos, nos construímos a cada momento da vida, por isso, se refazer e se reinventar é possível.
O mais importante está no que dizemos a nós mesmos diante das experiências da vida. No sentido que damos a existência compomos um pouco mais de nossa essência. Nos tornamos mais nós mesmos em cada escolha autêntica que fazemos, nas reflexões a cerca dos passos que damos, no rumo que tomamos, no quanto estamos dispostos a conhecer a respeito de nossas reais vontades, desejos, limites, sentimentos. Eis o melhor e muitas vezes ignorado sentido da Psicoterapia Existencialista: o auto-conhecimento. Mais do que desabafar, aliviar uma dor, esvaziar a consciência culpada, encontrar um nome para um sofrimento psíquico ou mesmo aprender a se auto-afirmar. O que propomos de fato é um olhar mais atento para dentro. Não um olhar condenativo, mas um olhar curioso e gentil.
Não podemos escolher sempre as experiências que a vida, muitas vezes, sem nossa permissão, nos faz engolir, mesmo que o gosto amargo da dor seja evidente. Mas podemos dar o sentido que for melhor, mesmo as experiências angustiantes que passamos. O segredo é não se perder de si mesmo, se tornando para os outros algo que você não quer ser, um papel que lhe foi incumbindo. Antes de ser mãe você é mulher, antes de provedor você é homem, antes de trabalhador você é humano, antes de inválido para a sociedade o seu valor está no que você é para você mesmo, antes de estudante você é criança ou adolescente. O mais importante em você não está no pai que você é, na mãe que você é, no estudante, no trabalhador, no professor, mas no homem que você se tornou, na mulher, na criança, enfim, na pessoa que traz consigo as experiências de uma vida. Não ignore o que há de mais precioso, não perca-se de você mesmo nas experiências da vida, mas descubra-se nelas.
O mais importante está no que dizemos a nós mesmos diante das experiências da vida. No sentido que damos a existência compomos um pouco mais de nossa essência. Nos tornamos mais nós mesmos em cada escolha autêntica que fazemos, nas reflexões a cerca dos passos que damos, no rumo que tomamos, no quanto estamos dispostos a conhecer a respeito de nossas reais vontades, desejos, limites, sentimentos. Eis o melhor e muitas vezes ignorado sentido da Psicoterapia Existencialista: o auto-conhecimento. Mais do que desabafar, aliviar uma dor, esvaziar a consciência culpada, encontrar um nome para um sofrimento psíquico ou mesmo aprender a se auto-afirmar. O que propomos de fato é um olhar mais atento para dentro. Não um olhar condenativo, mas um olhar curioso e gentil.
Não podemos escolher sempre as experiências que a vida, muitas vezes, sem nossa permissão, nos faz engolir, mesmo que o gosto amargo da dor seja evidente. Mas podemos dar o sentido que for melhor, mesmo as experiências angustiantes que passamos. O segredo é não se perder de si mesmo, se tornando para os outros algo que você não quer ser, um papel que lhe foi incumbindo. Antes de ser mãe você é mulher, antes de provedor você é homem, antes de trabalhador você é humano, antes de inválido para a sociedade o seu valor está no que você é para você mesmo, antes de estudante você é criança ou adolescente. O mais importante em você não está no pai que você é, na mãe que você é, no estudante, no trabalhador, no professor, mas no homem que você se tornou, na mulher, na criança, enfim, na pessoa que traz consigo as experiências de uma vida. Não ignore o que há de mais precioso, não perca-se de você mesmo nas experiências da vida, mas descubra-se nelas.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
As Emoções
A Psicologia Existencialista compreende que as emoções sempre estão relacionadas com um objeto ou situação. Não há emoção que brota por si mesma de algo interno sem relação com o mundo a nossa volta. Ninguém fica triste sem motivo, pode ser que você não consiga relacionar a sua tristeza com um possível motivo, mas isso não quer dizer que não exista um. Na Psicanálise, por exemplo, quando não sabemos a razão de uma emoção sentida, atribui-se ao que Freud chamou de Inconsciente. O Inconsciente é um “local” em nós que abriga as vivências que não são mais lembradas.
Assim, nos diz a Psicanálise, quando acordamos pela manhã com um aperto no coração e não sabemos o motivo, foi porque num sonho (as vezes nem lembramos mais dele pela manhã) liberou do inconsciente uma emoção e não conseguimos fazer nenhuma conexão com uma situação específica. Essa emoção pode nunca ser compreendida, pois pode estar relacionada com algo vivenciado numa infância muito tenra. Na Psicologia Existencialista nossas emoções estão relacionadas com nossas experiências e, por isso mesmo, devem ser compreendidas a partir das experiências causadoras dessa: alegria, tristeza, amor, ódio, frustração...
Nós, Psicólogos Existencialistas, não trabalhamos com a ideia de um Inconsciente, mas concordamos com o fato de muitas vezes não conseguirmos associar nossa emoção a um fato específico. Porém, o mais importante para a Psicoterapia Existencialista é poder compreender a forma como sentimos nossas emoções e como construímos esse jeito particular de lidar com elas, que cada um de nós desenvolve durante a vida.
Um olhar mais atento sobre nós mesmos, principalmente quando estamos num processo terapêutico, mostra a intensidade das emoções que experimentamos. Não é por nada que para algumas pessoas a tristeza é mais intensa quando está diante de uma separação, enquanto outras ficam mais tristes com ausência de recursos financeiros e outras com a solidão. O motivo de maior ou menor emoção nas diferentes situações está no fato de que naquele momento que experimentamos a emoção como a tristeza pela separação, apesar de ser uma experiência única, ela é experimentada tendo um acumulo de tantos outros momentos de separação que se somam e indicam uma forma própria de lidar com a separação que foi construída ao longo da vida e, por isso mesmo, se sofre mais ou menos, pois depende do quanto essas situações nos afetaram.
Compreender a forma como lidamos com as emoções e como desenvolvemos essa estrutura de personalidade, esse jeito próprio de lidar com as coisas que, vez por outra nos afronta, é o primeiro passo dentro de uma terapia. Agora, conseguir modificar esse jeito de lidar com as emoções por outro que nos faça sofrer menos é o segundo e mais difícil passo. Para tal, deve existir apoio terapêutico para que a pessoa possa arriscar outras e diferentes formas de vivenciar as emoções. A ideia de mudança é o ponto que deve ser discutido, pena que muitas pessoas preferem sofrer da forma que já estão acostumadas do que mudar para uma vida melhor.
Assim, nos diz a Psicanálise, quando acordamos pela manhã com um aperto no coração e não sabemos o motivo, foi porque num sonho (as vezes nem lembramos mais dele pela manhã) liberou do inconsciente uma emoção e não conseguimos fazer nenhuma conexão com uma situação específica. Essa emoção pode nunca ser compreendida, pois pode estar relacionada com algo vivenciado numa infância muito tenra. Na Psicologia Existencialista nossas emoções estão relacionadas com nossas experiências e, por isso mesmo, devem ser compreendidas a partir das experiências causadoras dessa: alegria, tristeza, amor, ódio, frustração...
Nós, Psicólogos Existencialistas, não trabalhamos com a ideia de um Inconsciente, mas concordamos com o fato de muitas vezes não conseguirmos associar nossa emoção a um fato específico. Porém, o mais importante para a Psicoterapia Existencialista é poder compreender a forma como sentimos nossas emoções e como construímos esse jeito particular de lidar com elas, que cada um de nós desenvolve durante a vida.
Um olhar mais atento sobre nós mesmos, principalmente quando estamos num processo terapêutico, mostra a intensidade das emoções que experimentamos. Não é por nada que para algumas pessoas a tristeza é mais intensa quando está diante de uma separação, enquanto outras ficam mais tristes com ausência de recursos financeiros e outras com a solidão. O motivo de maior ou menor emoção nas diferentes situações está no fato de que naquele momento que experimentamos a emoção como a tristeza pela separação, apesar de ser uma experiência única, ela é experimentada tendo um acumulo de tantos outros momentos de separação que se somam e indicam uma forma própria de lidar com a separação que foi construída ao longo da vida e, por isso mesmo, se sofre mais ou menos, pois depende do quanto essas situações nos afetaram.
Compreender a forma como lidamos com as emoções e como desenvolvemos essa estrutura de personalidade, esse jeito próprio de lidar com as coisas que, vez por outra nos afronta, é o primeiro passo dentro de uma terapia. Agora, conseguir modificar esse jeito de lidar com as emoções por outro que nos faça sofrer menos é o segundo e mais difícil passo. Para tal, deve existir apoio terapêutico para que a pessoa possa arriscar outras e diferentes formas de vivenciar as emoções. A ideia de mudança é o ponto que deve ser discutido, pena que muitas pessoas preferem sofrer da forma que já estão acostumadas do que mudar para uma vida melhor.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Solidão como Oportunidade
Nem todos nós temos a capacidade de conviver com a solidão da forma como o filósofo alemão Nietzsche convivia. Adorava passar longos momentos sozinho. Uma frase dele nos traz sua compreensão e a importância que dava a solidão: “Não me tires da solidão se não fores me oferecer boa companhia”. A verdade é que estamos na contramão do ditado popular que diz: “antes só que mal acompanhado”. Parece que preferimos uma má companhia à solidão. É verdade que há um lado solitário dentro de todos nós, que hora ou outra se manifesta, mas a solidão constante muitas vezes nos angustia. Mesmo Nietzsche que era apaixonado pela solidão, entendia que seus escritos iriam ser compartilhados no futuro e isso o alimentava.
O grande dilema do mundo moderno é a solidão daqueles que estão acompanhados, ou seja, a solidão não como ausência de companhia, mas como sentimento implacável mesmo quando desfrutamos a companhia de outras pessoas. Os grandes centros demonstram tal tendência: sujeitos rodeados de pessoas, porém, solitários. A tecnologia dá sua contribuição com, por exemplo, a Internet, que conecta as pessoas de todo o mundo e as deixa solitárias nas suas casas, apartamentos e escritórios.
A tendência dos relacionamentos demonstra a dificuldade de querer ver o outro e se deixar ver pelo outro. Preferimos manter sempre uma certa distância nos relacionamentos, pensando assim evitar o sofrimento. A consequência mais imediata é realmente evitar o sofrimento, oriundo de um relacionamento mal sucedido, mas, em longo prazo, a distância que mantemos das pessoas nos leva à solidão.
Todos nós, em algum momento da vida, já experimentamos a sensação de estarmos sozinhos, a sensação de desamparo quando precisamos de apoio, de ter um abraço ao dormir e perceber que abraçamos o travesseiro ou o próprio corpo. A solidão nos persegue nas noites em claro, nos ônibus em que com o olhar perdido na janela, não olhamos para lugar algum, nos passos lentos e cambaleantes que damos com a cabeça inclinada olhando os pés se moverem, na solidão do retorno à casa depois de um dia exaustivo de trabalho, na saudade de alguém que já se foi, no vazio de sentido da vida diante de uma tragédia que arrancou de nós um bem muito precioso.
A solidão está sempre entre um desejo ainda não atingido e a saudade de um momento que já se foi. O desejo ainda não atingido é o que almejamos, nossa busca. Achamos que a realização desse desejo tornará possível a saída da solidão, mas na verdade os desejos realizados são substituídos por outros, num movimento insaciável que nunca se contenta, mas nos projeta para o futuro, nos desconectando do presente e do passado. Assim, nem vivemos o presente, nem recordamos o passado. A saudade do que se foi nos faz experimentar a solidão de querer reviver o que não pode mais ser vivido, pois o tempo já o consumou. Assim, ficamos presos no passado que já não existe.
O segredo está em aceitar a solidão não como algo ruim, mas como possibilidade de conhecer o que quase não conhecemos, nós mesmos. A solidão nos permite olhar para dentro e encontrar boa companhia. Mas, muitas vezes, o que falta é um pouco de amor próprio para atentamente observar tudo em nós que nas relações vemos nos outros e fazemos deles algo fundamental, mas do que nós mesmos. Dessa forma, a solidão não é somente sofrimento, mas oportunidade de encontro com nosso próprio ser.
O grande dilema do mundo moderno é a solidão daqueles que estão acompanhados, ou seja, a solidão não como ausência de companhia, mas como sentimento implacável mesmo quando desfrutamos a companhia de outras pessoas. Os grandes centros demonstram tal tendência: sujeitos rodeados de pessoas, porém, solitários. A tecnologia dá sua contribuição com, por exemplo, a Internet, que conecta as pessoas de todo o mundo e as deixa solitárias nas suas casas, apartamentos e escritórios.
A tendência dos relacionamentos demonstra a dificuldade de querer ver o outro e se deixar ver pelo outro. Preferimos manter sempre uma certa distância nos relacionamentos, pensando assim evitar o sofrimento. A consequência mais imediata é realmente evitar o sofrimento, oriundo de um relacionamento mal sucedido, mas, em longo prazo, a distância que mantemos das pessoas nos leva à solidão.
Todos nós, em algum momento da vida, já experimentamos a sensação de estarmos sozinhos, a sensação de desamparo quando precisamos de apoio, de ter um abraço ao dormir e perceber que abraçamos o travesseiro ou o próprio corpo. A solidão nos persegue nas noites em claro, nos ônibus em que com o olhar perdido na janela, não olhamos para lugar algum, nos passos lentos e cambaleantes que damos com a cabeça inclinada olhando os pés se moverem, na solidão do retorno à casa depois de um dia exaustivo de trabalho, na saudade de alguém que já se foi, no vazio de sentido da vida diante de uma tragédia que arrancou de nós um bem muito precioso.
A solidão está sempre entre um desejo ainda não atingido e a saudade de um momento que já se foi. O desejo ainda não atingido é o que almejamos, nossa busca. Achamos que a realização desse desejo tornará possível a saída da solidão, mas na verdade os desejos realizados são substituídos por outros, num movimento insaciável que nunca se contenta, mas nos projeta para o futuro, nos desconectando do presente e do passado. Assim, nem vivemos o presente, nem recordamos o passado. A saudade do que se foi nos faz experimentar a solidão de querer reviver o que não pode mais ser vivido, pois o tempo já o consumou. Assim, ficamos presos no passado que já não existe.
O segredo está em aceitar a solidão não como algo ruim, mas como possibilidade de conhecer o que quase não conhecemos, nós mesmos. A solidão nos permite olhar para dentro e encontrar boa companhia. Mas, muitas vezes, o que falta é um pouco de amor próprio para atentamente observar tudo em nós que nas relações vemos nos outros e fazemos deles algo fundamental, mas do que nós mesmos. Dessa forma, a solidão não é somente sofrimento, mas oportunidade de encontro com nosso próprio ser.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Convite ao Divã
Uma Perspectiva Existencialista
Shakespeare estava certo ao dizer que falar alivia dores emocionais. Mas a ideia não é nova. Desde quando a palavra foi inventada, ela mesma tem sido utilizada para poder transferir de alguma forma as emoções entranhadas em nosso ser para fora, para o mundo. As vezes penso que temos mais necessidade de falar, ou de sermos ouvidos, do que de sermos compreendidos. Apesar disso, muitas vezes ficamos sem palavras, tantas outras, requerem sacrifícios para poder encontrar a palavra certa. Diante dessa necessidade de falar, escapam palavras que não deveriam ser ditas. Nesse momento, concluímos: – Falei demais – Freud diria: – Ato falho. Algumas vezes as palavras não exprimem exatamente o que sentimos, mas mesmo assim nos empenhamos em encontrar a codificação correta de nossas emoções nas palavras, porém, sem sucesso, apenas exprimimos gemidos, o choro ou o riso, que também são formas de dizer. Talvez neles encontremos a catarse que expressa o que as palavras não dizem.
Num texto de Marx encontramos uma afirmação bastante propicia para nosso momento, referindo-se ao surgimento do mundo da linguagem: “(...) a linguagem só aparece com a carência, com a necessidade dos intercâmbios com os outros homens”. Falar sozinho, pelas paredes, evidencia tamanha angustia, tal qual a percepção de ver as palavras voltarem e terem de ser engolidas. Por conta disso, muitos de nós preferimos um Deus para o qual as palavras são dirigidas. Desejamos falar para alguém, desejamos atenção nas nossas palavras. Ainda conforme Marx, referente às primeiras palavras que visavam estabelecer comunicação entre os homens, encontramos a expressão: “sopro de ar agitadas”. Penso que aqui Marx quis dizer que antes das palavras tínhamos tentativas de formular palavras, mas eram expressões de interioridades, anteriores ao desenvolvimento da cultura, tal como a temos hoje. Mesmo aqueles que por razões naturais ou acontecimentos traumáticos foram impedidos de verbalizar, encontraram outros caminhos, como a linguagem de sinais para poder dizer algo ao mundo. A verdade é que precisamos nos comunicar, de alguma forma compartilhar o que sentimos.
Nas Epopéias, os heróis compartilhavam suas virtudes esbravejando suas conquistas, os homens comuns tendiam a se render com clemências e suplicas. Nas orações os judeus temiam dizer sobre suas fraquezas por considerarem seu Deus, ao qual eram dirigidas as palavras, temido. Portanto, preferiam curvarem-se como miseráveis humanos e calarem-se. Os cristãos encontravam conforto e redenção no seu Cristo, por este ser pacífico e acolhedor. Para ele podiam chorar, lamentar, suplicar, pedir. Penso que a religião colocou o primeiro divã sobre a terra, e teve sua serventia. Mas sobre tal afirmação, nenhuma outra religião superou a cristã. O cristianismo aproximou Deus dos homens em Cristo, culpou os homens de seus pecados e os enfraqueceu. Ao mesmo tempo ofereceu redenção por um ato de pura bondade divina no sacrifício da cruz. O resultado desta crença está presente em nossos dias: o homem convencido de sua impotência deposita em Cristo sua esperança. Assim, o cristianismo cria o problema e a solução.
Parece-me que Deus não deu conta ou não quis investir esforços para compreender os dramas humanos. Não sei ao certo se a religião calou Deus por conta de seus dogmas ou Deus não mais se sente representado nela. Estou mais próximo de dizer que a religião inventou Deus a sua imagem e semelhança, para seus interesses, condicionando uma fala específica à Deus, quando Deus mesmo ainda não foi encontrado, muito menos sei se será um dia. Mas essa lacuna que se tornou cratera, nessa solução que se tornou também problema, nesse espaço em que se pode pensar que Deus não existe, mesmo que culpando por tal pensamento, pode-se também encontrar desespero, desconforto e desamparo. Nesta fenda as palavras não passam, não retornam, se perdem. Nela, a angustia é a chama que nos consome e aumenta nossa sensação de solidão. Quando nosso grito dirigido ao mundo não ecoa, a rotina tapa os ouvidos dos outros às nossas palavras. Quando Deus torna-se um vácuo que faz desaparecer as palavras angustiantes de nossa existência, ou mesmo pelo rigor doutrinário da religião que não nos deixa a vontade para dizer tudo o que pretendemos. A ausência de algum Dom não as transforma em arte, pois ao menos o poeta tem o que dizer e a quem dizer.
Na falência desse divã divino erigido pela religião, a contemporaneidade exigiu outro divã, menos vertical e mais horizontal, mais humano. No olhar da religião, mais insignificante, grotesco e presunçoso. Particularmente, vejo como um espaço para poder dizer o que Deus não quis ouvir, o que o mundo, ocupado demais, não parou para escutar, fingiu até mesmo não ver: as angustias acumuladas e cada vez mais empurradas para os porões mais sombrios e gelados da alma humana. Desejoso por querer compreender a existência, não fixá-la, nem desenhá-la, muito menos idealizá-la. Não pretende dizer como a vida tem de ser, mas almeja compreender a vida como ela é, como ela pode ser. Quer se colocar como espaço de não julgamento, permitir que nele se respire confortavelmente, levemente. Que nele se diga qualquer coisa sem medo, sem culpa. Quer ser não apenas confortável para o corpo, mas sobretudo, confortável à alma, se é que podemos chamar assim esse acúmulo de experiências distintas que constroem em nós uma subjetividade. E como poderia proporcionar tal nível de cumplicidade com as mazelas humanas se não fosse ele também humano? A forma mais apropriada para nos referirmos a esse novo divã está no título de um livro de Nietzsche: Humano Demasiado Humano. Humano compreendendo humanos
Depois de Freud tantos outros surgiram, tantas outras técnicas, olhares, compreensões que se somaram e que ousaram dizer que é possível a cura pela fala. Não a fala dirigida a um suposto Deus que nos faz esperar respostas as quais dependem de uma crença para retornarem e, muitas vezes, a crença não é suficiente. Nosso divã não é tão alto, nem tão perfeito, mas é tão humano quanto eu e você. Escapa o determinismo de certas cientificidades que pretendem ser absolutas. Dá as mão à filosofia e caminha numa perspectiva um tanto heideggeriana, sempre a quem do objeto que visa compreender e sabe que nunca o compreenderá totalmente, pois caso um dia tenha tal pretensão, enterrará o movimento dinâmico, próprio da subjetividade. Por essa razão, continuará assim, perseguindo os rastros desse humano sempre na frente.
Dessa forma, fica entre aberta a porta e lançado o convite para nosso Divã Existencialista. Ficam abertos nossos olhos para a existência humana que se dá, muitas vezes, em condições adversas. Nosso empenho dedicado para fazer emergir o real desejo humano e fazer dele um projeto existencial, cujo alvo mais importante é sempre a felicidade.
Shakespeare estava certo ao dizer que falar alivia dores emocionais. Mas a ideia não é nova. Desde quando a palavra foi inventada, ela mesma tem sido utilizada para poder transferir de alguma forma as emoções entranhadas em nosso ser para fora, para o mundo. As vezes penso que temos mais necessidade de falar, ou de sermos ouvidos, do que de sermos compreendidos. Apesar disso, muitas vezes ficamos sem palavras, tantas outras, requerem sacrifícios para poder encontrar a palavra certa. Diante dessa necessidade de falar, escapam palavras que não deveriam ser ditas. Nesse momento, concluímos: – Falei demais – Freud diria: – Ato falho. Algumas vezes as palavras não exprimem exatamente o que sentimos, mas mesmo assim nos empenhamos em encontrar a codificação correta de nossas emoções nas palavras, porém, sem sucesso, apenas exprimimos gemidos, o choro ou o riso, que também são formas de dizer. Talvez neles encontremos a catarse que expressa o que as palavras não dizem.
Num texto de Marx encontramos uma afirmação bastante propicia para nosso momento, referindo-se ao surgimento do mundo da linguagem: “(...) a linguagem só aparece com a carência, com a necessidade dos intercâmbios com os outros homens”. Falar sozinho, pelas paredes, evidencia tamanha angustia, tal qual a percepção de ver as palavras voltarem e terem de ser engolidas. Por conta disso, muitos de nós preferimos um Deus para o qual as palavras são dirigidas. Desejamos falar para alguém, desejamos atenção nas nossas palavras. Ainda conforme Marx, referente às primeiras palavras que visavam estabelecer comunicação entre os homens, encontramos a expressão: “sopro de ar agitadas”. Penso que aqui Marx quis dizer que antes das palavras tínhamos tentativas de formular palavras, mas eram expressões de interioridades, anteriores ao desenvolvimento da cultura, tal como a temos hoje. Mesmo aqueles que por razões naturais ou acontecimentos traumáticos foram impedidos de verbalizar, encontraram outros caminhos, como a linguagem de sinais para poder dizer algo ao mundo. A verdade é que precisamos nos comunicar, de alguma forma compartilhar o que sentimos.
Nas Epopéias, os heróis compartilhavam suas virtudes esbravejando suas conquistas, os homens comuns tendiam a se render com clemências e suplicas. Nas orações os judeus temiam dizer sobre suas fraquezas por considerarem seu Deus, ao qual eram dirigidas as palavras, temido. Portanto, preferiam curvarem-se como miseráveis humanos e calarem-se. Os cristãos encontravam conforto e redenção no seu Cristo, por este ser pacífico e acolhedor. Para ele podiam chorar, lamentar, suplicar, pedir. Penso que a religião colocou o primeiro divã sobre a terra, e teve sua serventia. Mas sobre tal afirmação, nenhuma outra religião superou a cristã. O cristianismo aproximou Deus dos homens em Cristo, culpou os homens de seus pecados e os enfraqueceu. Ao mesmo tempo ofereceu redenção por um ato de pura bondade divina no sacrifício da cruz. O resultado desta crença está presente em nossos dias: o homem convencido de sua impotência deposita em Cristo sua esperança. Assim, o cristianismo cria o problema e a solução.
Parece-me que Deus não deu conta ou não quis investir esforços para compreender os dramas humanos. Não sei ao certo se a religião calou Deus por conta de seus dogmas ou Deus não mais se sente representado nela. Estou mais próximo de dizer que a religião inventou Deus a sua imagem e semelhança, para seus interesses, condicionando uma fala específica à Deus, quando Deus mesmo ainda não foi encontrado, muito menos sei se será um dia. Mas essa lacuna que se tornou cratera, nessa solução que se tornou também problema, nesse espaço em que se pode pensar que Deus não existe, mesmo que culpando por tal pensamento, pode-se também encontrar desespero, desconforto e desamparo. Nesta fenda as palavras não passam, não retornam, se perdem. Nela, a angustia é a chama que nos consome e aumenta nossa sensação de solidão. Quando nosso grito dirigido ao mundo não ecoa, a rotina tapa os ouvidos dos outros às nossas palavras. Quando Deus torna-se um vácuo que faz desaparecer as palavras angustiantes de nossa existência, ou mesmo pelo rigor doutrinário da religião que não nos deixa a vontade para dizer tudo o que pretendemos. A ausência de algum Dom não as transforma em arte, pois ao menos o poeta tem o que dizer e a quem dizer.
Na falência desse divã divino erigido pela religião, a contemporaneidade exigiu outro divã, menos vertical e mais horizontal, mais humano. No olhar da religião, mais insignificante, grotesco e presunçoso. Particularmente, vejo como um espaço para poder dizer o que Deus não quis ouvir, o que o mundo, ocupado demais, não parou para escutar, fingiu até mesmo não ver: as angustias acumuladas e cada vez mais empurradas para os porões mais sombrios e gelados da alma humana. Desejoso por querer compreender a existência, não fixá-la, nem desenhá-la, muito menos idealizá-la. Não pretende dizer como a vida tem de ser, mas almeja compreender a vida como ela é, como ela pode ser. Quer se colocar como espaço de não julgamento, permitir que nele se respire confortavelmente, levemente. Que nele se diga qualquer coisa sem medo, sem culpa. Quer ser não apenas confortável para o corpo, mas sobretudo, confortável à alma, se é que podemos chamar assim esse acúmulo de experiências distintas que constroem em nós uma subjetividade. E como poderia proporcionar tal nível de cumplicidade com as mazelas humanas se não fosse ele também humano? A forma mais apropriada para nos referirmos a esse novo divã está no título de um livro de Nietzsche: Humano Demasiado Humano. Humano compreendendo humanos
Depois de Freud tantos outros surgiram, tantas outras técnicas, olhares, compreensões que se somaram e que ousaram dizer que é possível a cura pela fala. Não a fala dirigida a um suposto Deus que nos faz esperar respostas as quais dependem de uma crença para retornarem e, muitas vezes, a crença não é suficiente. Nosso divã não é tão alto, nem tão perfeito, mas é tão humano quanto eu e você. Escapa o determinismo de certas cientificidades que pretendem ser absolutas. Dá as mão à filosofia e caminha numa perspectiva um tanto heideggeriana, sempre a quem do objeto que visa compreender e sabe que nunca o compreenderá totalmente, pois caso um dia tenha tal pretensão, enterrará o movimento dinâmico, próprio da subjetividade. Por essa razão, continuará assim, perseguindo os rastros desse humano sempre na frente.
Dessa forma, fica entre aberta a porta e lançado o convite para nosso Divã Existencialista. Ficam abertos nossos olhos para a existência humana que se dá, muitas vezes, em condições adversas. Nosso empenho dedicado para fazer emergir o real desejo humano e fazer dele um projeto existencial, cujo alvo mais importante é sempre a felicidade.
sábado, 10 de outubro de 2009
E quando não atingimos nossas metas?
Inicialmente, cabe uma reflexão sobre a construção das metas as quais perseguimos durante nossas vidas. Vislumbro um primeiro fator fundamental, o outro. Quando digo o outro, refiro-me a um conceito bastante amplo, pois o outro aparece em nossa vida pela primeira vez no momento em que, quando ainda crianças, passamos a perceber que a mãe não é extensão de nosso corpo, mas um outro corpo. Agravasse mais no momento em que a cultura nos diz que devemos amá-la para merecer sua atenção, seu cuidado, seu carinho. Nesse momento a um deslocamento do desejo próprio da criança para a mãe e assim nasce a perspectiva do outro como fundamental para realização pessoal. Agravamento ainda maior ocorre na falta da mãe, pois o deslocamento do desejo não encontra um objeto e desde sedo há frustração.
Obviamente que esse primeiro grande outro se mostra de tal forma e tão imponente que condiciona nosso desejo e expectativa a ele. Levando em consideração que esse outro nunca nos satisfaz inteiramente, que sempre almejamos mais dele do que ele pode nos dar, essa relação está fadada ao fracasso. A mãe não é o único outro em nossa vida, como não é a única mulher na vida de um homem. Mas as expectativas deixadas por essa relação mãe-filho serão perseguidas durante toda a vida. A mãe não é apenas uma mulher dentre tantas, é a expressão cultural do nosso condicionamento para a aceitação do mundo. Em termos mais claros, desde pequenos o mundo nos dá metas a seguir e quase nunca estas metas significam satisfação e felicidade, significam sim, obrigação para com os outros. Obrigação tão enraizada que nos culpamos quando não correspondemos e exigimos dos outros o cumprimento delas, quando nós mesmos estamos por abandoná-las. Obrigação para com os filhos, por mais problemas que possam dar, para com os maridos, para com os patrões, para com o Estado, a Igreja...
Quando adultos passamos a pensar melhor na vida, exatamente por vislumbrar o fato de que ela pode acabar a qualquer momento. E nesse momento percebemos nosso movimento em prol de nossas metas. Tendo cumprido-as ou não, o fato é que começa a parecer absurdo cumprir metas cuja satisfação não é o resultado. Tanto aqueles que atingem suas metas, quanto aqueles que não conseguem atingir, frustram-se consigo mesmos: ou por não atingirem, julgando-se incapazes, ou por atingirem e não encontrarem real satisfação, tendo a sensação de terem se empenhado por nada. Todos se frustram por perceber terem sido enganados num projeto que não refletiram bem tal engajamento que ocupou boa parte de suas vidas.
A primeira coisa a ser pensada num momento em que estamos na contramão de nossas expectativas está numa reflexão aprofundada sobre o sentido de nossa existência. Conforme Nietzsche: “Quem encontra um porque? Encontra um como?” A questão fundamental está na escolha dessas metas: se elas foram feitas com esclarecimento suficiente para saber onde nos levaria, ou foram acontecendo? Quanto maior auto-conhecimento tivermos, mais capacidade de definir nossas metas. Não tão altas que não possam ser atingidas, não tão baixas que não nos desafie. Nossa expectativa também deve ser trabalhada para que caso não venhamos a atingir as metas pretendidas, não nos frustremos de tal forma que nada mais tentemos na vida. Por fim, pessoas que se conhecem melhor, podem até não realizar grandes feitos para o mundo, mas vivem melhor. Basta pesar o mais importante: você ou os outros. Poderíamos dizer em outros termos: você ou suas metas, pois se estiverem em contradição com você, não são suas.
Obviamente que esse primeiro grande outro se mostra de tal forma e tão imponente que condiciona nosso desejo e expectativa a ele. Levando em consideração que esse outro nunca nos satisfaz inteiramente, que sempre almejamos mais dele do que ele pode nos dar, essa relação está fadada ao fracasso. A mãe não é o único outro em nossa vida, como não é a única mulher na vida de um homem. Mas as expectativas deixadas por essa relação mãe-filho serão perseguidas durante toda a vida. A mãe não é apenas uma mulher dentre tantas, é a expressão cultural do nosso condicionamento para a aceitação do mundo. Em termos mais claros, desde pequenos o mundo nos dá metas a seguir e quase nunca estas metas significam satisfação e felicidade, significam sim, obrigação para com os outros. Obrigação tão enraizada que nos culpamos quando não correspondemos e exigimos dos outros o cumprimento delas, quando nós mesmos estamos por abandoná-las. Obrigação para com os filhos, por mais problemas que possam dar, para com os maridos, para com os patrões, para com o Estado, a Igreja...
Quando adultos passamos a pensar melhor na vida, exatamente por vislumbrar o fato de que ela pode acabar a qualquer momento. E nesse momento percebemos nosso movimento em prol de nossas metas. Tendo cumprido-as ou não, o fato é que começa a parecer absurdo cumprir metas cuja satisfação não é o resultado. Tanto aqueles que atingem suas metas, quanto aqueles que não conseguem atingir, frustram-se consigo mesmos: ou por não atingirem, julgando-se incapazes, ou por atingirem e não encontrarem real satisfação, tendo a sensação de terem se empenhado por nada. Todos se frustram por perceber terem sido enganados num projeto que não refletiram bem tal engajamento que ocupou boa parte de suas vidas.
A primeira coisa a ser pensada num momento em que estamos na contramão de nossas expectativas está numa reflexão aprofundada sobre o sentido de nossa existência. Conforme Nietzsche: “Quem encontra um porque? Encontra um como?” A questão fundamental está na escolha dessas metas: se elas foram feitas com esclarecimento suficiente para saber onde nos levaria, ou foram acontecendo? Quanto maior auto-conhecimento tivermos, mais capacidade de definir nossas metas. Não tão altas que não possam ser atingidas, não tão baixas que não nos desafie. Nossa expectativa também deve ser trabalhada para que caso não venhamos a atingir as metas pretendidas, não nos frustremos de tal forma que nada mais tentemos na vida. Por fim, pessoas que se conhecem melhor, podem até não realizar grandes feitos para o mundo, mas vivem melhor. Basta pesar o mais importante: você ou os outros. Poderíamos dizer em outros termos: você ou suas metas, pois se estiverem em contradição com você, não são suas.
domingo, 27 de setembro de 2009
Solidão
O fim do labor é sempre o inicio da vida privada, cujo término é sempre a solidão. Ao iniciar pela despedida dos colegas de trabalho e terminar com um boa noite cansado dirigido ao porteiro, quando no máximo algum encontro casual com um vizinho no elevador. O fim é sempre certo, a solidão. Nessa hora Ana prefere repetir para si mesma o velho ditado: “antes só que mal acompanhada”. De fato tenta se convencer de que a solidão é melhor que companhias inconvenientes. Tem como slogan para esse momento de sua vida uma frase do filósofo Alemão Friedrich Nietzsche que ouvira em algum momento, em algum lugar, não lembra mais, apenas sabe que a frase foi cravada em sua memória e ajuda a sustentar seus dias. A frase é: “Não me tires da solidão se não queres me oferecer boa companhia”.
Mulher de trinta anos, fora casada dos vinte e um aos vinte e oito. Nos últimos dois anos permaneceu sem nenhum relacionamento mais intenso e envolvente. Do casamento, nenhum filho nasceu. De forma alguma reclama do tempo que permaneceu casada, mas sabe que alguma coisa aconteceu no dia-a-dia, talvez o próprio dia-a-dia, o próprio ter de conviver um dia após o outro, tendo que se ver perdendo, se perdendo, concordando, fazendo concordar, fazendo amar. Foi se rasgando como as pedras de um rio secando rasgam as águas que ali ainda correm (lembrando Gonzaguinha).
O casamento passou, foi embora, e com ele os sonhos de mulher. Agora Ana está entre novamente se render ao amor ou redefini-lo, inventá-lo de outra forma. Vê-se pedida, cada vez mais longe da cultura herdada por sua mãe, sem se ver perto de qualquer outra coisa para substituir seus anseios de mulher da cultura. Como se ela mesma estivesse rachando, como se fosse a impossibilidade do retorno e do avanço. E assim permanece estática, imóvel.
Em situações como esta cabe dar-se ao vinho tinto suave, ou mesmo martini, acompanhado de cereja. E se assim o fizesse naquela noite, nada de novo faria, pois já se entregara ao doce sabor do esquecimento numa e noutra taça. Já fizera isso tantas vezes nos últimos dois anos.
Mas nesse dia em especial, tudo que Ana não queria era sentir-se sozinha ou ter de esquecer sua solidão, afogando-a na bebida. Almejara companhia com tanta força que agarrara-se ao travesseiro apertando-o com todas as suas forças e desespero, enquanto lavava-o com suas lágrimas. Naquele momento, apenas queria que o travesseiro percebesse o tamanho de sua solidão.
Depois de algum tempo abraçada ao travesseiro, fazendo dele um tesouro incalculável, Ana para de contrair seus músculos e deixa escapar o braço direito que cai no colchão. A cena vista de cima teria o seguinte formato: Ana ao lado direito da cama, o travesseiro em sua barriga e seu braço direito procurando no vazio um corpo que pudesse confortá-la. Seus dedos aparentavam que tocariam em alguma coisa, mas nada encontrava, nada que pudesse apalpar. Insistia e sua angustia aumentava.
Naquele momento vieram dois pensamentos, apontando duas saídas. Mas não soube tomar nenhuma atitude em relação a eles. Ficou ali imóvel. O primeiro era ligar para seu ex-marido, passar por cima de seu orgulho, correr o risco de ser rejeitada, mais que isso, reviver a própria destruição de seus sonhos, permitir ser outra vez espedaçada aos poucos pela moral do amor, sustentada pela obrigatoriedade. O segundo, próprio da modernidade e da falta de envolvimento, seria compartilhar sua solidão sem que soubessem, sem que desconfiassem. Já havia ouvido de amigas a existência de bons garotos de programa.
Seus dois pensamentos distintos denunciavam romper com a moral da obrigatoriedade do amor como único possível no casamento ou se render a esse amor num gesto de fraqueza. Por outro lado, usaria somente o que o mercado do acompanhamento oferece e que não a tiraria da solidão. Assim, Ana ficou ali entre dois mundos, sem pertencer a nenhum deles. E já que se sentia incapaz de decidir, tinha que aprender a encarar a solidão.
Mulher de trinta anos, fora casada dos vinte e um aos vinte e oito. Nos últimos dois anos permaneceu sem nenhum relacionamento mais intenso e envolvente. Do casamento, nenhum filho nasceu. De forma alguma reclama do tempo que permaneceu casada, mas sabe que alguma coisa aconteceu no dia-a-dia, talvez o próprio dia-a-dia, o próprio ter de conviver um dia após o outro, tendo que se ver perdendo, se perdendo, concordando, fazendo concordar, fazendo amar. Foi se rasgando como as pedras de um rio secando rasgam as águas que ali ainda correm (lembrando Gonzaguinha).
O casamento passou, foi embora, e com ele os sonhos de mulher. Agora Ana está entre novamente se render ao amor ou redefini-lo, inventá-lo de outra forma. Vê-se pedida, cada vez mais longe da cultura herdada por sua mãe, sem se ver perto de qualquer outra coisa para substituir seus anseios de mulher da cultura. Como se ela mesma estivesse rachando, como se fosse a impossibilidade do retorno e do avanço. E assim permanece estática, imóvel.
Em situações como esta cabe dar-se ao vinho tinto suave, ou mesmo martini, acompanhado de cereja. E se assim o fizesse naquela noite, nada de novo faria, pois já se entregara ao doce sabor do esquecimento numa e noutra taça. Já fizera isso tantas vezes nos últimos dois anos.
Mas nesse dia em especial, tudo que Ana não queria era sentir-se sozinha ou ter de esquecer sua solidão, afogando-a na bebida. Almejara companhia com tanta força que agarrara-se ao travesseiro apertando-o com todas as suas forças e desespero, enquanto lavava-o com suas lágrimas. Naquele momento, apenas queria que o travesseiro percebesse o tamanho de sua solidão.
Depois de algum tempo abraçada ao travesseiro, fazendo dele um tesouro incalculável, Ana para de contrair seus músculos e deixa escapar o braço direito que cai no colchão. A cena vista de cima teria o seguinte formato: Ana ao lado direito da cama, o travesseiro em sua barriga e seu braço direito procurando no vazio um corpo que pudesse confortá-la. Seus dedos aparentavam que tocariam em alguma coisa, mas nada encontrava, nada que pudesse apalpar. Insistia e sua angustia aumentava.
Naquele momento vieram dois pensamentos, apontando duas saídas. Mas não soube tomar nenhuma atitude em relação a eles. Ficou ali imóvel. O primeiro era ligar para seu ex-marido, passar por cima de seu orgulho, correr o risco de ser rejeitada, mais que isso, reviver a própria destruição de seus sonhos, permitir ser outra vez espedaçada aos poucos pela moral do amor, sustentada pela obrigatoriedade. O segundo, próprio da modernidade e da falta de envolvimento, seria compartilhar sua solidão sem que soubessem, sem que desconfiassem. Já havia ouvido de amigas a existência de bons garotos de programa.
Seus dois pensamentos distintos denunciavam romper com a moral da obrigatoriedade do amor como único possível no casamento ou se render a esse amor num gesto de fraqueza. Por outro lado, usaria somente o que o mercado do acompanhamento oferece e que não a tiraria da solidão. Assim, Ana ficou ali entre dois mundos, sem pertencer a nenhum deles. E já que se sentia incapaz de decidir, tinha que aprender a encarar a solidão.
domingo, 13 de setembro de 2009
Terminal Rodoviário
Sentado numa poltrona que tentava ser confortável, porém, desgastada pelo uso, torna-se desconfortante, espero o ônibus que me levará a Florianópolis para mais uma semana de estudos. No dia de hoje cheguei mais cedo do que de costume e inquieto com o horário, acostumado com a vida corrida, tendo de esperar o lento ponteiro chegar ao seu destino para eu poder chegar ao meu, me dei conta que meus olhos passaram a percorrer os ambientes distraidamente, até que por alguma razão que não tive consciência, passou a fixar-se nos diferentes rostos que ali estavam. Passei a observar os olhares distraídos e distantes da objetividade dos próprios olhares. Vez por outra, alguns desses olhares me encontrava, e nesse momento parecia que dávamos conta juntos de uma outra viagem que se ocupava nossos pensamentos desconexos de nossos olhos, a vida. Descobri no terminal rodoviário uma outra viagem, outros rumos, outros percursos.
As pessoas que ali se encontravam estavam com suas passagens compradas, e com elas a garantia de acesso a mais uma etapa das suas histórias. Pensei em minha própria vida, nas muitas e diferentes vezes que estive em terminais rodoviários, sendo muitos e diferentes os motivos. Lembrei-me de como me comportava, como era inacessível aos outros, fechado em minha própria viagem subjetiva, preocupado, unicamente com minhas questões particulares. Não era diferente dos que ali observava.
Engraçado, minha avó materna não gostava que ficássemos no terminal para vê-la partir, depois de uma visita que de vez em quando nos fazia. Na infância, detestava viajar para casa de meus avós para passar as férias, ou para retornar para minha casa, apesar de adorar as férias na casa deles. Quando eu estava chegando na cidade eu ficava atento, olhando ansioso pela janela, vendo se reconhecia alguma coisa nova na cidade. O ônibus ia entrando e eu atento em todos os detalhes. Adorava a janela. As pessoas iam se ajeitando e eu ali, vidrado, contando os postes da Avenida Centenário, até que surgia, implacável, o terminal rodoviário, avisando a chegada.
Quando adolescente percebi que o terminal rodoviário poderia ser um lugar triste ou feliz, dependendo das razões que me faziam estar ali. Lembrei-me que nele já fui receber pessoas queridas e me despedir de amores que se foram. Foi nele que me convencia de que a minha história, que em seu entorno ocorrera, acabaria no exato momento em que recolhesse meus pés do chão, na subida ao ônibus. As vezes com despedida calorosa, outras acompanhado de um, no máximo dois amigos, tantas outras, sozinho.
Depois de adulto retornei a Criciúma, cidade natal. Nela havia sido turista durante muitos anos. Agora, já adulto, morando na cidade, lembro-me que no retorno, quando pisei no terminal, não de férias, mas para morar, pensei nas mesmas e velhas situações e percebi que seriam outras aos meus olhos, pois já tinha um outro olhar, mais maduro, calejado, podendo lidar com idas e vindas.
Todos esses pensamentos que me bombardeavam, me fizeram retrucar: – por que somente agora penso nisso, pois tantas outras vezes estive num desses lugares e nunca havia me dado conta de tais acontecimentos? Tais pensamentos fizeram eu mudar a forma de ver a estrutura de concreto com cabines, plataformas, banheiros, bancas de revistas, lojas de presentes, lanchonetes, restaurantes e poltronas de espera. Poltronas como estas que estou sentado, gastas pelo uso, porém, cheias de histórias. Somente estruturas de concreto para suportar tantas tristezas e alegrias, tantos encontros e desencontros, tantos fins e tantos começos.
Tudo isso existindo por trás dos olhares, muitas vezes incompartilháveis, distantes e fugitivos, fixos num vazio que se abre para a subjetividade. Ricas experiências humanas sem tempo para uma prosa. Dentro de cada olhar há um livro inacessível aos outros olhos. E sobre essas histórias só posso imaginar.
Ao iniciar esse texto achei que poderia descrever os olhares que vi, mas hoje apenas pude me ver neles, rever minhas próprias experiências vivenciadas no terminal rodoviário, que não foram poucas.
São 8h, meu ônibus chegou, fico a imaginar se um dia tal texto for publicado e alguém que, nesse dia esteve por aqui, ler e relembrar de sua própria passagem, poderia até ter me encontrado. Por conta de meus pensamentos, uma nova forma de olhar o antigo terminal surgiu como lampejo de luz na obscuridade de minhas reflexões que até aqui me tem sido dolorosas. Um olhar mais maduro capaz de considerá-lo, não como um inicio ou fim, nem como separação de minha história, como se ela fosse fragmentada, dividida pelos locais que já morei, pelas viagens que já fiz, mas, ao contrário, como elo de ligação de uma única história, a minha vida. Como marco de minhas mudanças interiores, ficará sempre posto, implacável, objetivo e concreto, o terminal rodoviário de Criciúma.
Terminal Rodoviário de Criciúma, 13 de Agosto de 2009.
As pessoas que ali se encontravam estavam com suas passagens compradas, e com elas a garantia de acesso a mais uma etapa das suas histórias. Pensei em minha própria vida, nas muitas e diferentes vezes que estive em terminais rodoviários, sendo muitos e diferentes os motivos. Lembrei-me de como me comportava, como era inacessível aos outros, fechado em minha própria viagem subjetiva, preocupado, unicamente com minhas questões particulares. Não era diferente dos que ali observava.
Engraçado, minha avó materna não gostava que ficássemos no terminal para vê-la partir, depois de uma visita que de vez em quando nos fazia. Na infância, detestava viajar para casa de meus avós para passar as férias, ou para retornar para minha casa, apesar de adorar as férias na casa deles. Quando eu estava chegando na cidade eu ficava atento, olhando ansioso pela janela, vendo se reconhecia alguma coisa nova na cidade. O ônibus ia entrando e eu atento em todos os detalhes. Adorava a janela. As pessoas iam se ajeitando e eu ali, vidrado, contando os postes da Avenida Centenário, até que surgia, implacável, o terminal rodoviário, avisando a chegada.
Quando adolescente percebi que o terminal rodoviário poderia ser um lugar triste ou feliz, dependendo das razões que me faziam estar ali. Lembrei-me que nele já fui receber pessoas queridas e me despedir de amores que se foram. Foi nele que me convencia de que a minha história, que em seu entorno ocorrera, acabaria no exato momento em que recolhesse meus pés do chão, na subida ao ônibus. As vezes com despedida calorosa, outras acompanhado de um, no máximo dois amigos, tantas outras, sozinho.
Depois de adulto retornei a Criciúma, cidade natal. Nela havia sido turista durante muitos anos. Agora, já adulto, morando na cidade, lembro-me que no retorno, quando pisei no terminal, não de férias, mas para morar, pensei nas mesmas e velhas situações e percebi que seriam outras aos meus olhos, pois já tinha um outro olhar, mais maduro, calejado, podendo lidar com idas e vindas.
Todos esses pensamentos que me bombardeavam, me fizeram retrucar: – por que somente agora penso nisso, pois tantas outras vezes estive num desses lugares e nunca havia me dado conta de tais acontecimentos? Tais pensamentos fizeram eu mudar a forma de ver a estrutura de concreto com cabines, plataformas, banheiros, bancas de revistas, lojas de presentes, lanchonetes, restaurantes e poltronas de espera. Poltronas como estas que estou sentado, gastas pelo uso, porém, cheias de histórias. Somente estruturas de concreto para suportar tantas tristezas e alegrias, tantos encontros e desencontros, tantos fins e tantos começos.
Tudo isso existindo por trás dos olhares, muitas vezes incompartilháveis, distantes e fugitivos, fixos num vazio que se abre para a subjetividade. Ricas experiências humanas sem tempo para uma prosa. Dentro de cada olhar há um livro inacessível aos outros olhos. E sobre essas histórias só posso imaginar.
Ao iniciar esse texto achei que poderia descrever os olhares que vi, mas hoje apenas pude me ver neles, rever minhas próprias experiências vivenciadas no terminal rodoviário, que não foram poucas.
São 8h, meu ônibus chegou, fico a imaginar se um dia tal texto for publicado e alguém que, nesse dia esteve por aqui, ler e relembrar de sua própria passagem, poderia até ter me encontrado. Por conta de meus pensamentos, uma nova forma de olhar o antigo terminal surgiu como lampejo de luz na obscuridade de minhas reflexões que até aqui me tem sido dolorosas. Um olhar mais maduro capaz de considerá-lo, não como um inicio ou fim, nem como separação de minha história, como se ela fosse fragmentada, dividida pelos locais que já morei, pelas viagens que já fiz, mas, ao contrário, como elo de ligação de uma única história, a minha vida. Como marco de minhas mudanças interiores, ficará sempre posto, implacável, objetivo e concreto, o terminal rodoviário de Criciúma.
Terminal Rodoviário de Criciúma, 13 de Agosto de 2009.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
O tempo como Fardo
A linha do tempo me situa
Entre emoções distintas
Da euforia a melancolia
Vou deixando meus pedaços
Na memória e no esquecimento.
Me perdendo e me achando
Prossigo sem saber ao certo
Em que tempo me encontro
Se futuro, presente ou passado.
Só sei que as emoções se alternam
E a tristeza é inevitável
O mundo é inevitável
O tempo é inevitável
E pesa sobre mim.
Queria eu, pelo menos hoje
Não ter de conviver
Com minha própria memória
Com os pedaços deixado no caminho
Pois eles voltam e pesam estranhamente.
Eu nem sei ao certo o que
Mas algo fez transbordar o copo
E o pior é saber que a última gota
Nada tem haver com toda a água do corpo.
Hoje estou mais triste,
Mas isso passa, tudo passa,
Mas isso retorna, tudo retorna...
Enquanto a linha do tempo me situa
Entre emoções distintas
E nela prossegue a vida.
Entre emoções distintas
Da euforia a melancolia
Vou deixando meus pedaços
Na memória e no esquecimento.
Me perdendo e me achando
Prossigo sem saber ao certo
Em que tempo me encontro
Se futuro, presente ou passado.
Só sei que as emoções se alternam
E a tristeza é inevitável
O mundo é inevitável
O tempo é inevitável
E pesa sobre mim.
Queria eu, pelo menos hoje
Não ter de conviver
Com minha própria memória
Com os pedaços deixado no caminho
Pois eles voltam e pesam estranhamente.
Eu nem sei ao certo o que
Mas algo fez transbordar o copo
E o pior é saber que a última gota
Nada tem haver com toda a água do corpo.
Hoje estou mais triste,
Mas isso passa, tudo passa,
Mas isso retorna, tudo retorna...
Enquanto a linha do tempo me situa
Entre emoções distintas
E nela prossegue a vida.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Liberdade e Desamparo
É domingo, dia de reunir a família, mas Maicon não fala com os pais desde um certo domingo há quase um ano. Resolveu sair de casa para poder viver como pensou que deveria ser a vida. Almejara em sua saída uma liberdade que julgava não ter. Liberdade! Palavra que Maicon desconhecia o significado, muito menos se desejava vivê-la realmente. O que Maicon pôde de fato compreender foi que liberdade é sinônimo de desamparo.
– Liberdade é desapego, é viver sem paparico, cafuné, preocupações de terceiros – dizia para si mesmo no vazio de movimento no quarto.
Parece mesmo uma conseqüência óbvia, quanto maior liberdade alcançada, maior o desamparo sofrido. Liberdade é estar sozinho, ser a única referência e alicerce para encarar o dia-a-dia.
Como se não bastasse à dor do segundo parto que por si só é angustiante, Maicon saiu de casa brigado com o pai. Coisas bobas, corriqueiras, levaram a um insuportável ter de conviver, que fez com que Maicon, primeiro, cortasse os laços afetivos, posteriormente, os laços reais. Essas brigas de família são impossíveis de serem previstas, principalmente ao se tratar da intensidade da repercussão interna em cada membro dessa instituição idealizada como a melhor para se viver.
Maicon agora é homem, encara sua vida como acha que deve e não segue mais palpites de outros. Para chegar a tal patamar sofreu muito com os erros necessários de quem, sem apoio algum, inicia a vida.
Bem sucedido, diz encontrar-se apaixonado pela liberdade e acostumado com o desamparo. Na verdade Maicon endurecera o suficiente para suportar o desamparo que vez por outra bate no silencio de seu quarto. Mais isso não se conta em rodas de pessoas bem sucedidas.
Mas hoje é domingo, lembranças invadem sua solidão. Não que essas lembranças o obriguem a viver outra vez aquele tempo, apenas evidenciam o quanto aqueles dias foram importantes, porém, agora esquecidos, pedem espaço, mesmo que seja somente nas lembranças. Dias como aqueles jamais voltarão:
– Acorde garoto preguiçoso, já são 11 horas. – dizia sua mãe quase sempre.
– Eu já não falei para não beliscar o aipim antes de eu servi-lo no almoço. – era também fala de sua mãe aos domingos, que dizia ainda: – Seu pai queimou a carne outra vez.
– A carne não está queimada sua ignorante. – dizia o pai embravecido.
Aquela balburdia de troca de acusações atingia o equilíbrio na cumplicidade. Os seus pais o cobravam e amparavam-no dos problemas que enfrentava no mundo que se abria diante de seus olhos. Temerário como qualquer jovem, só conseguia enfrentar a vida se pudesse pedir socorro quando o mundo tornava-se grande demais.
Esses pensamentos relembrados tornaram sua magoa pequena. Resolveu visitar seus pais naquele domingo de inverno, frio e ventoso. Não pôde evitar um certo tremor pelo corpo, um certo desconforto no caminho. Sua respiração ficara ofegante a cada rua que passava. Ao chegar na casa de seus pais, contornou por duas vezes a quadra antes de parar. A casa estava com o portão apenas encostado. Maicon entrou silenciosamente, como quem queria ouvir algum barulho que ali dentro estivesse sendo feito, desejoso por associar esses barulhos com sua vida vivida entre aquelas paredes. Bateu na porta, na janela, bateu palmas, chamou, mas ninguém atendeu. Lembrou que muitos domingos sua família almoçava na casa de sua avó materna, mas não tinha coragem de ir até lá.
Ao olhar pelo chão encontrou uma aba de caixa de papelão, sem pensar muito, pegou uma caneta e escreveu: “Estive Aqui. Assinado Maicon. Amo vocês.” Pendurou no portão da garagem, embarcou no carro e voltou para seu apartamento. Desejou retornar e retirar sua declaração de carência, mas relutou e continuou até sua moradia. Depois era somente aguardar um telefonema.
Alguns dias passaram e não recebeu nenhuma noticia de sua família. Então Maicon criou coragem e ligou:
- Alô!
- Alô? Quem fala?
- Sou eu, Maicon – respondeu reconhecendo a voz de se pai.
- Maicon? Quanto tempo.
- Liguei apenas para saber se está tudo bem – respondeu quase perdendo as palavras.
- Sim está! Venha almoçar conosco qualquer domingo, mas avise antes, pois pode ser que sua mãe deseje almoçar na casa de sua avó – respondeu o pai meio sem jeito, como que quisesse uma aproximação, mas não encontrava o caminho.
- Certo, quando for avisarei – respondeu Maicon desligando o telefone.
Ficou um tanto angustiado com a conversa, quis perguntar sobre o que havia deixado escrito no portão da garagem de seus pais, mas não teve coragem. Aquela conversa foi como se tivesse que engolir aquela declaração de amor feita na solidão, mas desejosa de ser compartilhada.
Nem suspeitava que naquele domingo, ao sair da casa de seus pais, algo que não tinha vindo de sua vontade aconteceu. Como que por ironia dos acontecimentos, fortalecendo a idéia de que algo havia quebrado para sempre. O vento que soprava forte naquela tarde fez voar para longe aquela declaração de amor feita num momento de desamparo por um homem que havia alcançado a liberdade. Como se o vento concordasse com a ruptura do vinculo emocional de Maicon com seus familiares. Mesmo que um dia voltasse a falar com seus pais, seu desafeto não poderia ser compartilhado, não da mesma forma.
Quando seus pais chegaram em casa no final daquele domingo, nada encontraram no portão. Entraram, fecharam a casa e dormiram sem nem pensar que Maicon esteve ali.
– Liberdade é desapego, é viver sem paparico, cafuné, preocupações de terceiros – dizia para si mesmo no vazio de movimento no quarto.
Parece mesmo uma conseqüência óbvia, quanto maior liberdade alcançada, maior o desamparo sofrido. Liberdade é estar sozinho, ser a única referência e alicerce para encarar o dia-a-dia.
Como se não bastasse à dor do segundo parto que por si só é angustiante, Maicon saiu de casa brigado com o pai. Coisas bobas, corriqueiras, levaram a um insuportável ter de conviver, que fez com que Maicon, primeiro, cortasse os laços afetivos, posteriormente, os laços reais. Essas brigas de família são impossíveis de serem previstas, principalmente ao se tratar da intensidade da repercussão interna em cada membro dessa instituição idealizada como a melhor para se viver.
Maicon agora é homem, encara sua vida como acha que deve e não segue mais palpites de outros. Para chegar a tal patamar sofreu muito com os erros necessários de quem, sem apoio algum, inicia a vida.
Bem sucedido, diz encontrar-se apaixonado pela liberdade e acostumado com o desamparo. Na verdade Maicon endurecera o suficiente para suportar o desamparo que vez por outra bate no silencio de seu quarto. Mais isso não se conta em rodas de pessoas bem sucedidas.
Mas hoje é domingo, lembranças invadem sua solidão. Não que essas lembranças o obriguem a viver outra vez aquele tempo, apenas evidenciam o quanto aqueles dias foram importantes, porém, agora esquecidos, pedem espaço, mesmo que seja somente nas lembranças. Dias como aqueles jamais voltarão:
– Acorde garoto preguiçoso, já são 11 horas. – dizia sua mãe quase sempre.
– Eu já não falei para não beliscar o aipim antes de eu servi-lo no almoço. – era também fala de sua mãe aos domingos, que dizia ainda: – Seu pai queimou a carne outra vez.
– A carne não está queimada sua ignorante. – dizia o pai embravecido.
Aquela balburdia de troca de acusações atingia o equilíbrio na cumplicidade. Os seus pais o cobravam e amparavam-no dos problemas que enfrentava no mundo que se abria diante de seus olhos. Temerário como qualquer jovem, só conseguia enfrentar a vida se pudesse pedir socorro quando o mundo tornava-se grande demais.
Esses pensamentos relembrados tornaram sua magoa pequena. Resolveu visitar seus pais naquele domingo de inverno, frio e ventoso. Não pôde evitar um certo tremor pelo corpo, um certo desconforto no caminho. Sua respiração ficara ofegante a cada rua que passava. Ao chegar na casa de seus pais, contornou por duas vezes a quadra antes de parar. A casa estava com o portão apenas encostado. Maicon entrou silenciosamente, como quem queria ouvir algum barulho que ali dentro estivesse sendo feito, desejoso por associar esses barulhos com sua vida vivida entre aquelas paredes. Bateu na porta, na janela, bateu palmas, chamou, mas ninguém atendeu. Lembrou que muitos domingos sua família almoçava na casa de sua avó materna, mas não tinha coragem de ir até lá.
Ao olhar pelo chão encontrou uma aba de caixa de papelão, sem pensar muito, pegou uma caneta e escreveu: “Estive Aqui. Assinado Maicon. Amo vocês.” Pendurou no portão da garagem, embarcou no carro e voltou para seu apartamento. Desejou retornar e retirar sua declaração de carência, mas relutou e continuou até sua moradia. Depois era somente aguardar um telefonema.
Alguns dias passaram e não recebeu nenhuma noticia de sua família. Então Maicon criou coragem e ligou:
- Alô!
- Alô? Quem fala?
- Sou eu, Maicon – respondeu reconhecendo a voz de se pai.
- Maicon? Quanto tempo.
- Liguei apenas para saber se está tudo bem – respondeu quase perdendo as palavras.
- Sim está! Venha almoçar conosco qualquer domingo, mas avise antes, pois pode ser que sua mãe deseje almoçar na casa de sua avó – respondeu o pai meio sem jeito, como que quisesse uma aproximação, mas não encontrava o caminho.
- Certo, quando for avisarei – respondeu Maicon desligando o telefone.
Ficou um tanto angustiado com a conversa, quis perguntar sobre o que havia deixado escrito no portão da garagem de seus pais, mas não teve coragem. Aquela conversa foi como se tivesse que engolir aquela declaração de amor feita na solidão, mas desejosa de ser compartilhada.
Nem suspeitava que naquele domingo, ao sair da casa de seus pais, algo que não tinha vindo de sua vontade aconteceu. Como que por ironia dos acontecimentos, fortalecendo a idéia de que algo havia quebrado para sempre. O vento que soprava forte naquela tarde fez voar para longe aquela declaração de amor feita num momento de desamparo por um homem que havia alcançado a liberdade. Como se o vento concordasse com a ruptura do vinculo emocional de Maicon com seus familiares. Mesmo que um dia voltasse a falar com seus pais, seu desafeto não poderia ser compartilhado, não da mesma forma.
Quando seus pais chegaram em casa no final daquele domingo, nada encontraram no portão. Entraram, fecharam a casa e dormiram sem nem pensar que Maicon esteve ali.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Segundo a ABEP - Associação Brasileira de Ensino de Psicologia
Temos visto a retirada gradual da disciplina de Psicologia do Ensino Médio. O Estado de SC, que mantinha a disciplina, agora retira a mesma da grade do curso. A ABEP aponta 8 razões para inclusão da disciplina de Psicologia no Ensino Médio.
Comente, deixe sua contribuição.
1. A Psicologia, enquanto ciência, apresenta um conjunto de teorias e estudos contemporâneos voltados para uma formação humanizadora do jovem.
2- Os estudos da Psicologia permitem uma relevante leitura das relações sociais e culturais na constituição dos sujeitos sociais.
3. A Psicologia possibilita que o jovem compreenda os fatores constitutivos da subjetividade humana, do desenvolvimento da personalidade, da vida comunitária e das novas organizações familiares.
4. A Psicologia tem contribuições específicas a dar como disciplina ao discutir temas como direitos humanos, humilhação social, preconceitos, processos de desenvolvimento e de aprendizagem.
5. A Psicologia utiliza-se de metodologias interativas e compreensivas de maneira a permitir que os conteúdos tenham sentido e significado para o aluno que deles se apropria.
6. A Psicologia possibilita o uso de estratégias de aprendizagem e de auto-monitoramento do estudo cujo objetivo é o desenvolvimento da autonomia e da aprendizagem auto-regulada.
7. O número de professores licenciados no Brasil, habilitados para ministrar a Psicologia, é suficiente para atender à demanda das escolas de Ensino Médio do País.
8. A psicologia contribui de forma direta para a concretização dos objetivos da LDB para o ensino médio de favorecer a construção de sujeitos autônomos, responsáveis e democráticos.
Comente, deixe sua contribuição.
1. A Psicologia, enquanto ciência, apresenta um conjunto de teorias e estudos contemporâneos voltados para uma formação humanizadora do jovem.
2- Os estudos da Psicologia permitem uma relevante leitura das relações sociais e culturais na constituição dos sujeitos sociais.
3. A Psicologia possibilita que o jovem compreenda os fatores constitutivos da subjetividade humana, do desenvolvimento da personalidade, da vida comunitária e das novas organizações familiares.
4. A Psicologia tem contribuições específicas a dar como disciplina ao discutir temas como direitos humanos, humilhação social, preconceitos, processos de desenvolvimento e de aprendizagem.
5. A Psicologia utiliza-se de metodologias interativas e compreensivas de maneira a permitir que os conteúdos tenham sentido e significado para o aluno que deles se apropria.
6. A Psicologia possibilita o uso de estratégias de aprendizagem e de auto-monitoramento do estudo cujo objetivo é o desenvolvimento da autonomia e da aprendizagem auto-regulada.
7. O número de professores licenciados no Brasil, habilitados para ministrar a Psicologia, é suficiente para atender à demanda das escolas de Ensino Médio do País.
8. A psicologia contribui de forma direta para a concretização dos objetivos da LDB para o ensino médio de favorecer a construção de sujeitos autônomos, responsáveis e democráticos.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Mãe
Depois de uma conversa sobre quem poderia dar uma palestra no dia das mães, para as mães dos alunos da escola que trabalho, fiquei a pensar algumas coisas.
Como definir essa palavra, ou melhor, esse papel social “mãe”?
Mãe é um rótulo que envolve nossas mulheres, como se fossem naturalmente destinadas à procriação. Desde pequenas com suas bonecas, com suas casinhas, reproduzindo uma certa lógica cultural necessária.
Moças com seus sonhos e seus presentes de pretendentes, inconscientes.
Ursos de pelúcias, cachorros tão fofos, guiando as candidatas ao parto.
Quanta mágica foi envolvida na “mãe”, o quanto foi exigido desse papel. O quanto de fracasso humano foi direcionado para ausência desse ser mítico.
Essa heroína deprimida e valente, capaz de suportar tudo.
O que sobra para a mulher por trás desse papel social?
É pesado esse fardo, essa cruz.
E hoje nem mais honra há. Mas nossas mulheres sustentam essa ruína prestes a vir a baixo.
A cultura reservou um lugar doentio para mulher viver e a luta reservou um dia para comemorar sua ruptura com essa dor imposta.
Por um lado o dia das mães, e nele toda sociedade reunida e aplaudindo o que lhe é necessário a um custo muito alto para mulher.
Por outro, o dia da mulher como anuncio de sua libertação declarada de nossa cultura machista.
Como definir essa palavra, ou melhor, esse papel social “mãe”?
Mãe é um rótulo que envolve nossas mulheres, como se fossem naturalmente destinadas à procriação. Desde pequenas com suas bonecas, com suas casinhas, reproduzindo uma certa lógica cultural necessária.
Moças com seus sonhos e seus presentes de pretendentes, inconscientes.
Ursos de pelúcias, cachorros tão fofos, guiando as candidatas ao parto.
Quanta mágica foi envolvida na “mãe”, o quanto foi exigido desse papel. O quanto de fracasso humano foi direcionado para ausência desse ser mítico.
Essa heroína deprimida e valente, capaz de suportar tudo.
O que sobra para a mulher por trás desse papel social?
É pesado esse fardo, essa cruz.
E hoje nem mais honra há. Mas nossas mulheres sustentam essa ruína prestes a vir a baixo.
A cultura reservou um lugar doentio para mulher viver e a luta reservou um dia para comemorar sua ruptura com essa dor imposta.
Por um lado o dia das mães, e nele toda sociedade reunida e aplaudindo o que lhe é necessário a um custo muito alto para mulher.
Por outro, o dia da mulher como anuncio de sua libertação declarada de nossa cultura machista.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Impossibilidade
São 6 horas, o relógio desperta, João Otávio estica o braço esquerdo e certeiramente desliga o despertador. Os olhos cansados ganham o estímulo da necessidade e se abrem como que não quisessem, como se a alma permanecesse ainda dormindo em algum canto escuro do corpo.
Mais um dia começa, no mesmo ritmo será vivenciado, porém, João Otávio percebe sua angustia aumentar, como que não suportasse mais um dia.
Levanta fazendo um esforço tão grande quanto o dia pede, nenhuma energia a mais liberou, como quem quer conservar o resto de vida que ainda tem.
Dirigi-se ao banheiro, entra no Box e liga o chuveiro por alguns minutos. Algumas lágrimas se misturam com a água que insiste em cair no seu rosto. Nesse momento é tomado por pensamentos que o levam a constatar que a vida lhe escapa pelos dedos a cada dia.
Num relance, como que iluminado, percebeu o quanto poderia ter feito por sua vida e não fez. A quantidade de vida ainda não vivida dentro de si esvaindo-se sem experimentá-la. Lembrou-se da paixão na adolescência que perdera por não ter coragem de abrir o coração; do sonho frustrado de ser médico pela imposição de seu pai em tornar-se administrador para cuidar dos negócios da família; as férias não tirada; a viagem para Grécia sempre adiada; o curso de pintura em tela que a muito desejava fazer, mas nunca encontrou tempo. Enfim, a rotina mórbida de sua vida repetindo-se todos os dias, sem ver a realização de seus sonhos.
Ao desligar o chuveiro, enxugou-se, dirigiu-se ao espelho e viu seus olhos avermelhados, porém, sem lágrimas. Sua aparência passou a incomodar, não exatamente a ele, mas ao sujeito necessário para enfrentar o dia-a-dia. Fixou seus olhos no espelho e teve, por um instante, a sensação angustiante de ver sua vida se repetir eternamente, tal como sempre foi.
Diante de tal percepção, desabou em lágrimas contidas há muito tempo, decepando sua dor, derretendo-a. Sua agonia estava em perceber que ainda não tinha vivido tal como desejava. Mas também não queria a pobreza da vida que tinha, muito menos desejava que essa mesmice se eterniza-se. Pois assim, todas as suas paixões ficariam amortecidas dentro de si. Prostrado em lágrimas, permaneceu por alguns minutos.
Recomposto, foi ao seu escritório particular, num outro cômodo de sua casa, pegou a agenda e passou a folhear até encontrar o dia atual. Leu atentamente todas as sua tarefas. Mas a cada nova linha, subia um grito enraivecido, até então preso nos porões escuros de sua solitária vida moderna. Derrepente, num impulso insano, começou a rasgar e lançar para cima as páginas de sua agenda, como quem joga fora a própria vida. Rasgou e jogou para cima todas as páginas a começar pela página que marcava o dia de hoje. Assim o fez: a primeira se foi, a segunda, a terceira, continuou até que todas as páginas fossem arrancadas.
Tal comportamento produziu certo contentamento que a muito não sentia. Na verdade, desde a infância não tinha tal emoção. Por isso, considerou que experimentava uma estranha e antiga alegria, como se a comida estivesse a muito insossa, derrepende ganhou um tempero especial que a tornou deliciosa. Então, pela primeira vez, desde muito tempo, João Otávio riu um riso gostoso. Riu alto e forte. Depois fixou os olhos no relógio e assustado saiu às pressas para o trabalho, pois já eram 8 horas.
Mais um dia começa, no mesmo ritmo será vivenciado, porém, João Otávio percebe sua angustia aumentar, como que não suportasse mais um dia.
Levanta fazendo um esforço tão grande quanto o dia pede, nenhuma energia a mais liberou, como quem quer conservar o resto de vida que ainda tem.
Dirigi-se ao banheiro, entra no Box e liga o chuveiro por alguns minutos. Algumas lágrimas se misturam com a água que insiste em cair no seu rosto. Nesse momento é tomado por pensamentos que o levam a constatar que a vida lhe escapa pelos dedos a cada dia.
Num relance, como que iluminado, percebeu o quanto poderia ter feito por sua vida e não fez. A quantidade de vida ainda não vivida dentro de si esvaindo-se sem experimentá-la. Lembrou-se da paixão na adolescência que perdera por não ter coragem de abrir o coração; do sonho frustrado de ser médico pela imposição de seu pai em tornar-se administrador para cuidar dos negócios da família; as férias não tirada; a viagem para Grécia sempre adiada; o curso de pintura em tela que a muito desejava fazer, mas nunca encontrou tempo. Enfim, a rotina mórbida de sua vida repetindo-se todos os dias, sem ver a realização de seus sonhos.
Ao desligar o chuveiro, enxugou-se, dirigiu-se ao espelho e viu seus olhos avermelhados, porém, sem lágrimas. Sua aparência passou a incomodar, não exatamente a ele, mas ao sujeito necessário para enfrentar o dia-a-dia. Fixou seus olhos no espelho e teve, por um instante, a sensação angustiante de ver sua vida se repetir eternamente, tal como sempre foi.
Diante de tal percepção, desabou em lágrimas contidas há muito tempo, decepando sua dor, derretendo-a. Sua agonia estava em perceber que ainda não tinha vivido tal como desejava. Mas também não queria a pobreza da vida que tinha, muito menos desejava que essa mesmice se eterniza-se. Pois assim, todas as suas paixões ficariam amortecidas dentro de si. Prostrado em lágrimas, permaneceu por alguns minutos.
Recomposto, foi ao seu escritório particular, num outro cômodo de sua casa, pegou a agenda e passou a folhear até encontrar o dia atual. Leu atentamente todas as sua tarefas. Mas a cada nova linha, subia um grito enraivecido, até então preso nos porões escuros de sua solitária vida moderna. Derrepente, num impulso insano, começou a rasgar e lançar para cima as páginas de sua agenda, como quem joga fora a própria vida. Rasgou e jogou para cima todas as páginas a começar pela página que marcava o dia de hoje. Assim o fez: a primeira se foi, a segunda, a terceira, continuou até que todas as páginas fossem arrancadas.
Tal comportamento produziu certo contentamento que a muito não sentia. Na verdade, desde a infância não tinha tal emoção. Por isso, considerou que experimentava uma estranha e antiga alegria, como se a comida estivesse a muito insossa, derrepende ganhou um tempero especial que a tornou deliciosa. Então, pela primeira vez, desde muito tempo, João Otávio riu um riso gostoso. Riu alto e forte. Depois fixou os olhos no relógio e assustado saiu às pressas para o trabalho, pois já eram 8 horas.
Discussões
O espaço aqui existe com finalidade de estabelecer uma relação com meus leitores, sejam alunos ou interessados em discussões e considerações referentes aos assuntos que me proponho discutir.
Filosofia, Psicologia, Sociedade, Política, Cultura e Educação.
Os mesmos também podem se comunicar via e-mail
ismael_psico@hotmail.com
Anexe aqui seu comentário.
Filosofia, Psicologia, Sociedade, Política, Cultura e Educação.
Os mesmos também podem se comunicar via e-mail
ismael_psico@hotmail.com
Anexe aqui seu comentário.
quinta-feira, 26 de março de 2009
Versos
Versos e inversos
eu verso ao inverso
De trás para a frente
Da ordem para desordem
Do fim para o inicio.
Só não são palavras ao contrário
pois do contrário
não poderiam ser lidas.
Talvez aqui nem mais versos
apenas verso sem estética rítmica
Verso sobre a alma
Esta estranheza posta ao contrário,
contrário de tudo.
Esse nada no mundo
Essa faísca que ilumina
a escuridão profunda
entre o sujeito e o objeto,
o verbo.
Em cada situação
produz um efeito
Agora aqui faz versos.
Que saem do inverso, ao contrário
E essa é minha sentença efêmera
sobre a lógica mundana.
Estão postos no papel
Acessível ao olhar,
Meu olhar,
que retorna a mim mesmo.
eu verso ao inverso
De trás para a frente
Da ordem para desordem
Do fim para o inicio.
Só não são palavras ao contrário
pois do contrário
não poderiam ser lidas.
Talvez aqui nem mais versos
apenas verso sem estética rítmica
Verso sobre a alma
Esta estranheza posta ao contrário,
contrário de tudo.
Esse nada no mundo
Essa faísca que ilumina
a escuridão profunda
entre o sujeito e o objeto,
o verbo.
Em cada situação
produz um efeito
Agora aqui faz versos.
Que saem do inverso, ao contrário
E essa é minha sentença efêmera
sobre a lógica mundana.
Estão postos no papel
Acessível ao olhar,
Meu olhar,
que retorna a mim mesmo.
segunda-feira, 16 de março de 2009
Espelho
A rotina é a mesma, pega-se um cristal quadrado contendo o número 07 e dirigi-se para a esquerda até o final do corredor. O espaço é apertado, mas o suficiente para provar a roupa que se quer comprar. As pessoas entram e saem daquele espaço e sempre esquecem algo. Não, não falo de objetos, falo delas mesmas. Não são capazes de olharem para si no espelho enorme que ali se encontra. E isso me angustia.
Por conta disso, fica uma certa tristeza no local, percebida por mim, quando vazio. No dia de hoje, por exemplo, foram tantas e diferentes as pessoas que passaram pelo provador 07, que quando entraram no final do dia para limpeza senti o ar pesado, carregado. Eu naquele espaço vazio desejava chorar. Acho que tem haver comigo, pois ao me olharem as pessoas vêem tudo, menos elas mesmas.
As madames, tão lindas, perambulam desocupadas pela loja a escolher roupas que não sei se um dia usarão todas, pois são tantas. As vejo quase todos os dias se dirigirem ao provador. Parece existir certo imã no provador 07, pois elas são atraídas sempre para ele. Para se darem dessa forma ao consumo só podem desviar o olhar dos próprios olhos no espelho, pois não agüentam ver naquele espaço apertado o vazio interno do qual fogem o tempo todo.
Algumas meninas, com ou sem suas mães, caminham no mesmo passo. Já aprenderam a ignorar o que deveriam ver e perceber o conjunto que força tornarem-se mulheres antes de serem crianças, como que vencidas por uma tendência que, como bonecas programadas, não questionam. Fazem jus aos seus ícones modernos de consumo como a barbie e tantas outras.
Os homens são mais discretos, parecem sempre atrasados, impacientes. Por essa condição se tornam práticos, buscam objetivamente o que querem. Dificilmente perambulam pelos corredores da loja. Mais raramente entram no provador, a menos que tenham alguma dúvida em relação a servir ou não o que estão comprando. Mas esses parecem mais distantes ainda de um olhar atento sobre si, como se seus olhos não tivessem tempo de olhar outra parte do corpo se não a que experimenta o objeto.
Encontro também moças formosas desfilando juventude, muitas não resistem ao espelho, quase todas. Elas demoram mais no provador, pois, não apenas experimentam seus objetos de consumo, mas reparam a maquiagem, identificam as primeiras rugas no rosto, arrumam o cabelo. Essas quase se vêm, quase se enxergam. Eu como intermediário vejo que o outro lado sorri para elas, mas frustro-me também, pois elas não se percebem. Apenas me iludo com seus quase encontros. Então, nesse local que poderia ser de encontros, evidenciam-se desencontros. Tais beldades olham atentamente seus olhos, mas não se olham nos olhos.
Fico ali aguardando meu único momento de glória, momento em que a simplicidade invade o espaço 07. Cabelos pretos, presos, uniforme marrom. Engraçado, sou eu quem a observa enquanto limpa-me sem me olhar, como que não precisasse, como que se conhecesse. Não que a vaidade não estivesse ali, mas ela não se perde ali.
A única que, se me olhar, sei que tornará significativa minha existência, para além de vidro e metal, pois percebe o que ninguém percebe, se percebe. E ao se perceber sorri para si mesma e assim sorri para mim. Como raramente vejo alguém sorrir no provador 07.
Por conta disso, fica uma certa tristeza no local, percebida por mim, quando vazio. No dia de hoje, por exemplo, foram tantas e diferentes as pessoas que passaram pelo provador 07, que quando entraram no final do dia para limpeza senti o ar pesado, carregado. Eu naquele espaço vazio desejava chorar. Acho que tem haver comigo, pois ao me olharem as pessoas vêem tudo, menos elas mesmas.
As madames, tão lindas, perambulam desocupadas pela loja a escolher roupas que não sei se um dia usarão todas, pois são tantas. As vejo quase todos os dias se dirigirem ao provador. Parece existir certo imã no provador 07, pois elas são atraídas sempre para ele. Para se darem dessa forma ao consumo só podem desviar o olhar dos próprios olhos no espelho, pois não agüentam ver naquele espaço apertado o vazio interno do qual fogem o tempo todo.
Algumas meninas, com ou sem suas mães, caminham no mesmo passo. Já aprenderam a ignorar o que deveriam ver e perceber o conjunto que força tornarem-se mulheres antes de serem crianças, como que vencidas por uma tendência que, como bonecas programadas, não questionam. Fazem jus aos seus ícones modernos de consumo como a barbie e tantas outras.
Os homens são mais discretos, parecem sempre atrasados, impacientes. Por essa condição se tornam práticos, buscam objetivamente o que querem. Dificilmente perambulam pelos corredores da loja. Mais raramente entram no provador, a menos que tenham alguma dúvida em relação a servir ou não o que estão comprando. Mas esses parecem mais distantes ainda de um olhar atento sobre si, como se seus olhos não tivessem tempo de olhar outra parte do corpo se não a que experimenta o objeto.
Encontro também moças formosas desfilando juventude, muitas não resistem ao espelho, quase todas. Elas demoram mais no provador, pois, não apenas experimentam seus objetos de consumo, mas reparam a maquiagem, identificam as primeiras rugas no rosto, arrumam o cabelo. Essas quase se vêm, quase se enxergam. Eu como intermediário vejo que o outro lado sorri para elas, mas frustro-me também, pois elas não se percebem. Apenas me iludo com seus quase encontros. Então, nesse local que poderia ser de encontros, evidenciam-se desencontros. Tais beldades olham atentamente seus olhos, mas não se olham nos olhos.
Fico ali aguardando meu único momento de glória, momento em que a simplicidade invade o espaço 07. Cabelos pretos, presos, uniforme marrom. Engraçado, sou eu quem a observa enquanto limpa-me sem me olhar, como que não precisasse, como que se conhecesse. Não que a vaidade não estivesse ali, mas ela não se perde ali.
A única que, se me olhar, sei que tornará significativa minha existência, para além de vidro e metal, pois percebe o que ninguém percebe, se percebe. E ao se perceber sorri para si mesma e assim sorri para mim. Como raramente vejo alguém sorrir no provador 07.
quarta-feira, 11 de março de 2009
Aurora
O nascer do sol é um fenômeno repetitivo. O hábito já o tornou tão comum que dele nada se espera a não ser estar ali no dia seguinte, como se tal movimento da terra fosse eternizado por uma física exata. Portanto, deveria ser esquecido e descartado como um momento nobre da vida, mas não é. Sempre que posso observo-o atentamente, desde seu aparecimento inicial até a luz ofuscar meus olhos. Quanta beleza em algo tão trivial.
Mas esse eterno retorno do astro luminoso provoca sentimentos que escapam a seqüência lógica de sua física exata. Mesmo sendo objetivamente repetitivo, torna-se internamente singular. Talvez pelo acréscimo de que um dia a mais foi vivido e, portanto, o observador já não é o mesmo. Mais do que isso, penso que depois do sono um novo espaço em branco se desponta para ser preenchido. Um novo vazio de conteúdo para ser escrito da mesma forma que ontem, ou de uma nova maneira.
As primeiras horas do dia que despontam no horizonte não fazem sentido para a humanidade adormecida. Levanta e não acorda, vê o dia já claro, já pronto para ser vivido. Na verdade, a própria vida já está pronta depois do sol indicar o caminho que apenas os que o vêem nascer percebem.
O homem perdeu sua subjetividade que o lança para o futuro vazio de conteúdo e cheio de possibilidades livres numa física exata, tal como a que move regularmente a terra em volta dela mesma para ser observada pelo sol. As possibilidades livres da vida estão restritas pela mecânica dos corpos, eternamente condicionadas ao mesmo movimento. O homem pode escapar da mecânica que o aprisiona quando encontrar na aurora a percepção que ontem não será como hoje e amanhã pode ser de muitas e diferentes formas.
O sol tem o poder de fazer a vida mudar o rumo, pois pode refletir o dia que se foi e propor mudanças no dia que vem. Mas é necessário se diferenciar dos corpos movidos e explicados pela física newtoniana, pois no corpo humano a vida ganha o acréscimo da alma que permite ao corpo a autonomia diante do dia que inicia.
A dimensão do tempo coloca-nos a observar os dias que se foram para poder apontar caminhos aos dias que ainda são possibilidades ao amanhecer.
Por fim, passam muitas coisas no instante de tempo em que o sol inicia seu aparecimento até ofuscar os olhos de quem o observa. Mas nada é mais valioso do que a oportunidade de viver mais um dia como único. E isso só é possível a nós outros, seres de corpo e alma, não só corpo, nem só alma. Se fossemos somente corpo, estaríamos restritos a lei da física exata; se fossemos somente alma, estaríamos restritos ao abstrato atemporal, eternamente o mesmo. Mas, somos corpo e alma, por isso, o tempo é a dimensão necessária para a alma emergir com liberdade na aurora de cada dia.
Mas esse eterno retorno do astro luminoso provoca sentimentos que escapam a seqüência lógica de sua física exata. Mesmo sendo objetivamente repetitivo, torna-se internamente singular. Talvez pelo acréscimo de que um dia a mais foi vivido e, portanto, o observador já não é o mesmo. Mais do que isso, penso que depois do sono um novo espaço em branco se desponta para ser preenchido. Um novo vazio de conteúdo para ser escrito da mesma forma que ontem, ou de uma nova maneira.
As primeiras horas do dia que despontam no horizonte não fazem sentido para a humanidade adormecida. Levanta e não acorda, vê o dia já claro, já pronto para ser vivido. Na verdade, a própria vida já está pronta depois do sol indicar o caminho que apenas os que o vêem nascer percebem.
O homem perdeu sua subjetividade que o lança para o futuro vazio de conteúdo e cheio de possibilidades livres numa física exata, tal como a que move regularmente a terra em volta dela mesma para ser observada pelo sol. As possibilidades livres da vida estão restritas pela mecânica dos corpos, eternamente condicionadas ao mesmo movimento. O homem pode escapar da mecânica que o aprisiona quando encontrar na aurora a percepção que ontem não será como hoje e amanhã pode ser de muitas e diferentes formas.
O sol tem o poder de fazer a vida mudar o rumo, pois pode refletir o dia que se foi e propor mudanças no dia que vem. Mas é necessário se diferenciar dos corpos movidos e explicados pela física newtoniana, pois no corpo humano a vida ganha o acréscimo da alma que permite ao corpo a autonomia diante do dia que inicia.
A dimensão do tempo coloca-nos a observar os dias que se foram para poder apontar caminhos aos dias que ainda são possibilidades ao amanhecer.
Por fim, passam muitas coisas no instante de tempo em que o sol inicia seu aparecimento até ofuscar os olhos de quem o observa. Mas nada é mais valioso do que a oportunidade de viver mais um dia como único. E isso só é possível a nós outros, seres de corpo e alma, não só corpo, nem só alma. Se fossemos somente corpo, estaríamos restritos a lei da física exata; se fossemos somente alma, estaríamos restritos ao abstrato atemporal, eternamente o mesmo. Mas, somos corpo e alma, por isso, o tempo é a dimensão necessária para a alma emergir com liberdade na aurora de cada dia.
segunda-feira, 9 de março de 2009
Dostoiévski me fez Lembrar
Acabei de ler Crime e Castigo de Dostoiévski, eram onze horas da manhã. Ao terminar o segundo e último capitulo do Epílogo, fui tomado de emoções tão mais fortes que as outras que, sem esforços, foram percebidas durante toda leitura. Com que profundidade toca Dostoiévski a alma humana culpada e espedaçada num golpe traiçoeiro da moral. Obviamente que em seu tempo, percebia como poucos o efeito devastador da moral que, como cordas, amaram nossos pensamentos sem dar conta de amarrar nossas paixões, porém, fixa sobre elas a idéia de que todas são vãs. E nosso caminhar sobre a terra fica assim, ideologicamente estruturado e existencialmente fragmentado. Sem perceber, por conta do temor, o homem não consegue enxergar que é o peso da estrutura moral que espedaça sua vida. E como gado ao matadouro, tenta juntar os pedaços sem saber que muitos deles se perderam definitivamente sobre o ideal moral.
Em especial uma cena pintada como arte através de suas palavras me chamou atenção. Raskólhnikov e Sônia dividindo sentimentos sem qualquer palavra, simplesmente porque não cabiam naquele momento. Dostoiévski descreve a cena num descampado perto do local dos trabalhos forçados da prisão em que se encontrava Raskólhnikov, conseguindo descrever os sentimentos sem colocá-los nas bocas dos seus personagens. Diante de tão esplendida descrição das emoções nuas daqueles seres lembrei-me de um momento assim de minha vida. Nele descobri que teria dois amigos para sempre.
Éramos adolescentes na cidade de Joinville, norte do estado de Santa Catarina, quando um de desses dois amigos perdeu a mãe para o câncer. Lembro-me de ter ouvido de sua irmã que não passara a noite em casa.
No outro dia fomos ao velório. Chegando lá, numa igreja evangélica em construção, na parte do térreo, numa sala pequena e desconfortável estava a mãe de meu amigo. Não haviam bancos adequados para acomodar os familiares e não encontramos ali o complemento daquele trio inseparável. Nos dirigimos à escada, na frente da igreja, na parte interna do prédio e o vimos ali sentado na escada ainda em construção, no cimento endurecido, mas sem piso. Escada empoeirada e suja ali estava nosso amigo, solitário e quieto. Sentamos ao seu lado e penso termos, naquele momento, atingido uma sincronia que pude sentir que até gostaríamos de falar alguma coisa para confortar-lhe , mas não foram encontradas as palavras, então como se não pudéssemos resistir começamos a chorar em silêncio. Os três amigos. E naquelas lágrimas dividimos nossa dor, nosso conforto, nosso amor, com o respeito que a ocasião exigia. Nenhuma palavra foi dita durante uns dez minutos até um deles, o que a mão fora morta, quebrar o silêncio com uma piadinha sem muito sentido, mas própria para a ocasião.
Sei que naquele dia um elo de amizade, respeito, fraternidade, honra e cumplicidade nos envolveu para sempre. Encontrei ali meus dois grandes amigos, os quais mesmo separados geofgraficamenbte, estarão unidos por um vinculo sem barreiras, a amizade.
Em especial uma cena pintada como arte através de suas palavras me chamou atenção. Raskólhnikov e Sônia dividindo sentimentos sem qualquer palavra, simplesmente porque não cabiam naquele momento. Dostoiévski descreve a cena num descampado perto do local dos trabalhos forçados da prisão em que se encontrava Raskólhnikov, conseguindo descrever os sentimentos sem colocá-los nas bocas dos seus personagens. Diante de tão esplendida descrição das emoções nuas daqueles seres lembrei-me de um momento assim de minha vida. Nele descobri que teria dois amigos para sempre.
Éramos adolescentes na cidade de Joinville, norte do estado de Santa Catarina, quando um de desses dois amigos perdeu a mãe para o câncer. Lembro-me de ter ouvido de sua irmã que não passara a noite em casa.
No outro dia fomos ao velório. Chegando lá, numa igreja evangélica em construção, na parte do térreo, numa sala pequena e desconfortável estava a mãe de meu amigo. Não haviam bancos adequados para acomodar os familiares e não encontramos ali o complemento daquele trio inseparável. Nos dirigimos à escada, na frente da igreja, na parte interna do prédio e o vimos ali sentado na escada ainda em construção, no cimento endurecido, mas sem piso. Escada empoeirada e suja ali estava nosso amigo, solitário e quieto. Sentamos ao seu lado e penso termos, naquele momento, atingido uma sincronia que pude sentir que até gostaríamos de falar alguma coisa para confortar-lhe , mas não foram encontradas as palavras, então como se não pudéssemos resistir começamos a chorar em silêncio. Os três amigos. E naquelas lágrimas dividimos nossa dor, nosso conforto, nosso amor, com o respeito que a ocasião exigia. Nenhuma palavra foi dita durante uns dez minutos até um deles, o que a mão fora morta, quebrar o silêncio com uma piadinha sem muito sentido, mas própria para a ocasião.
Sei que naquele dia um elo de amizade, respeito, fraternidade, honra e cumplicidade nos envolveu para sempre. Encontrei ali meus dois grandes amigos, os quais mesmo separados geofgraficamenbte, estarão unidos por um vinculo sem barreiras, a amizade.
quinta-feira, 5 de março de 2009
Dias Quentes
Dias quentes de verão, dias que o calor se entrepõe com força sobre nossos deveres cotidianos.
Dias como estes deveriam estar num passado próximo, nas férias.
Mas parece que a natureza insiste em mostrar a velha mitologia bíblica a cerca do inicio dos tempos "Do suor do teu rosto comerás".
Que frase foi essa, que afirmação mais antiga e nova, mais veemente e indesejada.
Somos todos escravos do trabalho, quando deveríamos nos deleitar do mesmo.
Porém, quando chegar a hora do deleite, estaremos tão indispostos que nada mais faremos, se não descansar o descanso da morte.
Já é o fim de mais um dia e o dever insiste em nos manter de pé quando o calor já nos roubou todas as forças.
A verdade é que Marx se equivocou quanto o avanço da tecnologia ao dizer que na medida do avanço teríamos mais tempo para a cultura e o lazer.
E o que ocorre, o contrário, o trabalho nos rouba as forças, o tempo, a alma.
Mas uma única verdade declamo aos quatro ventos, a certeza de superar a cada dia o seu mal.
O labor é a grande contradição que dignifica e mata.
Dias como estes deveriam estar num passado próximo, nas férias.
Mas parece que a natureza insiste em mostrar a velha mitologia bíblica a cerca do inicio dos tempos "Do suor do teu rosto comerás".
Que frase foi essa, que afirmação mais antiga e nova, mais veemente e indesejada.
Somos todos escravos do trabalho, quando deveríamos nos deleitar do mesmo.
Porém, quando chegar a hora do deleite, estaremos tão indispostos que nada mais faremos, se não descansar o descanso da morte.
Já é o fim de mais um dia e o dever insiste em nos manter de pé quando o calor já nos roubou todas as forças.
A verdade é que Marx se equivocou quanto o avanço da tecnologia ao dizer que na medida do avanço teríamos mais tempo para a cultura e o lazer.
E o que ocorre, o contrário, o trabalho nos rouba as forças, o tempo, a alma.
Mas uma única verdade declamo aos quatro ventos, a certeza de superar a cada dia o seu mal.
O labor é a grande contradição que dignifica e mata.
Curriculum
1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Nome ISMAEL FERREIRA
Data de Nascimento 07/06/1980
E-mail ismael_psico@hotmail.com.br
Celular: (48) 9944-4843
2. CURSOS
Introdução à Informática
NOVA ERA Joinville – SC
Conclusão: 1994
Curso integrado de Informática
SENAI Joinville – SC
Conclusão: 1996
Métodos para Alfabetização de Adultos
ALFALIT BRASIL Joinville – SC
Conclusão 1997
Administração de Núcleos da EETAD
EETAD Campinas – SP
Conclusão: 1999
Curso Básico de Teologia Por Módulo
EETAD Jaú – SP
Conclusão: 2000
Curso de Oratória
CEPEI Jaú – SP
Conclusão: 2001
Curso Fundamental de Teologia
CEPEI Jaú – SP
Conclusão: 2001
Curso Básico de Hebraico Bíblico e Exegese Veterotestamentária
CEPEI Jaú – SP
Conclusão: 2001
Curso Básico de Grego Bíblico e Exegese Neotestamentária
CEPEI Jaú – SP
Conclusão: 2001
Drogas: como prevenir
UNESC Criciúma – SC
Conclusão: 2006
Ciência Política
UNESC Criciúma – SC
Conclusão: 2004
3. FORMAÇÃO ACADÊMICA
Bacharel em Psicologia
UNESC Criciúma – SC
Conclusão: 2007
Psicólogo Clínico
UNEC Criciúma – SC
Conclusão: 2008
Mestrando em Filosofia (Ontologia)
UFSC Florianópolis - SC
Perspectiva para Conclusão: 2012
Pós-Graduação em Psicologia Existencialista
Perspectiva para Conclusão: 2011
4 ATIVIDADES ACADÊMICAS
Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Filosofia da UNESC – GEPFilosofia
UNESC Criciúma – SC
Estudos sobre ÉTICA, POLÍTICA, TEORIA DO CONHECIMENTO E SOCIEDADE
Conclusão: 2006 (3 Anos)
Monitor da Disciplina de Filosofia – Curso de Psicologia
UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense
Conclusão: 2005 (1 Ano)
Organização da Segunda Semana Acadêmica de Psicologia
UNESC Criciúma – SC
Data: Agosto de 2006
Pesquisador
UNESC Criciúma – SC
A Potencialização da Singularidade Esquizo diante do Esquizofrênico – PIC/UNESC
Período: Abril 2006 – Abril 2007
Estágios Obrigatórios
UNESC Criciúma – SC
- Psicologia na Educação - EDUCAÇÃO POPULAR E FILOSOFIA NAS SÉRIES INICIAIS – 2006
- Psicologia Social - ASPECTOS SOCIAIS DA DROGADIÇÃO - 2006
- Psicologia Organizacional e do Trabalho – COOPERATIVISMO E AUTOGESTÃO NO PRESÍDIO STA. AUGUSTA – 2007
- Psicologia Clínica - PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA E EXISTENCIALISTA – 2008
5 PARTICIPAÇÃO EM SIMPÓSIOS
I Encontro Catarinense Universitário de Psicologia
UNESC Criciúma – SC
Setembro de 2003
IV Seminário de Iniciação Científica
UNESC Criciúma – SC
Agosto de 2004
II Congresso Estadual de Educação Popular
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO Criciúma – SC
Julho de 2004
X Encontro da Abrapso Regional Sul
ABRAPSO Curitiba - PR
Setembro de 2004
I Semana Acadêmica do Curso de Psicologia
UNESC Criciúma - SC
Outubro de 2005
II Encontro Regional da ABEP
ABEP Joinville – SC
Abril de 2006
II Semana Acadêmica do Curso de Psicologia
UNESC Criciúma – SC
Agosto de 2006
II Fórum para Profissionais da Educação sobre Prevenção ao uso Indevido de Drogas
UNESC Criciúma – SC
Setembro de 2006
IV Fórum para Educadores e Pais
COLÉGIO SÃO BENTO Criciúma – SC
6 APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS E PALESTRAS
PALESTRAS
- DROGAS: COMO PREVENIR
- QUALIDADE DE VIDA
- ARTE COMO FORÇA DE EXPRESSÃO: RESISTÊNCIA AS DROGAS
ESCOLA SERAFINA MILIOLI PESCADOR Criciúma – SC
I Semestre de 2003
- SEXUALIDADE
ESCOLA BARÃO DO RIO BRANCO Urussanga – SC
Junho de 2008
- MOTIVAÇÃO DO GRUPO (Superando os desafios para o Trabalho como Educador)
ESCOLA UDO DEEKE Treviso – SC
Julho de 2008
- ESCOLHAS AUTÊNTICAS
ESCOLA ANTÔNIO MILANEZ NETO - Criciúma - SC (Agosto de 2010)
ESCOLA SEBASTIÃO TOLEDO DOS SANTOS - Criciúma - SC (Setembro de 2010)
ESCOLA QUINTINO DAJORE - Criciúma - SC (Outubro de 2010)
- VIVÊNCIA: O HUMANO POR TRÁS DO EDUCADOR: POSSIBILIDADES E IMPOSSIBILIDADES, SATISFAÇÕES E FRUSTRAÇÕES DE SEU OFÍCIO
ESCOLA ANTÔNIO MILANEZ NETO - SC
FEVEREIRO DE 2010
- VIVÊNCIA: O HUMANO POR TRÁS DO EDUCADOR: POSSIBILIDADES E IMPOSSIBILIDADES, SATISFAÇÕES E FRUSTRAÇÕES DE SEU OFÍCIO
COLÉGIO HERMANN SPETHMANN
JULHO DE 2010
- VIVÊNCIA: O HUMANO POR TRÁS DO EDUCADOR: POSSIBILIDADES E IMPOSSIBILIDADES, SATISFAÇÕES E FRUSTRAÇÕES DE SEU OFÍCIO
ESCOLA LINDOLFO COLLOR
JULHO DE 2010
APRESENTAÇÕES EM CONGRESSOS CIENTÍFICOS
- Panorama do Pensamento Cristão (Comunicação) - I ENCONTRO CATARINENSE UNIVERSITÁRIO DE PSICOLOGIA
UNESC Setembro de 2003
- A Origem das Idéias: o confronto das divergências entre Hume e Descartes (Comunicação) - IV SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
UNESC Agosto de 2004
- A Origem das Idéias em Hume e Descartes (Aula) – DISCIPLINA DE FILOSOFIA – Curso de Psicologia
UNESC Outubro de 2004
- Sobre o Suposto Autor da Autobiografia de Nietzsche- pelo Professor Dr Sandro Kobol Fornazari
Ismael Ferreira (Debatedor)
CAFÉ FILOSÓFICO – Centro Acadêmico de Psicologia / Departamento de Psicologia
UNESC 13 de Maio de 2005
- Reflexões Sobre a Produção da Existência Humana e a Formação da Consciência Moderna: do materialismo clássico ao materialismo dialético- pelo Professor Mestre Sandro Grisa
Ismael Ferreira (Debatedor)
CAFÉ FILOSÓFICO – Centro Acadêmico de Psicologia / Departamento de Psicologia
UNESC 26 de Maio de 2006
- Existencialismo de Sartre e suas Contribuições à Psicologia Fenomenológica – pela Professora Dra. Janine Moreira
Ismael Ferreira (Debatedor)
UNESC Agosto de 2006
- Introdução à Esquizoanálise (Comunicaçãol) - I SEMANA ACADÊMICA DE PSICOLOGIA
UNESC Agosto de 2005
- Educação Popular e Filosofia Nas Séries Iniciais (Comunicação) – II SEMANA ACADÊMICA DE PSICOLOGIA
UNESC Agosto de 2006
- Esquizoanálise (Oficina) - II SEMANA ACADÊMICA DE PSICOLOGIA
UNESC Agosto de 2006
- Esquizoanálise: a potencialização da singularidade esqizo diante da produção do esquizofrênico (Comunicação) - VI SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
UNESC Agosto de 2006
- Formação Política da Juventude Catarinense: experiências da Escola do Legislativo (Oficina) – I CONGRESSO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA JUVENTUDE
UNESC Julho de 2007
- Mesa de Discussão sobre Políticas Públicas para Juventude (Palestrante)- I CONGRESSO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA JUVENTUDE
UNESC Julho de 2007
- Contribuições de Nietzsche à Esquizoanálise (Comunicação) – I CONGRESSO HUMANIDADES, CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO
UNESC Agosto de 2008
-Prelúdio de uma Psicologia Materialista (Comunicação) - I CONGRESSO DE HUMANIDADES, CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO
UNESC Agosto de 2008
-Rastros de Nietzsche, Marx e Foucault em Deleuze (Comunicação) - IV ENCONTRO REGIONAL SUL DA ABEP
UNISUL / PALHOÇA Outubro de 2008
7 PUBLICAÇÕES
CIENTÍFICAS
- A Origem das Idéias em Hume e Descartes: uma análise das divergências entre empirismo e idealismo
CADERNO DE RESUMOS DO IV SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – UNESC
- Esquizoanálise: a potemcialização da singularidade esquizo diante da produção do esquizofrênico
CADERNO DE RESUMOS DO VI SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA - UNESC
- A Origem das Idéias: o conflito das divergências entre Hume e Descartes
REVISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA - UNESC
- Tradição Judaico-Cristã Escrita: um ensaio crítico sobre a canonização Vetero e Neo Testamentária
REVISTA DE HISTÓRIA TEMPOS ACADÊMICOS - UNESC
- A Insuficiência do Método Cartesiano na Formulação de um Teísmo Racionalista
REVISTA DE TEOLOGIA VOX SCRIPTURAE – FACULDADE LUTERANA DE S. BENTO DO SUL
- Escolha Profissional: entre os sonhos os ideais e o capitalismo
REVISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – UNESC
JORNAIS, REVISTAS E PUBLICAÇÕES ON LINE
- O Conhecimento que Redescobre o Homem – Anexo Idéias do Jornal A Notícia
- O Eterno Retorno como Juízo da Viva – Anexo Idéias do Jornal A Notícia
- Idéias Formadas a Parir da Experiência – Anexo Idéias do Jornal A Notícia
- Adam Smith, Sempre Atual – Anexo Idéias do Jornal A Notícia
- A Verdade e a Fé – nexo Idéias do Jornal A Notícia
- Proximidade Virtual, Distanciamento Real – Jornal Diário de Criciúma
- Dois Pesos, Duas Medidas – Jornal da Manhã
- Coluna Semanal - Convite ao Divã - Jornal do Rincão (Durante o Segundo Semestre de 2009)
- Descartes tenta Provar a Existência de Deus usando a Razão - www.mundojovem.com.br
8 ATIVIDADES PROFISSIONAIS
EETAD – Escola de Educação Teológica das Assembléias de Deus
Núcleo de Jaú – SP
Secretário-tesoureiro
Período: 02/2000 - 11/2001
ESCOLA DE TEOLOGIA HOLANDO BRASIL
Professor
Disciplinas Ministradas: - Exegese, Heresiologia, Harmatiologia, Soteriologia, Homilética
Período: 02/2003 - 11/2003
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ANTONIO MILANEZ NETO
Criciúma – SC
Professor – Psicologia e Filosofia
Período: Fevereiro 2007 – Dezembro 2007
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA UDO DEEKE
Treviso – SC
Professor – Psicologia, Filosofia e Sociologia (Ensino Médio)
Período: Fevereiro de 2007 – Dezembro 2008
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ANTÔNIO G. SOBRINHO
IÇARA - SC
PROFESSOR - Psicologia e Sociologia
Período - Fevereiro de 2009 - Dezembro de 2009
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA SEBASTIÃO TOLEDO DOS SANTOS
CRICIÚMA - SC
PROFESSOR - FILOSOFIA E SOCIOLOGIA
Período - Fevereiro de 2009 - Dezembro de 2009
CONSULTÓRIO DE PSICOLOGIA
CRICIÚMA - SC
PSICOTERAPIA EXISTENCIALISTA
Período Atual
ABADEUS
CRICIÚMA - SC
PSICÓLOGO SOCIAL
Período Atual
9 ÁREA DE ATUAÇÃO
* EDUCAÇÃO
- Psicologia Existencialista Clínica e Social / Cidadania / relações Humanas / Desenvolvimento Humano / Personalidade / Saúde Mental
* FILOSOFIA
- Ontologia
- Fenomenologia
* PSICOLOGIA
- Psicologia Social e Política
- Psicologia Clínica (Abordagem Existencialista)
- Orientação profissional
Nome ISMAEL FERREIRA
Data de Nascimento 07/06/1980
E-mail ismael_psico@hotmail.com.br
Celular: (48) 9944-4843
2. CURSOS
Introdução à Informática
NOVA ERA Joinville – SC
Conclusão: 1994
Curso integrado de Informática
SENAI Joinville – SC
Conclusão: 1996
Métodos para Alfabetização de Adultos
ALFALIT BRASIL Joinville – SC
Conclusão 1997
Administração de Núcleos da EETAD
EETAD Campinas – SP
Conclusão: 1999
Curso Básico de Teologia Por Módulo
EETAD Jaú – SP
Conclusão: 2000
Curso de Oratória
CEPEI Jaú – SP
Conclusão: 2001
Curso Fundamental de Teologia
CEPEI Jaú – SP
Conclusão: 2001
Curso Básico de Hebraico Bíblico e Exegese Veterotestamentária
CEPEI Jaú – SP
Conclusão: 2001
Curso Básico de Grego Bíblico e Exegese Neotestamentária
CEPEI Jaú – SP
Conclusão: 2001
Drogas: como prevenir
UNESC Criciúma – SC
Conclusão: 2006
Ciência Política
UNESC Criciúma – SC
Conclusão: 2004
3. FORMAÇÃO ACADÊMICA
Bacharel em Psicologia
UNESC Criciúma – SC
Conclusão: 2007
Psicólogo Clínico
UNEC Criciúma – SC
Conclusão: 2008
Mestrando em Filosofia (Ontologia)
UFSC Florianópolis - SC
Perspectiva para Conclusão: 2012
Pós-Graduação em Psicologia Existencialista
Perspectiva para Conclusão: 2011
4 ATIVIDADES ACADÊMICAS
Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Filosofia da UNESC – GEPFilosofia
UNESC Criciúma – SC
Estudos sobre ÉTICA, POLÍTICA, TEORIA DO CONHECIMENTO E SOCIEDADE
Conclusão: 2006 (3 Anos)
Monitor da Disciplina de Filosofia – Curso de Psicologia
UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense
Conclusão: 2005 (1 Ano)
Organização da Segunda Semana Acadêmica de Psicologia
UNESC Criciúma – SC
Data: Agosto de 2006
Pesquisador
UNESC Criciúma – SC
A Potencialização da Singularidade Esquizo diante do Esquizofrênico – PIC/UNESC
Período: Abril 2006 – Abril 2007
Estágios Obrigatórios
UNESC Criciúma – SC
- Psicologia na Educação - EDUCAÇÃO POPULAR E FILOSOFIA NAS SÉRIES INICIAIS – 2006
- Psicologia Social - ASPECTOS SOCIAIS DA DROGADIÇÃO - 2006
- Psicologia Organizacional e do Trabalho – COOPERATIVISMO E AUTOGESTÃO NO PRESÍDIO STA. AUGUSTA – 2007
- Psicologia Clínica - PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA E EXISTENCIALISTA – 2008
5 PARTICIPAÇÃO EM SIMPÓSIOS
I Encontro Catarinense Universitário de Psicologia
UNESC Criciúma – SC
Setembro de 2003
IV Seminário de Iniciação Científica
UNESC Criciúma – SC
Agosto de 2004
II Congresso Estadual de Educação Popular
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO Criciúma – SC
Julho de 2004
X Encontro da Abrapso Regional Sul
ABRAPSO Curitiba - PR
Setembro de 2004
I Semana Acadêmica do Curso de Psicologia
UNESC Criciúma - SC
Outubro de 2005
II Encontro Regional da ABEP
ABEP Joinville – SC
Abril de 2006
II Semana Acadêmica do Curso de Psicologia
UNESC Criciúma – SC
Agosto de 2006
II Fórum para Profissionais da Educação sobre Prevenção ao uso Indevido de Drogas
UNESC Criciúma – SC
Setembro de 2006
IV Fórum para Educadores e Pais
COLÉGIO SÃO BENTO Criciúma – SC
6 APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS E PALESTRAS
PALESTRAS
- DROGAS: COMO PREVENIR
- QUALIDADE DE VIDA
- ARTE COMO FORÇA DE EXPRESSÃO: RESISTÊNCIA AS DROGAS
ESCOLA SERAFINA MILIOLI PESCADOR Criciúma – SC
I Semestre de 2003
- SEXUALIDADE
ESCOLA BARÃO DO RIO BRANCO Urussanga – SC
Junho de 2008
- MOTIVAÇÃO DO GRUPO (Superando os desafios para o Trabalho como Educador)
ESCOLA UDO DEEKE Treviso – SC
Julho de 2008
- ESCOLHAS AUTÊNTICAS
ESCOLA ANTÔNIO MILANEZ NETO - Criciúma - SC (Agosto de 2010)
ESCOLA SEBASTIÃO TOLEDO DOS SANTOS - Criciúma - SC (Setembro de 2010)
ESCOLA QUINTINO DAJORE - Criciúma - SC (Outubro de 2010)
- VIVÊNCIA: O HUMANO POR TRÁS DO EDUCADOR: POSSIBILIDADES E IMPOSSIBILIDADES, SATISFAÇÕES E FRUSTRAÇÕES DE SEU OFÍCIO
ESCOLA ANTÔNIO MILANEZ NETO - SC
FEVEREIRO DE 2010
- VIVÊNCIA: O HUMANO POR TRÁS DO EDUCADOR: POSSIBILIDADES E IMPOSSIBILIDADES, SATISFAÇÕES E FRUSTRAÇÕES DE SEU OFÍCIO
COLÉGIO HERMANN SPETHMANN
JULHO DE 2010
- VIVÊNCIA: O HUMANO POR TRÁS DO EDUCADOR: POSSIBILIDADES E IMPOSSIBILIDADES, SATISFAÇÕES E FRUSTRAÇÕES DE SEU OFÍCIO
ESCOLA LINDOLFO COLLOR
JULHO DE 2010
APRESENTAÇÕES EM CONGRESSOS CIENTÍFICOS
- Panorama do Pensamento Cristão (Comunicação) - I ENCONTRO CATARINENSE UNIVERSITÁRIO DE PSICOLOGIA
UNESC Setembro de 2003
- A Origem das Idéias: o confronto das divergências entre Hume e Descartes (Comunicação) - IV SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
UNESC Agosto de 2004
- A Origem das Idéias em Hume e Descartes (Aula) – DISCIPLINA DE FILOSOFIA – Curso de Psicologia
UNESC Outubro de 2004
- Sobre o Suposto Autor da Autobiografia de Nietzsche- pelo Professor Dr Sandro Kobol Fornazari
Ismael Ferreira (Debatedor)
CAFÉ FILOSÓFICO – Centro Acadêmico de Psicologia / Departamento de Psicologia
UNESC 13 de Maio de 2005
- Reflexões Sobre a Produção da Existência Humana e a Formação da Consciência Moderna: do materialismo clássico ao materialismo dialético- pelo Professor Mestre Sandro Grisa
Ismael Ferreira (Debatedor)
CAFÉ FILOSÓFICO – Centro Acadêmico de Psicologia / Departamento de Psicologia
UNESC 26 de Maio de 2006
- Existencialismo de Sartre e suas Contribuições à Psicologia Fenomenológica – pela Professora Dra. Janine Moreira
Ismael Ferreira (Debatedor)
UNESC Agosto de 2006
- Introdução à Esquizoanálise (Comunicaçãol) - I SEMANA ACADÊMICA DE PSICOLOGIA
UNESC Agosto de 2005
- Educação Popular e Filosofia Nas Séries Iniciais (Comunicação) – II SEMANA ACADÊMICA DE PSICOLOGIA
UNESC Agosto de 2006
- Esquizoanálise (Oficina) - II SEMANA ACADÊMICA DE PSICOLOGIA
UNESC Agosto de 2006
- Esquizoanálise: a potencialização da singularidade esqizo diante da produção do esquizofrênico (Comunicação) - VI SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
UNESC Agosto de 2006
- Formação Política da Juventude Catarinense: experiências da Escola do Legislativo (Oficina) – I CONGRESSO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA JUVENTUDE
UNESC Julho de 2007
- Mesa de Discussão sobre Políticas Públicas para Juventude (Palestrante)- I CONGRESSO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA JUVENTUDE
UNESC Julho de 2007
- Contribuições de Nietzsche à Esquizoanálise (Comunicação) – I CONGRESSO HUMANIDADES, CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO
UNESC Agosto de 2008
-Prelúdio de uma Psicologia Materialista (Comunicação) - I CONGRESSO DE HUMANIDADES, CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO
UNESC Agosto de 2008
-Rastros de Nietzsche, Marx e Foucault em Deleuze (Comunicação) - IV ENCONTRO REGIONAL SUL DA ABEP
UNISUL / PALHOÇA Outubro de 2008
7 PUBLICAÇÕES
CIENTÍFICAS
- A Origem das Idéias em Hume e Descartes: uma análise das divergências entre empirismo e idealismo
CADERNO DE RESUMOS DO IV SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – UNESC
- Esquizoanálise: a potemcialização da singularidade esquizo diante da produção do esquizofrênico
CADERNO DE RESUMOS DO VI SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA - UNESC
- A Origem das Idéias: o conflito das divergências entre Hume e Descartes
REVISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA - UNESC
- Tradição Judaico-Cristã Escrita: um ensaio crítico sobre a canonização Vetero e Neo Testamentária
REVISTA DE HISTÓRIA TEMPOS ACADÊMICOS - UNESC
- A Insuficiência do Método Cartesiano na Formulação de um Teísmo Racionalista
REVISTA DE TEOLOGIA VOX SCRIPTURAE – FACULDADE LUTERANA DE S. BENTO DO SUL
- Escolha Profissional: entre os sonhos os ideais e o capitalismo
REVISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – UNESC
JORNAIS, REVISTAS E PUBLICAÇÕES ON LINE
- O Conhecimento que Redescobre o Homem – Anexo Idéias do Jornal A Notícia
- O Eterno Retorno como Juízo da Viva – Anexo Idéias do Jornal A Notícia
- Idéias Formadas a Parir da Experiência – Anexo Idéias do Jornal A Notícia
- Adam Smith, Sempre Atual – Anexo Idéias do Jornal A Notícia
- A Verdade e a Fé – nexo Idéias do Jornal A Notícia
- Proximidade Virtual, Distanciamento Real – Jornal Diário de Criciúma
- Dois Pesos, Duas Medidas – Jornal da Manhã
- Coluna Semanal - Convite ao Divã - Jornal do Rincão (Durante o Segundo Semestre de 2009)
- Descartes tenta Provar a Existência de Deus usando a Razão - www.mundojovem.com.br
8 ATIVIDADES PROFISSIONAIS
EETAD – Escola de Educação Teológica das Assembléias de Deus
Núcleo de Jaú – SP
Secretário-tesoureiro
Período: 02/2000 - 11/2001
ESCOLA DE TEOLOGIA HOLANDO BRASIL
Professor
Disciplinas Ministradas: - Exegese, Heresiologia, Harmatiologia, Soteriologia, Homilética
Período: 02/2003 - 11/2003
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ANTONIO MILANEZ NETO
Criciúma – SC
Professor – Psicologia e Filosofia
Período: Fevereiro 2007 – Dezembro 2007
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA UDO DEEKE
Treviso – SC
Professor – Psicologia, Filosofia e Sociologia (Ensino Médio)
Período: Fevereiro de 2007 – Dezembro 2008
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA ANTÔNIO G. SOBRINHO
IÇARA - SC
PROFESSOR - Psicologia e Sociologia
Período - Fevereiro de 2009 - Dezembro de 2009
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA SEBASTIÃO TOLEDO DOS SANTOS
CRICIÚMA - SC
PROFESSOR - FILOSOFIA E SOCIOLOGIA
Período - Fevereiro de 2009 - Dezembro de 2009
CONSULTÓRIO DE PSICOLOGIA
CRICIÚMA - SC
PSICOTERAPIA EXISTENCIALISTA
Período Atual
ABADEUS
CRICIÚMA - SC
PSICÓLOGO SOCIAL
Período Atual
9 ÁREA DE ATUAÇÃO
* EDUCAÇÃO
- Psicologia Existencialista Clínica e Social / Cidadania / relações Humanas / Desenvolvimento Humano / Personalidade / Saúde Mental
* FILOSOFIA
- Ontologia
- Fenomenologia
* PSICOLOGIA
- Psicologia Social e Política
- Psicologia Clínica (Abordagem Existencialista)
- Orientação profissional
Distância Real, Proximidade Virtual
A era tecnológica trouxe muitas vantagens. Imagine um pai para ter noticia de seu filho antes da invenção do telefone. Nada podia fazer senão esperar demoradas noticias por informantes que por algum motivo, passariam por perto da casa daquele pai angustiado, ou mesmo o retorno do filho. Depois do telefone, bastou ligar e ter a noticia, ouvir a voz e ficar mais calmo. Hoje não temos somente o telefone, temos a Internet e com ela todas as vantagens de, não apenas ter a noticia, ouvir a voz, mas, sobretudo, ver a imagem em tempo real da pessoa distante.
Porém, venho observando o comportamento dessa nova geração, tecnológica, informatizada, cuja dimensão mais própria da vida é um simulacro. E tenho percebido um fenômeno peculiar nos tempos modernos. A proximidade virtual leva, conseqüentemente, ao distanciamento real. As relações humanas, no tocante aos seus afetos, as suas emoções, mostram-se seguras para as próprias pessoas na dimensão virtual e inseguras na dimensão real.
A primeira hipótese que sou levado a elaborar está relacionada com a dificuldade que temos em encarar nossos sentimentos na possibilidade da frustração ao depositarmos nossos afetos em outras pessoas, muitas vezes, totalmente diferentes de nós. Esse medo da rejeição, da dor, da perda, nos leva a escolher caminhos mais fáceis, como aceitar um marido frio, enquanto se sublima esse sentimento do marido para o protagonista da novela. Ao invés do risco de uma paixão avassaladora, um filme que cause as mesmas sensações, porem, numa dosagem bem menor. Ao invés de uma pessoa real, com suas falhas, defeitos, pecados. Se torna melhor escolha um namoro virtual, pois nele não apenas podemos nos dar ao luxo de não ver a lama da alma, mas, sobretudo, não mostrar a lama da nossa alma.
Assim, o mundo atual encontrou uma forma mais elaborada de não fazer sofrer. Nos tornamos, nesse sentido, pessoas que na vida concreta, escondemos com medo nossas feridas, enquanto que na simulação virtual nos deixamos conhecer, mas somente na medida em que não nos trouxer dor. O que fica evidente é o fato de que não somos seres totalmente virtuais, somos também reais. Portanto, da mesma forma que podemos estar geograficamente distantes e virtualmente próximos, podemos estar geograficamente próximos e emocionalmente distantes.
Porém, venho observando o comportamento dessa nova geração, tecnológica, informatizada, cuja dimensão mais própria da vida é um simulacro. E tenho percebido um fenômeno peculiar nos tempos modernos. A proximidade virtual leva, conseqüentemente, ao distanciamento real. As relações humanas, no tocante aos seus afetos, as suas emoções, mostram-se seguras para as próprias pessoas na dimensão virtual e inseguras na dimensão real.
A primeira hipótese que sou levado a elaborar está relacionada com a dificuldade que temos em encarar nossos sentimentos na possibilidade da frustração ao depositarmos nossos afetos em outras pessoas, muitas vezes, totalmente diferentes de nós. Esse medo da rejeição, da dor, da perda, nos leva a escolher caminhos mais fáceis, como aceitar um marido frio, enquanto se sublima esse sentimento do marido para o protagonista da novela. Ao invés do risco de uma paixão avassaladora, um filme que cause as mesmas sensações, porem, numa dosagem bem menor. Ao invés de uma pessoa real, com suas falhas, defeitos, pecados. Se torna melhor escolha um namoro virtual, pois nele não apenas podemos nos dar ao luxo de não ver a lama da alma, mas, sobretudo, não mostrar a lama da nossa alma.
Assim, o mundo atual encontrou uma forma mais elaborada de não fazer sofrer. Nos tornamos, nesse sentido, pessoas que na vida concreta, escondemos com medo nossas feridas, enquanto que na simulação virtual nos deixamos conhecer, mas somente na medida em que não nos trouxer dor. O que fica evidente é o fato de que não somos seres totalmente virtuais, somos também reais. Portanto, da mesma forma que podemos estar geograficamente distantes e virtualmente próximos, podemos estar geograficamente próximos e emocionalmente distantes.
O Eterno Retorno como Juízo da Vida
Artigos, Poesias, Contos, CrônicasA idéia do termo Eterno Retorno desenvolvida por Nietzsche, considera a repetição constante do todo uma condição eterna, ou seja, todas as coisas retornam eternamente. Assim, viveremos a mesma vida, com toda a dor e felicidade, eternamente. Tudo o que existiu, existirá outra vez, a história se repetirá, as múltiplas formas de organização da matéria se repetirão, pois as forças são eternamente ativas. A vida, para Nietzsche, se constitui como vontade de potência e são essas energias potencializadas que se repetem eternamente, pois a eternidade é a condição do ciclo da ação das forças.
Dessa forma, Nietzsche concluiu que o Eterno Retorno só pode ser compreendido como um circulo eterno de manifestação de forças, sem jamais chegar a um momento de repouso, sem jamais chegar a um equilíbrio, mas seus movimentos são de igual grandeza para cada tempo. Assim, todos os instantes da vida retornarão, cada dor, cada alegria, cada tristeza, cada prazer, enfim, todos os momentos.
A partir dessa compreensão, Nietzsche lança a reflexão que se deve fazer diante da perspectiva de se viver o Eterno Retorno, pois diante dele se percebe as forças ativas e reativas que dão origem a moral.
O que Nietzsche nos mostra com o pensar na perspectiva do Eterno Retorno é que cada momento deve ser vivido com toda a intensidade a fim de que esse momento se torne eterno. Amar de tal forma esse momento, desejá-lo de tal forma que o desejo deve querer viver outra vez esse instante. Assim, desejar viver outra vez um momento é afirmar a vida e não desejar viver outra vez o momento é negá-la. Podemos odiar ou amar a vida ao penarmos na sua repetição constante. Imaginá-la repetindo-se pode nos causar horror ou alegria e esses sentimentos vão nos posicionar como fortes ou impotentes diante da vida.
Para muitos tal reflexão é angustiante e inaceitável, porém, ao pensarmos na vida de Nietzsche, perceberemos a estreita relação com sua filosofia. Perdeu o pai cedo, teve uma saúde debilitada e por enlouqueceu ainda na maturidade, loucura da qual nunca se recuperou, levando-o ao óbito. Dizem que sua loucura foi resultado de uma DST, outros dizem que foi um problema fisiológico, enquanto outros diziam que foi sua própria filosofia. Mas, o importante não é definir o motivo e sim perceber que Nietzsche amava a vida com todas as sua inquietações, instabilidades e sofrimentos. É dele a frase: “Porque, note-se bem: foi precisamente nos anos da minha mais débil vitalidade que eu cessei de ser pessimista” (Nietzsche, Ecce Homo).
Dessa forma, Nietzsche concluiu que o Eterno Retorno só pode ser compreendido como um circulo eterno de manifestação de forças, sem jamais chegar a um momento de repouso, sem jamais chegar a um equilíbrio, mas seus movimentos são de igual grandeza para cada tempo. Assim, todos os instantes da vida retornarão, cada dor, cada alegria, cada tristeza, cada prazer, enfim, todos os momentos.
A partir dessa compreensão, Nietzsche lança a reflexão que se deve fazer diante da perspectiva de se viver o Eterno Retorno, pois diante dele se percebe as forças ativas e reativas que dão origem a moral.
O que Nietzsche nos mostra com o pensar na perspectiva do Eterno Retorno é que cada momento deve ser vivido com toda a intensidade a fim de que esse momento se torne eterno. Amar de tal forma esse momento, desejá-lo de tal forma que o desejo deve querer viver outra vez esse instante. Assim, desejar viver outra vez um momento é afirmar a vida e não desejar viver outra vez o momento é negá-la. Podemos odiar ou amar a vida ao penarmos na sua repetição constante. Imaginá-la repetindo-se pode nos causar horror ou alegria e esses sentimentos vão nos posicionar como fortes ou impotentes diante da vida.
Para muitos tal reflexão é angustiante e inaceitável, porém, ao pensarmos na vida de Nietzsche, perceberemos a estreita relação com sua filosofia. Perdeu o pai cedo, teve uma saúde debilitada e por enlouqueceu ainda na maturidade, loucura da qual nunca se recuperou, levando-o ao óbito. Dizem que sua loucura foi resultado de uma DST, outros dizem que foi um problema fisiológico, enquanto outros diziam que foi sua própria filosofia. Mas, o importante não é definir o motivo e sim perceber que Nietzsche amava a vida com todas as sua inquietações, instabilidades e sofrimentos. É dele a frase: “Porque, note-se bem: foi precisamente nos anos da minha mais débil vitalidade que eu cessei de ser pessimista” (Nietzsche, Ecce Homo).
quarta-feira, 4 de março de 2009
Vida e Teoria de Adam Smith
A VIDA DE ADAM SMITH
A data do nascimento do filósofo e economista escocês Adam Smith é inserta. Segundo John Era, um de seus mais conceituados biógrafos, Smith nasceu em 5 de Junho de 1723. Hoje sabemos que a suposta data de nascimento é a data de batismo de Adam Smith, continuando inserta a data de seu nascimento. Sobre sua infância, pouco se sabe. A morte pré-matura do pai, poucos meses antes do seu nascimento estreitou os laços de afeto entre Smith e sua mãe, que perduraram até o fim de suas vidas (a mãe de Adam Smith morreu dois anos antes da morte de Smith, em 1788).
Após concluir seus estudos secundários em Kirkcaldy, foi admitido na Universidade de Glasgow, realizando estudos dos clássicos gregos, matemática, teologia e filosofia. O professor protestante Francis Hutcheson, uma das maiores expressões da Filosofia do Direito Natural, exerceu grande influência sobre Smith nesse período em que estudou na Universidade de Glasgow. Antes de concluir seus estudos em Glasgow, recebeu uma bolsa para estudar em Balliol College, Oxford. Aceitou o convite, porém, além de obter maior compreensão dos clássicos da literatura, sua experiência em Oxford, pouco contribuiu para seu pensamento, por conta do dogmatismo religioso presente na instituição.
Adam Smith, depois de concluir seus estudos, voltou à Kirkcaldy para iniciar sua vida no magistério, oferecendo cursos de inverno, de literatura inglesa. Sua reputação o levou ao cargo de professor de Lógica de Glasgow. Em 1752 Smith torna-se professor de Filosofia Moral de Glasgow, cargo que permaneceu sem interrupções até 1764.
Sua inserção na elite intelectual escocesa foi imediata. Dessas novas relações, surgiram importantíssimas amizades, dentre elas, destacamos a amizade de David Hume. Hume e Smith discutiram conceitos de filosofia e política, também trocaram cartas quando distantes até a morte de Hume em 1776. O empirismo de Hume influencia Smith a ponto de abandonar suas influências iniciais da Filosofia do Direito Natural de seu antigo professor Francis Hutcheson.
Em 1759 Smith publica Teoria dos Sentimentos Morais, fazendo parte de um ambicioso projeto que cominara no seu mais famoso livro A Riqueza das Nações (Inquérito sobre a Natureza e a Causa das Riquezas das Nações). Resultados das suas aulas de Filosofia Moral lecionadas na Universidade de Glasgow. Porém, um convite para ser tutor do jovem Duque de Buccleugh, faz com Smith deixe o cargo de professor de filosofia para ir à França. Na sua viagem acabou conhecendo Voltaire e reencontrou Hume em Paris. Na França Smith estudou com bastante entusiasmo os princípios do racionalismo liberal francês, que o influencia na produção de sua obra considerada a mais expressiva, A Riqueza das Nações.
Ao retornar para Kirkcaldy, passou cerca de seis anos inteiramente comprometido com a produção de A Riqueza das Nações. A obra, apesar de mudar o mundo acadêmico dos séculos XVIII, XIX e XX, não foi aceita com entusiasmo, por ter princípios do racionalismo francês na época das investidas de Napoleão. Adam Smith morreu aos 67 anos, em 17 de Julho de 1790, não vivendo para ver os efeitos surpreendentes de seu pensamento sobre o mundo pós A Riqueza das Nações. No último dia 17 de Julho, fez 218 anos da data da morte de Adam Smith. Hoje nos propomos a discutir a formação de seu pensamento e suas influências sobre o mundo pós Smith.
INFLUÊNCIAS SOBRE SMITH
Enquanto professor de Filosofia Moral da Universidade de Glasgow, Smith publicou Teoria dos Sentimentos Morais. O livro exalta a moral cristã, como a excelência da virtude. Para Smith, as relações humanas davam-se pela simpática dos sentimentos que, por meio da experiência, aprendemos a considerar importante, relacionando-os com os mesmos sentimentos encontrados nos outros. Dessa forma, simpatizamos com os outros a partir de uma relação de conveniência. Sendo que, somente a virtude cristã escapa a relação egoísta da conveniência para a relação altruísta do amor pelo outro sem a relação com o sentimento de quem ama consigo. Assim, percebemos na obra de Adam Smith as influências religiosas da Filosofia do Direito Natural do professor protestante Francis Hutcheson, como também dos anos de estudo em Glasgow e Oxford.
Porém, foi David Hume que exerceu grande influência sobre seu pensamento. Podemos ver claramente a influência de Hume nas suas duas grandes obras: Teoria dos Sentimentos Morais e A Riqueza das Nações. A primeira evidencia-se numa discussão filosófica sobre a construção dos sentimentos morais, sendo que estes surgem a partir da experiência. Para Smith, um homem que tem seu pai ainda vivo não se sensibilizará tanto com a morte do pai de alguém, quanto um homem que já presenciou a morte de seu pai. Nesse sentido, Smith mostra que os sentimentos morais surgem a partir da experiência. A segunda obra mostra de forma mais abrangente o empirismo de Hume. Para Adam Smith, todas as relações econômicas são relações de conveniência: “Não é da bondade do homem do atalho, do cervejeiro ou do padeiro que podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração em que eles têm o seu próprio interesse” (A Riqueza das Nações). Smith considerou os homens como resultado da experiência, mas precisamente da divisão do trabalho “Os homens de diferentes profissões, quando atingem a maturidade, não são, em muitos casos, tanto a causa como o efeito da divisão do trabalho” (A Riqueza das Nações). Assim, os homens tornam-se sujeitos nas relações determinadas pelas condições econômicas, evidenciando assim a relação da sua teoria com o empirismo de Hume.
Durante o período que Smith passou na França, intensificou seus estudos sobre o racionalismo francês iluminista de Descartes. A presença do cartesianismo francês ficou evidente já no primeiro capítulo de A Riqueza das Nações, pois Smith considera o princípio da razão e fala como essenciais para a propensão à troca, desenvolvida de forma lenta e gradual, possibilitadora da prática capitalista. Quando Adam Smith entende que a propensão à torça é resultado de princípios naturais como o raciocínio e a fala, ele considera o homem a partir de uma razão inata, portanto, sua relação com o cartesianismo mostra-se estreita. Mas ao considerar o homem nessa perspectiva, torna o desenvolvimento do capitalismo como sendo natural. O homem, por conta de elementos intrínsecos, torna o capitalismo parte de sua natureza.
Segundo o professor de economia Alcides Goularti Filho da UNESC (Universidade do Extremo Sul Catarinense), existe princípios de causalidade newtoniana na obra A Riqueza das Nações. Desde o título (do original: Inquérito sobre a Natureza e a Causa das Riquezas das Nações) até a divisão do trabalho, podemos perceber uma relação com a física newtoniana. A utilização desses conceitos deu dimensão científica requerida na época para discutir economia.
SMITH E O MUNDO CONTEMPORÂNIO
É impossível avaliar de forma precisa as contribuições do pensamento smithiano para o mundo que seguiu depois de suas obras. Suas contribuições iniciam quando Smith, por conta do racionalismo cartesiano e das influências da física natural de Newton, insere no bojo da academia a economia política como uma dimensão da ciência. Podemos concluir que foi Smith o pai da Economia Política. Assim, toda discussão posterior sobre economia, mesmo aquelas contrárias ao seu pensamento, encontraram espaço na academia por conta da perspicácia de Smith ao usar métodos considerados científicos para época com finalidade de estudar economia.
A propensão à troca como conseqüência de princípios naturais, possibilitou o embasamento teórico necessário para eliminar as críticas ao modelo liberal da economia mercantilista, acelerando o desenvolvimento do capital livre, necessário para mais tarde desenvolver o capitalismo como um processo considerado natural. Foi essa perspectiva da naturalização do capitalismo, tornando-o parte da condição natural e, portanto, seu desenvolvimento também passou a ser considerado como natural, que proporcionou maior aceitação do modelo liberal da economia capitalista. Dessa forma, pode-se pensar o capitalismo como sendo auto-regulador e um sistema sem contradições. Porém, na medida em que se estruturou, nos séculos posteriores, o capitalismo, ficou evidente sua contradição, gerando críticas ao pensamento smithiano. Marx, contrapôs Smith com evidências históricas das contradições da sociedade capitalista, que gera, por conta do acumulo de capital, exploração, pobreza, etc.
A teoria liberal de um Estado mínimo, sem interferência direta e consistente na economia foi possível de ser pensada após A Riqueza das Nações, pois a idéia da auto-regulação da economia descarta o controle do Estado. Podemos perceber a força do pensamento smithiano nas políticas de privatizações que ocorreram no Brasil nos últimos governos. As leis de oferta e procura, mais valia, lucro, são algumas das conseqüências do pensamento de Adam Smith no mundo contemporâneo, porém, não é certo dizer que Adam Smith pregava tais tendências do. Pois pensava que o capitalismo seria naturalmente regulado por conta dos princípios da natureza humana que o tornam possível.
Por fim, podemos citar o também professor de economia da UNESC, Sandro Eduardo Grisa, que demonstra a percepção de seu amadurecimento intelectual na leitura dos clássicos, dentre eles destaca a obra A Riqueza das Nações: “A leitura dos clássicos é como um olhar no espelho, neles eu vejo minha própria evolução intelectual”. Podemos dizer que a leitura de sua obra de economia é indispensável para compreensão do capitalismo, seja para afirmá-lo ou criticá-lo. Mesmo com todas as contradições, Adam Smith ainda não foi inteiramente superado e sua obra continua sendo referência para o estudo da economia política.
A data do nascimento do filósofo e economista escocês Adam Smith é inserta. Segundo John Era, um de seus mais conceituados biógrafos, Smith nasceu em 5 de Junho de 1723. Hoje sabemos que a suposta data de nascimento é a data de batismo de Adam Smith, continuando inserta a data de seu nascimento. Sobre sua infância, pouco se sabe. A morte pré-matura do pai, poucos meses antes do seu nascimento estreitou os laços de afeto entre Smith e sua mãe, que perduraram até o fim de suas vidas (a mãe de Adam Smith morreu dois anos antes da morte de Smith, em 1788).
Após concluir seus estudos secundários em Kirkcaldy, foi admitido na Universidade de Glasgow, realizando estudos dos clássicos gregos, matemática, teologia e filosofia. O professor protestante Francis Hutcheson, uma das maiores expressões da Filosofia do Direito Natural, exerceu grande influência sobre Smith nesse período em que estudou na Universidade de Glasgow. Antes de concluir seus estudos em Glasgow, recebeu uma bolsa para estudar em Balliol College, Oxford. Aceitou o convite, porém, além de obter maior compreensão dos clássicos da literatura, sua experiência em Oxford, pouco contribuiu para seu pensamento, por conta do dogmatismo religioso presente na instituição.
Adam Smith, depois de concluir seus estudos, voltou à Kirkcaldy para iniciar sua vida no magistério, oferecendo cursos de inverno, de literatura inglesa. Sua reputação o levou ao cargo de professor de Lógica de Glasgow. Em 1752 Smith torna-se professor de Filosofia Moral de Glasgow, cargo que permaneceu sem interrupções até 1764.
Sua inserção na elite intelectual escocesa foi imediata. Dessas novas relações, surgiram importantíssimas amizades, dentre elas, destacamos a amizade de David Hume. Hume e Smith discutiram conceitos de filosofia e política, também trocaram cartas quando distantes até a morte de Hume em 1776. O empirismo de Hume influencia Smith a ponto de abandonar suas influências iniciais da Filosofia do Direito Natural de seu antigo professor Francis Hutcheson.
Em 1759 Smith publica Teoria dos Sentimentos Morais, fazendo parte de um ambicioso projeto que cominara no seu mais famoso livro A Riqueza das Nações (Inquérito sobre a Natureza e a Causa das Riquezas das Nações). Resultados das suas aulas de Filosofia Moral lecionadas na Universidade de Glasgow. Porém, um convite para ser tutor do jovem Duque de Buccleugh, faz com Smith deixe o cargo de professor de filosofia para ir à França. Na sua viagem acabou conhecendo Voltaire e reencontrou Hume em Paris. Na França Smith estudou com bastante entusiasmo os princípios do racionalismo liberal francês, que o influencia na produção de sua obra considerada a mais expressiva, A Riqueza das Nações.
Ao retornar para Kirkcaldy, passou cerca de seis anos inteiramente comprometido com a produção de A Riqueza das Nações. A obra, apesar de mudar o mundo acadêmico dos séculos XVIII, XIX e XX, não foi aceita com entusiasmo, por ter princípios do racionalismo francês na época das investidas de Napoleão. Adam Smith morreu aos 67 anos, em 17 de Julho de 1790, não vivendo para ver os efeitos surpreendentes de seu pensamento sobre o mundo pós A Riqueza das Nações. No último dia 17 de Julho, fez 218 anos da data da morte de Adam Smith. Hoje nos propomos a discutir a formação de seu pensamento e suas influências sobre o mundo pós Smith.
INFLUÊNCIAS SOBRE SMITH
Enquanto professor de Filosofia Moral da Universidade de Glasgow, Smith publicou Teoria dos Sentimentos Morais. O livro exalta a moral cristã, como a excelência da virtude. Para Smith, as relações humanas davam-se pela simpática dos sentimentos que, por meio da experiência, aprendemos a considerar importante, relacionando-os com os mesmos sentimentos encontrados nos outros. Dessa forma, simpatizamos com os outros a partir de uma relação de conveniência. Sendo que, somente a virtude cristã escapa a relação egoísta da conveniência para a relação altruísta do amor pelo outro sem a relação com o sentimento de quem ama consigo. Assim, percebemos na obra de Adam Smith as influências religiosas da Filosofia do Direito Natural do professor protestante Francis Hutcheson, como também dos anos de estudo em Glasgow e Oxford.
Porém, foi David Hume que exerceu grande influência sobre seu pensamento. Podemos ver claramente a influência de Hume nas suas duas grandes obras: Teoria dos Sentimentos Morais e A Riqueza das Nações. A primeira evidencia-se numa discussão filosófica sobre a construção dos sentimentos morais, sendo que estes surgem a partir da experiência. Para Smith, um homem que tem seu pai ainda vivo não se sensibilizará tanto com a morte do pai de alguém, quanto um homem que já presenciou a morte de seu pai. Nesse sentido, Smith mostra que os sentimentos morais surgem a partir da experiência. A segunda obra mostra de forma mais abrangente o empirismo de Hume. Para Adam Smith, todas as relações econômicas são relações de conveniência: “Não é da bondade do homem do atalho, do cervejeiro ou do padeiro que podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração em que eles têm o seu próprio interesse” (A Riqueza das Nações). Smith considerou os homens como resultado da experiência, mas precisamente da divisão do trabalho “Os homens de diferentes profissões, quando atingem a maturidade, não são, em muitos casos, tanto a causa como o efeito da divisão do trabalho” (A Riqueza das Nações). Assim, os homens tornam-se sujeitos nas relações determinadas pelas condições econômicas, evidenciando assim a relação da sua teoria com o empirismo de Hume.
Durante o período que Smith passou na França, intensificou seus estudos sobre o racionalismo francês iluminista de Descartes. A presença do cartesianismo francês ficou evidente já no primeiro capítulo de A Riqueza das Nações, pois Smith considera o princípio da razão e fala como essenciais para a propensão à troca, desenvolvida de forma lenta e gradual, possibilitadora da prática capitalista. Quando Adam Smith entende que a propensão à torça é resultado de princípios naturais como o raciocínio e a fala, ele considera o homem a partir de uma razão inata, portanto, sua relação com o cartesianismo mostra-se estreita. Mas ao considerar o homem nessa perspectiva, torna o desenvolvimento do capitalismo como sendo natural. O homem, por conta de elementos intrínsecos, torna o capitalismo parte de sua natureza.
Segundo o professor de economia Alcides Goularti Filho da UNESC (Universidade do Extremo Sul Catarinense), existe princípios de causalidade newtoniana na obra A Riqueza das Nações. Desde o título (do original: Inquérito sobre a Natureza e a Causa das Riquezas das Nações) até a divisão do trabalho, podemos perceber uma relação com a física newtoniana. A utilização desses conceitos deu dimensão científica requerida na época para discutir economia.
SMITH E O MUNDO CONTEMPORÂNIO
É impossível avaliar de forma precisa as contribuições do pensamento smithiano para o mundo que seguiu depois de suas obras. Suas contribuições iniciam quando Smith, por conta do racionalismo cartesiano e das influências da física natural de Newton, insere no bojo da academia a economia política como uma dimensão da ciência. Podemos concluir que foi Smith o pai da Economia Política. Assim, toda discussão posterior sobre economia, mesmo aquelas contrárias ao seu pensamento, encontraram espaço na academia por conta da perspicácia de Smith ao usar métodos considerados científicos para época com finalidade de estudar economia.
A propensão à troca como conseqüência de princípios naturais, possibilitou o embasamento teórico necessário para eliminar as críticas ao modelo liberal da economia mercantilista, acelerando o desenvolvimento do capital livre, necessário para mais tarde desenvolver o capitalismo como um processo considerado natural. Foi essa perspectiva da naturalização do capitalismo, tornando-o parte da condição natural e, portanto, seu desenvolvimento também passou a ser considerado como natural, que proporcionou maior aceitação do modelo liberal da economia capitalista. Dessa forma, pode-se pensar o capitalismo como sendo auto-regulador e um sistema sem contradições. Porém, na medida em que se estruturou, nos séculos posteriores, o capitalismo, ficou evidente sua contradição, gerando críticas ao pensamento smithiano. Marx, contrapôs Smith com evidências históricas das contradições da sociedade capitalista, que gera, por conta do acumulo de capital, exploração, pobreza, etc.
A teoria liberal de um Estado mínimo, sem interferência direta e consistente na economia foi possível de ser pensada após A Riqueza das Nações, pois a idéia da auto-regulação da economia descarta o controle do Estado. Podemos perceber a força do pensamento smithiano nas políticas de privatizações que ocorreram no Brasil nos últimos governos. As leis de oferta e procura, mais valia, lucro, são algumas das conseqüências do pensamento de Adam Smith no mundo contemporâneo, porém, não é certo dizer que Adam Smith pregava tais tendências do. Pois pensava que o capitalismo seria naturalmente regulado por conta dos princípios da natureza humana que o tornam possível.
Por fim, podemos citar o também professor de economia da UNESC, Sandro Eduardo Grisa, que demonstra a percepção de seu amadurecimento intelectual na leitura dos clássicos, dentre eles destaca a obra A Riqueza das Nações: “A leitura dos clássicos é como um olhar no espelho, neles eu vejo minha própria evolução intelectual”. Podemos dizer que a leitura de sua obra de economia é indispensável para compreensão do capitalismo, seja para afirmá-lo ou criticá-lo. Mesmo com todas as contradições, Adam Smith ainda não foi inteiramente superado e sua obra continua sendo referência para o estudo da economia política.
PSICANÁLISE
FREUD E O SURGIMENTO DA PSICANÁLISE
Sigmound Freud pode ser considerado o pensador da cultura. Nascido em 06 de Maio de 1856, na Áustria, faleceu em 23 de Setembro de 1939. Filho de pais judeus: Jacob e Analia, Freud ficou conhecido no Brasil pela frase que muitas vezes é utilizada em tom de brincadeira: “Freud explica!”. Na semana que comemoramos o seu falecimento, se faz necessário um tributo ao pensador que mais influenciou a cultura ocidental. Suas mais famosas conclusões sobre o processo de saúde e doença mental deram origem a Psicanálise. Mas Freud não se reteve a escrever apenas sobre o processo de subjetivação, escreveu sobre cultura, sociedade, religião, etc. A pergunta que nos propomos a discutir hoje é: O pensamento freudiano ainda é atual? Não foram poucos os pensadores que desafiaram Freud, elaborando as mais diversas críticas ao seu pensamento. Porém, a teoria freudiana continua encontrando espaço no bojo da sociedade contemporânea. O que nos leva a pensar que Freud ainda não foi superado, que sua teoria ainda responde aos anseios e dramas humanos.
O desenvolvimento da Psicanálise está atrelado a Sigmund Freud, sendo ela a expressão de sua obra. Desde menino demonstrou grande capacidade intelectual. Seu pai era rígido e autoritário, enquanto sua mãe mostrava-se amável e carinhosa. A relação estabelecida com seus pais influenciou sua teoria do Complexo de Édipo. Foi aluno brilhante em Liceu, graduando-se com 17 anos. Tinha grande interesse em estudar relações humanas, civilização, cultura e história militar. Estudou Medicina na Universidade de Viena a partir de 1873. Por querer realizar estudos em outras áreas, fez cinco cursos de filosofia com Brentano. Suas primeiras experiências foram realizadas no campo da biologia, pesquisando o testículo de quatrocentas enguias macho, também pesquisou a medula espinhal de peixes. Realizou ainda experiências com cocaína, usando-a. Chegou a conclusão de que a droga agia de forma positiva sobre a depressão. Nessas experiências Freud ofereceu cocaína a parentes e amigos, acabou sendo responsabilizado por ter disseminado a droga na sociedade, fama que não conseguiu se afastar durante toda a vida. Continuou usando cocaína por aproximadamente 10 anos.
A amizade de Freud com o médico Josej Breuer contribuiu significativamente com o surgimento da Psicanálise. Freud recebeu de Breuer, não apenas conselhos, amizade, mas também dinheiro emprestado. Breuer e Freud discutiam os pacientes, dentre eles Ana O., caso fundamental para o desenvolvimento da Psicanálise. Breuer atendeu Ana O. durante um ano, todos os dias. Dessas consultas concluiu e compartilhou com Freud o fato de usar a hipnose para Ana O. falar sobre suas angustias, percebendo que ao relembrá-las podia diminuir suas aflições ou mesmo esquecê-las. O rompimento da amizade entre ambos se deu diante da compreensão de Freud sobre a dimensão sexual como sendo a única responsável pelos desvios da personalidade, enquanto Breuer entendia como somente uma das causas. Mas foram as pesquisas e discussões que compartilharam que deu origem a Psicanálise.
Freud estabeleceu o chão de onde a psicanálise partiu, compreendendo os fenômenos subjetivos a partir da libido, energia que dá origem a personalidade, a partir da sexualidade. Porém, percebeu diferença entre a dimensão biológica da sexualidade e sua dimensão psíquica, compreendendo que existe algo da sexualidade que não é biológico, portanto, não está relacionado com a reprodução. Nesse sentido, a Psicanálise colocou-se na contramão da ciência positivista, pois estabeleceu um novo princípio, a energia libidinal, instintiva, portanto, inconsciente. A personalidade passou a ser entendida por Freud como possível de se desenvolver a partir do momento em que a criança consegue fantasiar entre o desejo e a satisfação. Dessa forma, a razão não era o princípio para entender a subjetividade e sim o desejo. Partindo dele emerge a fantasia e com ela a personalidade.
OS FUNDAMENTOS DA PERSONALIDADE SEGUNDO FREUD
Antes de discorrer sobre a Psicanálise, devo esclarecer alguns pontos fundamentais, pois a partir da compreensão desses conceitos poderemos compreender melhor o pensamento freudiano. Primeiramente, a Psicanálise entende a estrutura psíquica a partir de duas dimensões: inconsciente, contendo conteúdos reprimidos pela consciência que pode levar a desestrutura da personalidade, acessível nos sonhos; consciência, a estrutura racional, lógica, contendo os pensamentos organizados. Secundariamente, Freud entende que existe um dinamismo de componentes que existem na relação do inconsciente com a consciência, chamados: ID, EGO e SUPER EGO. O ID é a estrutura mais básica da personalidade, representando a libido, na sua maior parte inconsciente. É a partir do ID que a personalidade se forma. EGO está relacionado com a consciência, o Eu de cada um de nós. O SUPER-EGO está relacionado com a moral e se estrutura a partir da cultura e relações sociais de poder.
Quando Freud tentou mostrar que as pulsões da libido ficam numa das estruturas do aparelho psíquico chamado ID, sendo sua maior parte inconsciente, sofreu objeções dos cientistas do século XIX, que se mostraram completamente contrários as suas conclusões.
Assim, Freud fundamentou sua hipótese, da qual não se desviou, apontando a existência de processos mentais inconscientes, os quais apenas deixariam de ser observados, caso algum cientista conseguisse provar que os mesmos não existissem.
Freud classificou as investidas da energia libidinal como sendo de duas formas e em dois momentos distintos. A primeira é completamente instintiva, visa somente à necessidade, nela não há nenhum mecanismo que torna possível à construção da subjetividade. A segunda aparece na transformação da primeira, dando origem à pulsão, não sendo mais apenas necessidade, mas desejo, e a partir do desejo funda-se a estrutura psíquica. O processo dessa construção acontece na medida em que as pulsões inconscientes repetem-se de tal forma que a energia libidinal da psique é vinculada à representação mental, direcionando o impulso para um fim predeterminado, numa catexia estruturante do Ego.
Aqui ainda pode-se observar uma proposta da psicanálise que tenta conciliar-se com a neurociência positivista do final do século XIX. A relação da Psicanálise com a Neurociência existe até os dias atuais. Muitas vezes evidenciam conflitos, outras, convergem conceitos. A discussão do século XIX está no fato de que no entendimento de que o Ego não comporta toda a estrutura da subjetividade, mas apenas uma parte, pois as investidas das pulsões, na maioria das vezes, não se tornam conscientes. Assim, uma quantidade significativa de conteúdo psíquico fica no inconsciente, objeto de estudo da psicanálise.
Na primeira publicação da Enciclopédia Britânica sobre a Psicanálise, Freud comenta o surgimento no contexto científico, explanando-a de forma bastante objetiva, mostrando em que consistia a abordagem psicanalítica. O artigo foi publicado na XI Edição da Encyclopedia Britannica, após a morte de Freud, escrito pelo próprio Freud, porém, modificado o estilo, cuja narração costumeira na primeira pessoa do singular foi substituída por uma narração de comentador, exigida pelo caráter da obra. Algumas considerações devem ser colocadas sobre o texto de Freud, pois segundo a Psicanalista Débora Búrigo1, o texto foi escrito no inicio das reflexões de Freud e abandonado por ele posteriormente, pois percebeu que a psicanálise não poderia coabitar com a ciência positivista. O que deve ser levado em consideração, pois demonstra que na sua evolução, a psicanálise modificou sua visão inicial, porém, o texto pode nos mostrar sua origem, seus conceitos mais básicos e iniciais.
CONCEITOS BÁSICOS DA PSICANÁLISE ENQUANTO PSICOTERAPIA
Freud, inicialmente, considerou que o princípio do prazer submete-se ao princípio da realidade, ou seja, a forma possível de satisfação do desejo, podendo até adiá-lo. A observação do princípio da realidade proposto por Freud, provoca a transferência (Se o prazer não pode ser vivenciado livremente, quando a realidade mostra-se como obstáculo à satisfação, o desejo tem que ser transferido de um objeto a outro), utilizado como mecanismo do processo psicoterapêutico. A transferência do desejo original por outro mais adequado à realidade, da origem a mais famosa dinâmica da estruturação da personalidade observada por Freud, o Complexo de Édipo (Tirado da mitologia grega antiga, em que Édipo mata seu pai sem saber e casa-se com sua mãe também sem saber. Utilizado por Freud para designar a relação do amor do menino com sua mãe). O desejo inicial da criança pela mãe é substituído, na medida em que estrutura-se o Ego, bloqueando as pulsões de desejo constituintes da subjetividade. A criança, ao perceber a impossibilidade da satisfação em relação a pessoa desejada, por conta da moral, transfere o desejo a outra pessoa. Um exemplo é a transferência do amor pela mão para o amor por outra mulher que lhe dê amparo e carinho, pois a transferência evidencia-se quando readequa-se o desejo original, substituindo a forma como o desejo é realizado. Podendo ser encontrada na relação terapêutica, necessariamente como parte indispensável do processo de cura.
A psicanálise entende que o desejo inicial, quando não encontra forma de ser realizado, passa a ser sublimado até poder moldar o desejo para tornar a transferência viabilizada, levando em consideração o princípio de realidade, tornando-se uma psicoterapia que observa esse processo de sublimação e transferência do desejo inicial (Édipo). Encontrando nessa organização do psiquismo e do organismo biológico uma homeostase necessária ao equilíbrio de todas as dimensões do humano, físicas, orgânicas e psíquicas. Nesse sentido, a psicanálise tem como finalidade devolver o equilíbrio que julga ser necessário ao psiquismo, sem o qual pode-se adoecer. Não tendo outra finalidade se não devolver a paz e o equilíbrio interior, curando os desequilíbrios, evidenciados pelo sofrimento dos sujeitos mediante o fluxo de energia libidinal inadequada.
INFLUÊNCIAS DO PENSAMENTO FREUDIANO NA CONTEMPORANEIDADE
Em Setembro de 2008, faz 69 anos da morte do homem que mais influenciou o pensamento ocidental. É difícil encontrar alguém que tenha seu pensamento tão vivo quando Freud. Reich e Jung, apesar das discordâncias, tiveram grande influência do pensamento freudiano. Reich se dedicou a linguagem corporal da personalidade, entendendo a sexualidade como ponto fundamental para compreensão da personalidade. Foi o criador de uma máquina para medir a energia orgástica. Chegou a ser o diretor do Seminário de Terapia Psicanalítica da Sociedade Psicanalítica de Viena entre 1924 a 1930. Mas Reich foi expulso do circulo intelectual psicanalítico por tornar-se comunista e expulso do partido comunista por ser psicanalista. A partir desse momento se distanciou dos psicanalistas e desenvolveu a psicologia corporal, porém de base psicanalítica. Jung, distanciou-se de Reich, ampliando a compreensão de Freud sobre o inconsciente. Sendo que para Freud o inconsciente era encarado como tão somente pessoal, enquanto Jung compreendeu-o como sendo também coletivo, portanto cultural. Desenvolvendo, a partir dessas reflexões uma compreensão da psique numa relação com arquétipos, símbolos e simbologias presentes no inconsciente coletivo, manifestas principalmente nos sonhos. Mesmo discordando do pensamento freudiano, não há dúvidas da importância que Freud teve para Jung. Importância reconhecida pelo próprio Jung na maturidade. Lacan foi a maior expressão da resistência ao reducionismo médico-psiquiátrico da psicanálise no pós-guerra. Para Lacan a Psicanálise não poderia ser reduzida à terapia, mas teria de estar nas discussões filosóficas, na literatura e na busca pela compreensão da sociedade.
A relação da psicanálise com a psiquiatria, deu origem a psicopatologia, enquanto nomenclatura e conceituação. A própria psicoterapia se estruturou a partir das conclusões de Freud. Após a Interpretação dos Sonhos, em 1890, a Psicanálise se espalhou rapidamente. Em 1907 foi fundada a Associação Vienense de Psicanálise e a Sociedade Freud em Zurique. Em menos de seis anos surgiram sociedades psicanalíticas em: Berlim, Budapeste, Londres, Nova York e Boston. Até 1926 foram criadas sociedades psicanalistas na Holanda, Suíça, Russa, Itália e Paris.
O movimento intelectual surrealista da década de 20 e 30 torna-se espaço de divulgação do pensamento freudiano, enquanto Gregory Zilborg divulgava os conceitos psicanalíticos de uma forma mais popular nos EUA. A partir desse momento a Psicanálise podia ser percebida nos romances e filmes americanos.
No Brasil, o pioneiro na divulgação do pensamento psicanalítico foi o médico psiquiátrico Juliano Moreira, professor da Universidade de Medicina da Bahia. Discutia conceitos da psicanálise em suas aulas desde 1899. Em 1929 foi fundada a Sociedade Brasileira de Psicanálise, cujo presidente escolhido foi Juliano Moreira. A mesma sociedade fundada em São Paulo teve como presidente o médico Franco da Rocha, fundador do Hospital Juqueri.
Durval Marcondes foi um grande divulgador do pensamento psicanalítico em São Paulo, concentrando esforços para a formação de psicanalistas no Brasil. Trouxe Adelheid Koch, primeiro psicanalista didático a atuar em solo brasileiro. Julio Porto-Carrero, foi um grande divulgador da teoria e o primeiro brasileiro a atuar como psicanalista.
O Ciclo Psicanalítico da Guanabara, mais tarde chamado de Circo Psicanalítico do Rio de Janeiro iniciou sua primeira turma em 1972, também orientou psicólogos na abordagem psicanalítica. Desde então a formação psicanalítica não para de ganhar novos terapeutas.
Na atualidade a formação psicanalítica está espalhada pelo país, nos institutos de formação e também é oferecida nas universidades, dentro dos cursos de psicologia. E sabemos que a prática continua chamando adeptos em todo Brasil. Significando que a sociedade ainda pode ser explicada pela teoria freudiana. Apesar da tentativa de superá-lo, Freud continua vivo entre nós. O que se pode dizer é que outras teorias emergiram e ganharam espaço por serem consideradas atuais e explicadoras dos fenômenos psíquicos das novas condições humanas no planeta. Mas isso não significa a superação total da psicanálise. Teremos de conviver com Freud ainda durante um bom tempo.
Sigmound Freud pode ser considerado o pensador da cultura. Nascido em 06 de Maio de 1856, na Áustria, faleceu em 23 de Setembro de 1939. Filho de pais judeus: Jacob e Analia, Freud ficou conhecido no Brasil pela frase que muitas vezes é utilizada em tom de brincadeira: “Freud explica!”. Na semana que comemoramos o seu falecimento, se faz necessário um tributo ao pensador que mais influenciou a cultura ocidental. Suas mais famosas conclusões sobre o processo de saúde e doença mental deram origem a Psicanálise. Mas Freud não se reteve a escrever apenas sobre o processo de subjetivação, escreveu sobre cultura, sociedade, religião, etc. A pergunta que nos propomos a discutir hoje é: O pensamento freudiano ainda é atual? Não foram poucos os pensadores que desafiaram Freud, elaborando as mais diversas críticas ao seu pensamento. Porém, a teoria freudiana continua encontrando espaço no bojo da sociedade contemporânea. O que nos leva a pensar que Freud ainda não foi superado, que sua teoria ainda responde aos anseios e dramas humanos.
O desenvolvimento da Psicanálise está atrelado a Sigmund Freud, sendo ela a expressão de sua obra. Desde menino demonstrou grande capacidade intelectual. Seu pai era rígido e autoritário, enquanto sua mãe mostrava-se amável e carinhosa. A relação estabelecida com seus pais influenciou sua teoria do Complexo de Édipo. Foi aluno brilhante em Liceu, graduando-se com 17 anos. Tinha grande interesse em estudar relações humanas, civilização, cultura e história militar. Estudou Medicina na Universidade de Viena a partir de 1873. Por querer realizar estudos em outras áreas, fez cinco cursos de filosofia com Brentano. Suas primeiras experiências foram realizadas no campo da biologia, pesquisando o testículo de quatrocentas enguias macho, também pesquisou a medula espinhal de peixes. Realizou ainda experiências com cocaína, usando-a. Chegou a conclusão de que a droga agia de forma positiva sobre a depressão. Nessas experiências Freud ofereceu cocaína a parentes e amigos, acabou sendo responsabilizado por ter disseminado a droga na sociedade, fama que não conseguiu se afastar durante toda a vida. Continuou usando cocaína por aproximadamente 10 anos.
A amizade de Freud com o médico Josej Breuer contribuiu significativamente com o surgimento da Psicanálise. Freud recebeu de Breuer, não apenas conselhos, amizade, mas também dinheiro emprestado. Breuer e Freud discutiam os pacientes, dentre eles Ana O., caso fundamental para o desenvolvimento da Psicanálise. Breuer atendeu Ana O. durante um ano, todos os dias. Dessas consultas concluiu e compartilhou com Freud o fato de usar a hipnose para Ana O. falar sobre suas angustias, percebendo que ao relembrá-las podia diminuir suas aflições ou mesmo esquecê-las. O rompimento da amizade entre ambos se deu diante da compreensão de Freud sobre a dimensão sexual como sendo a única responsável pelos desvios da personalidade, enquanto Breuer entendia como somente uma das causas. Mas foram as pesquisas e discussões que compartilharam que deu origem a Psicanálise.
Freud estabeleceu o chão de onde a psicanálise partiu, compreendendo os fenômenos subjetivos a partir da libido, energia que dá origem a personalidade, a partir da sexualidade. Porém, percebeu diferença entre a dimensão biológica da sexualidade e sua dimensão psíquica, compreendendo que existe algo da sexualidade que não é biológico, portanto, não está relacionado com a reprodução. Nesse sentido, a Psicanálise colocou-se na contramão da ciência positivista, pois estabeleceu um novo princípio, a energia libidinal, instintiva, portanto, inconsciente. A personalidade passou a ser entendida por Freud como possível de se desenvolver a partir do momento em que a criança consegue fantasiar entre o desejo e a satisfação. Dessa forma, a razão não era o princípio para entender a subjetividade e sim o desejo. Partindo dele emerge a fantasia e com ela a personalidade.
OS FUNDAMENTOS DA PERSONALIDADE SEGUNDO FREUD
Antes de discorrer sobre a Psicanálise, devo esclarecer alguns pontos fundamentais, pois a partir da compreensão desses conceitos poderemos compreender melhor o pensamento freudiano. Primeiramente, a Psicanálise entende a estrutura psíquica a partir de duas dimensões: inconsciente, contendo conteúdos reprimidos pela consciência que pode levar a desestrutura da personalidade, acessível nos sonhos; consciência, a estrutura racional, lógica, contendo os pensamentos organizados. Secundariamente, Freud entende que existe um dinamismo de componentes que existem na relação do inconsciente com a consciência, chamados: ID, EGO e SUPER EGO. O ID é a estrutura mais básica da personalidade, representando a libido, na sua maior parte inconsciente. É a partir do ID que a personalidade se forma. EGO está relacionado com a consciência, o Eu de cada um de nós. O SUPER-EGO está relacionado com a moral e se estrutura a partir da cultura e relações sociais de poder.
Quando Freud tentou mostrar que as pulsões da libido ficam numa das estruturas do aparelho psíquico chamado ID, sendo sua maior parte inconsciente, sofreu objeções dos cientistas do século XIX, que se mostraram completamente contrários as suas conclusões.
Assim, Freud fundamentou sua hipótese, da qual não se desviou, apontando a existência de processos mentais inconscientes, os quais apenas deixariam de ser observados, caso algum cientista conseguisse provar que os mesmos não existissem.
Freud classificou as investidas da energia libidinal como sendo de duas formas e em dois momentos distintos. A primeira é completamente instintiva, visa somente à necessidade, nela não há nenhum mecanismo que torna possível à construção da subjetividade. A segunda aparece na transformação da primeira, dando origem à pulsão, não sendo mais apenas necessidade, mas desejo, e a partir do desejo funda-se a estrutura psíquica. O processo dessa construção acontece na medida em que as pulsões inconscientes repetem-se de tal forma que a energia libidinal da psique é vinculada à representação mental, direcionando o impulso para um fim predeterminado, numa catexia estruturante do Ego.
Aqui ainda pode-se observar uma proposta da psicanálise que tenta conciliar-se com a neurociência positivista do final do século XIX. A relação da Psicanálise com a Neurociência existe até os dias atuais. Muitas vezes evidenciam conflitos, outras, convergem conceitos. A discussão do século XIX está no fato de que no entendimento de que o Ego não comporta toda a estrutura da subjetividade, mas apenas uma parte, pois as investidas das pulsões, na maioria das vezes, não se tornam conscientes. Assim, uma quantidade significativa de conteúdo psíquico fica no inconsciente, objeto de estudo da psicanálise.
Na primeira publicação da Enciclopédia Britânica sobre a Psicanálise, Freud comenta o surgimento no contexto científico, explanando-a de forma bastante objetiva, mostrando em que consistia a abordagem psicanalítica. O artigo foi publicado na XI Edição da Encyclopedia Britannica, após a morte de Freud, escrito pelo próprio Freud, porém, modificado o estilo, cuja narração costumeira na primeira pessoa do singular foi substituída por uma narração de comentador, exigida pelo caráter da obra. Algumas considerações devem ser colocadas sobre o texto de Freud, pois segundo a Psicanalista Débora Búrigo1, o texto foi escrito no inicio das reflexões de Freud e abandonado por ele posteriormente, pois percebeu que a psicanálise não poderia coabitar com a ciência positivista. O que deve ser levado em consideração, pois demonstra que na sua evolução, a psicanálise modificou sua visão inicial, porém, o texto pode nos mostrar sua origem, seus conceitos mais básicos e iniciais.
CONCEITOS BÁSICOS DA PSICANÁLISE ENQUANTO PSICOTERAPIA
Freud, inicialmente, considerou que o princípio do prazer submete-se ao princípio da realidade, ou seja, a forma possível de satisfação do desejo, podendo até adiá-lo. A observação do princípio da realidade proposto por Freud, provoca a transferência (Se o prazer não pode ser vivenciado livremente, quando a realidade mostra-se como obstáculo à satisfação, o desejo tem que ser transferido de um objeto a outro), utilizado como mecanismo do processo psicoterapêutico. A transferência do desejo original por outro mais adequado à realidade, da origem a mais famosa dinâmica da estruturação da personalidade observada por Freud, o Complexo de Édipo (Tirado da mitologia grega antiga, em que Édipo mata seu pai sem saber e casa-se com sua mãe também sem saber. Utilizado por Freud para designar a relação do amor do menino com sua mãe). O desejo inicial da criança pela mãe é substituído, na medida em que estrutura-se o Ego, bloqueando as pulsões de desejo constituintes da subjetividade. A criança, ao perceber a impossibilidade da satisfação em relação a pessoa desejada, por conta da moral, transfere o desejo a outra pessoa. Um exemplo é a transferência do amor pela mão para o amor por outra mulher que lhe dê amparo e carinho, pois a transferência evidencia-se quando readequa-se o desejo original, substituindo a forma como o desejo é realizado. Podendo ser encontrada na relação terapêutica, necessariamente como parte indispensável do processo de cura.
A psicanálise entende que o desejo inicial, quando não encontra forma de ser realizado, passa a ser sublimado até poder moldar o desejo para tornar a transferência viabilizada, levando em consideração o princípio de realidade, tornando-se uma psicoterapia que observa esse processo de sublimação e transferência do desejo inicial (Édipo). Encontrando nessa organização do psiquismo e do organismo biológico uma homeostase necessária ao equilíbrio de todas as dimensões do humano, físicas, orgânicas e psíquicas. Nesse sentido, a psicanálise tem como finalidade devolver o equilíbrio que julga ser necessário ao psiquismo, sem o qual pode-se adoecer. Não tendo outra finalidade se não devolver a paz e o equilíbrio interior, curando os desequilíbrios, evidenciados pelo sofrimento dos sujeitos mediante o fluxo de energia libidinal inadequada.
INFLUÊNCIAS DO PENSAMENTO FREUDIANO NA CONTEMPORANEIDADE
Em Setembro de 2008, faz 69 anos da morte do homem que mais influenciou o pensamento ocidental. É difícil encontrar alguém que tenha seu pensamento tão vivo quando Freud. Reich e Jung, apesar das discordâncias, tiveram grande influência do pensamento freudiano. Reich se dedicou a linguagem corporal da personalidade, entendendo a sexualidade como ponto fundamental para compreensão da personalidade. Foi o criador de uma máquina para medir a energia orgástica. Chegou a ser o diretor do Seminário de Terapia Psicanalítica da Sociedade Psicanalítica de Viena entre 1924 a 1930. Mas Reich foi expulso do circulo intelectual psicanalítico por tornar-se comunista e expulso do partido comunista por ser psicanalista. A partir desse momento se distanciou dos psicanalistas e desenvolveu a psicologia corporal, porém de base psicanalítica. Jung, distanciou-se de Reich, ampliando a compreensão de Freud sobre o inconsciente. Sendo que para Freud o inconsciente era encarado como tão somente pessoal, enquanto Jung compreendeu-o como sendo também coletivo, portanto cultural. Desenvolvendo, a partir dessas reflexões uma compreensão da psique numa relação com arquétipos, símbolos e simbologias presentes no inconsciente coletivo, manifestas principalmente nos sonhos. Mesmo discordando do pensamento freudiano, não há dúvidas da importância que Freud teve para Jung. Importância reconhecida pelo próprio Jung na maturidade. Lacan foi a maior expressão da resistência ao reducionismo médico-psiquiátrico da psicanálise no pós-guerra. Para Lacan a Psicanálise não poderia ser reduzida à terapia, mas teria de estar nas discussões filosóficas, na literatura e na busca pela compreensão da sociedade.
A relação da psicanálise com a psiquiatria, deu origem a psicopatologia, enquanto nomenclatura e conceituação. A própria psicoterapia se estruturou a partir das conclusões de Freud. Após a Interpretação dos Sonhos, em 1890, a Psicanálise se espalhou rapidamente. Em 1907 foi fundada a Associação Vienense de Psicanálise e a Sociedade Freud em Zurique. Em menos de seis anos surgiram sociedades psicanalíticas em: Berlim, Budapeste, Londres, Nova York e Boston. Até 1926 foram criadas sociedades psicanalistas na Holanda, Suíça, Russa, Itália e Paris.
O movimento intelectual surrealista da década de 20 e 30 torna-se espaço de divulgação do pensamento freudiano, enquanto Gregory Zilborg divulgava os conceitos psicanalíticos de uma forma mais popular nos EUA. A partir desse momento a Psicanálise podia ser percebida nos romances e filmes americanos.
No Brasil, o pioneiro na divulgação do pensamento psicanalítico foi o médico psiquiátrico Juliano Moreira, professor da Universidade de Medicina da Bahia. Discutia conceitos da psicanálise em suas aulas desde 1899. Em 1929 foi fundada a Sociedade Brasileira de Psicanálise, cujo presidente escolhido foi Juliano Moreira. A mesma sociedade fundada em São Paulo teve como presidente o médico Franco da Rocha, fundador do Hospital Juqueri.
Durval Marcondes foi um grande divulgador do pensamento psicanalítico em São Paulo, concentrando esforços para a formação de psicanalistas no Brasil. Trouxe Adelheid Koch, primeiro psicanalista didático a atuar em solo brasileiro. Julio Porto-Carrero, foi um grande divulgador da teoria e o primeiro brasileiro a atuar como psicanalista.
O Ciclo Psicanalítico da Guanabara, mais tarde chamado de Circo Psicanalítico do Rio de Janeiro iniciou sua primeira turma em 1972, também orientou psicólogos na abordagem psicanalítica. Desde então a formação psicanalítica não para de ganhar novos terapeutas.
Na atualidade a formação psicanalítica está espalhada pelo país, nos institutos de formação e também é oferecida nas universidades, dentro dos cursos de psicologia. E sabemos que a prática continua chamando adeptos em todo Brasil. Significando que a sociedade ainda pode ser explicada pela teoria freudiana. Apesar da tentativa de superá-lo, Freud continua vivo entre nós. O que se pode dizer é que outras teorias emergiram e ganharam espaço por serem consideradas atuais e explicadoras dos fenômenos psíquicos das novas condições humanas no planeta. Mas isso não significa a superação total da psicanálise. Teremos de conviver com Freud ainda durante um bom tempo.
Assinar:
Postagens (Atom)